O Primeiro Ministro, António Costa, mostrou-se indignado com Joe Berardo. Afirmou, num debate parlamentar: “Acho que o país está seguramente todo chocado com o desplante que o senhor Joe Berardo respondeu na semana passada na Assembleia da República.” A maioria dos portugueses estará certamente chocada, ou pelo menos aqueles que ainda se chocam, mas duvido que o PM e o seu partido tenham aprendido devidamente as lições do que se passou com Berardo.
Até 2005, Berardo era um empresário como muitos outros. Tinha sobretudo sucesso na Madeira, mas estava longe de ser uma figura nacional. Durante o governo socialista de Sócrates, desenvolveu os contactos certos entre os próximos do então PM, especialmente com Armando Vara. Rapidamente, transformou-se num ‘empresário’ disponível para ajudar as estratégias do governo socialista para intervir na economia, escolhendo os seus aliados e derrotando os outros. O caso de maior visibilidade foi o papel desempenhado por Berardo, aliado ao governo, para tomarem o poder no BCP. Para isso, a Caixa Geral de Depósitos, administrada pelos amigos de Sócrates, emprestou dinheiro a Berardo. Com esses créditos, o “empresário de sucesso” comprou ações no BCP, tornando-se um acionista com capacidade para ajudar a contruir maiorias no Conselho de Administração do banco. Essas maiorias votaram de acordo com os interesses do governo.
As suas dívidas à banca, que agora tanto indignam os portugueses e o actual PM, são a herança desse capitalismo de Estado implementado pelo mesmo partido que está agora no governo. O problema é muito mais grave do que Berardo. O verdadeiro problema foi a aliança entre o governo e empresários para intervirem no sector privado de acordo com os interesses do PM José Sócrates e dos seus camaradas socialistas. Se António Costa está mesmo chocado, o que deve fazer é prometer aos portugueses que o seu partido nunca mais praticará o tipo de capitalismo de Estado que definiu os governos do seu antecessor José Sócrates. Está Costa preparado para o fazer?
Enquanto houver capitalismo de Estado haverá sempre ‘Berardos’ para se aliarem ao governo. No passado foi o Joe, amanhã será o ‘José’ ou o ‘Manuel’. Quando o governo socialista de Sócrates precisou de Berardo, ajudou-o em tudo. Agora que o empresário caiu em desgraça, o PM socialista está “chocado”. Estar chocado não chega. O problema foi o capitalismo de Estado. Não estou seguro que o PS tenha aprendido a lição.
E já agora se António Costa tivesse a grandeza de um verdadeiro homem de Estado, reconheceria o contributo fundamental que o governo de Passos Coelho deu para se combater as piores prácticas do capitalismo de Estado herdadas do governo de Sócrates. Hoje Costa pode chocar-se com Berardo porque houve uma troika e um governo entre 2011 e 2015 que quis tornar o capitalismo português mais decente e subordinado a regras. E sobretudo acabar com o capitalismo de alianças e esquemas entre o governo de Sócrates e os seus empresários favoritos, entre eles Joe Berardo.