A mais recente onde de calor levou a que tivessem sido atingidos 47 Celsius na estação meteorológica do Pinhão. Registou-se assim, a 13 de julho de 2022, o quinto dia mais quente nos últimos 23 anos.

Segundo o investigador Pedro Matos Soares da Faculdade de Ciências de Lisboa a situação pode evoluir para um cenário onde Portugal poderá registar 10 ondas de calor por ano face ao cenário atual de 2 ondas por ano.

Perante a dimensão dos efeitos provocados pelas alterações climáticas será difícil que os meios de combate aos incêndios possam diminuir o impacto avassalador que o país sofre com a área ardida.

Portanto, neste cenário, o ato responsável e inteligente será alocar meios para evitar os fogos porque, lembrando Desiderius Eramus, “a prevenção é melhor que a cura”.

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As políticas para prevenir os incêndios deveriam existir na reforma da floresta que António Costa prometeu, mas que infelizmente falhou e não “chegou ao terreno” tal como afirmou Luís Montenegro.

É a ausência de resultados dessa reforma que explica o enorme empenho de comunicação por parte do governo. Ou seja, o Primeiro-Ministro sente a grande a necessidade de criar a ilusão de que o governo está a fazer tudo o que pode para combater os incêndios. Quando na realidade fez muito pouco do que podia, e devia, para os evitar.

É uma evidência: António Costa não é um Primeiro-Ministro de reformas, percebe-se que sempre considerou que a sua tarefa era essencialmente eleitoral.

Não existiram desenvolvimentos no ordenamento do território, ordenamento da paisagem ou intervenções relativas à gestão integrada do espaço rural. Estes eram apenas alguns dos instrumentos que foram aprovados no Conselho de Ministros em março de 2021, e para os quais o governo não tem resultados.

E nos últimos seis anos de governo socialista não existiram iniciativas nesta área. Temas como o cadastro das florestas ou a desertificação do interior nunca foram abordados. E caso tivessem sido ajudariam a prevenir incêndios.

Apesar de não ter existido um pacto do PS com PCP e BE sobre a floresta, a verdade é que a atual maioria absoluta do PS dispensa a necessidade de qualquer pacto e tem a obrigação de responder às necessidades com um plano.

Foram necessários quatro anos depois da “tragédia de Pedrogão” para o país ver um “esboço de plano”. O governo anunciou em 2021 uma verba para a realização do cadastro. Ou seja, para saber que parte da floresta é pública e privada, e depois a que privados pertencem. É um trabalho que começa tarde e só começa agora porque, caso contrário, é impossível aproveitar a totalidade da verba do Plano de Recuperação e Resiliência para a transformação da floresta.

Sublinhe-se que esta componente de Florestas do Plano de Recuperação e Resiliência foi construída e apresentada pelo Ministério do Ambiente e Ação Climática. Quando é incontornável abordar o tema da desertificação do interior caso se queira realizar a transformação da floresta. Este foi um programa apresentado em 2021 por António Costa e pelo ministro do ambiente na Pampilhosa da Serra, em que o Primeiro-Ministro não considerou relevante a presença da Ministra da Coesão Territorial.

O combate à desertificação do interior é incontornável numa reforma da floresta. Não só a densidade populacional no interior do país é baixa, como a maioria da população que ainda reside está envelhecida.

E qualquer política para o interior não pode ignorar que só haverá povoamento nestas regiões se existir economia. Uma ideia difícil materializar num país onde o PS considera que o governo deve ser o motor da economia e onde esse mesmo governo não promoveu nenhum dinamismo económico significativo que conduzisse à inversão da atual situação na exploração floresta que continua muito aquém do seu potencial.

“Só não há incêndios se a mãozinha humana não provocar incêndios”, afirmou António Costa. A verdade é que haverá sempre muito mais incêndios se o governo não “tiver mão” na prevenção.