No mês passado, iniciei uma aula:

– Vamos ler a página…

– Ler? – pergunta um aluno muito admirado.

– Sim, ler – respondi eu.

– Na escola, o que se faz? – perguntei eu.

A leitura e interpretação de textos é uma das grandes fragilidades na disciplina de Matemática, a seleção de informação é um pilar basilar para o trabalho na área.

Na resolução de problemas, a leitura e interpretação de textos e seleção de informação, permite a descodificação dos conteúdos na disciplina.

Já percebi que algumas pessoas  pensam que a Matemática é uma disciplina do género da Educação Física, é preciso praticar como um ato de repetição, mas não é.

Para o aluno conseguir analisar esquemas ou gráficos, deve ler e estudar as variáveis em causa.  O mito urbano que o bom aluno na disciplina de Matemática não é bom aluno na disciplina de Português é um engano. Os bons alunos na disciplina de Matemática devem ter raciocínio lógico dedutivo e capacidade de interpretação de textos, para conseguirem trabalhar, por exemplo, na resolução de problemas.

A tentativa de facilitar o trabalho do aluno, nomeadamente projectar os powerpoint com a sistematização dos conteúdos, foi, e olhando para trás, um erro. O aluno perdeu o hábito de ler e, sem a leitura, não existe conhecimento.

Os alunos têm dificuldade em sistematizar o conteúdo da página do manual, é difícil para eles  ler e retirar o essencial do tema, apesar das palavras chave estarem a negrito.

Se isto é mau? Não, é desesperante. Tenho de ler os enunciados, explicar o que é preciso realizar e, mesmo assim, ouço:

– Não percebo.

A promoção de literacias múltiplas, tais como a leitura e a escrita também a numeracia, são alicerces para que as aprendizagens de todas as disciplinas seja uma realidade, e assim, desenvolver a Escola do futuro.

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Apesar de alguns arautos anunciarem o fim do manual em papel, considero que nada o substitui. Nem o manual em papel, nem a biblioteca.

Se, por um lado, andámos séculos com os livros, anunciámos que os livros são importantes desde a primeira infância, por outro queremos substituir os livros por componentes digitais.

Além da leitura, a escrita é muito importante, o nosso cérebro e sistema nervoso periférico adquirem a memória da escrita, tal como quando aprendemos a andar de bicicleta, o corpo adquire a memória do equilíbrio e do movimento.

Com a escrita manual, o aluno  adquire a chamada motricidade fina, e aptidões de concentração, memória e organização.

Só de olhar para o caderno de um aluno, já sei quais são as competências que este aluno irá ter no seu futuro.

Por vezes, revejo o meu passado quando olho o caderno de um aluno, que parece a segunda guerra. Esse aluno, é um criativo, poderá trabalhar nas áreas das ciências, inovação e investigação, o seu cérebro trabalha mais rápido do que a mão com a caneta.

Um aluno com uma motricidade fina bem desenvolvida poderá ser um cirurgião, enfermeiro, arquiteto, engenheiro, estilista, trabalhar na área da costura. Estes alunos têm um caderno bem organizado.

Também tenho alunos que não têm caderno.

Em conclusão: Embora esteja anunciado o fim da caneta e do papel, considero que estão iludidos. As tecnologias estão a entrar em força na educação mas nada substitui o livro, a caneta e o papel.