A VIII Convenção Nacional da Iniciativa Liberal, que decorreu em Santa Maria da Feira, foi, ao contrário do que algumas vozes já disseram, mesmo desde o púlpito, um momento de construção, de elevada discussão política e de afirmação e consolidação do liberalismo em Portugal.

Há quem não goste de discutir Estatutos e entenda mesmo que essa discussão é uma inutilidade, porque não permite ganhar um voto que seja.

Talvez esses entendam que uns Estatutos devem ser revelados por um qualquer profeta iluminado aos demais e comuns membros, tal como Moisés recebeu de Deus as tábuas com os 10 Mandamentos e os ofereceu à tribo, que os acolheu e passou a reverenciar religiosamente.

Só que não é assim que as coisas funcionam. Tudo decorre do Estado de Direito e da Lei. Os Estatutos têm de ser discutidos e aprovados em plenário de membros, e assim aconteceu.

Para que a IL se concentrasse na luta pela conquista de votos, e perante a catadupa de eleições que ocorreram nos últimos meses, os liberais – e bem, na minha opinião – adiaram a Convenção estatutária para depois do último de uma longa série de actos eleitorais.

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Agora, foi o tempo. A Convenção Estatutária que se realizou em Santa Maria da Feira tinha de se realizar, foi marcada para discutir e votar os Estatutos, e quem acha que os membros não devem participar nesta discussão e validar a opção a seguir talvez não seja tão liberal quanto pensa.

Se uma das propostas de revisão global não conseguiu sequer reunir os votos de uma maioria dos membros presentes, a outra, proveniente do Grupo de Trabalho Estatutário (GTE), conseguiu uma maioria (mais de 50%) dos votos, mas falhou os necessários dois terços (66,7%).

Quem discordou de uma ou de outra proposta, conseguiu fazê-lo de forma edificante, ao mesmo passo que defendia a “sua dama”. E, no fim, nesta discussão Estatutária, há mesmo quem tenha vencido.

Aqueles que defenderam o “Não, Não”. Não à proposta “Estatutos + Liberais” (na minha opinião, uma proposta meritória, mas com alguns, graves, problemas). Não à proposta do GTE, porque, permitindo que a IL ficasse dotada de uns Estatutos melhores, recusou dar aos membros a possibilidade de serem estes a escolher, de forma soberana (e ainda que fosse apenas na “especialidade”) sobre dois pontos essenciais: segunda volta e fim do direito a voto da Comissão Executiva no Conselho Nacional.

Se tivesse havido abertura do GTE para levar esta discussão e votação à Convenção, para decisão dos membros, estou absolutamente convencido de que muitos dos que foram ao púlpito dizer “Não, Não”, teriam antes apoiado a proposta do GTE, e esta teria muito maiores possibilidades de conseguir dois terços dos votos.

Foi uma teimosia, que deriva de uma por vezes quase doentia necessidade de tudo controlar. A Democracia é lixada, e entre Liberais é ainda mais, porque somos mais livres que os outros, no pensamento e acção. Por isso, aliás, somos liberais.

Para que a IL possa ter, de facto, uns Estatutos melhores, deixo o desafio de que o processo seja reaberto em breve, que haja diálogo, negociação e compromisso. Boa parte do trabalho já está feito. Permitam aos membros decidir se querem segunda volta e fim do direito a voto da CE no Conselho Nacional, e tenho a certeza de que, se isto for levado à Convenção de Janeiro de 2025, vamos ter novos Estatutos, aprovados de forma fácil e sem grandes discussões.

Já o segundo dia de Convenção, dedicado à apresentação e discussão do Programa Político, foi absolutamente maravilhoso e lançou as bases para a IL poder conquistar muitos mais votos.

A preleção de André Abrantes Amaral foi fabulosa. Serena, consistente, interessante, didática, revigorante. Para os que não puderam assistir, fica a recomendação de que o façam aqui.

Um discurso que inspira e que nos vai permitir a todos, liberais, se usarmos estes ensinamentos, conquistar mais simpatizantes, mais membros e mais votos.

O novo Programa Político é excelente. Suficientemente amplo e aberto para que nele se possam rever os “liberais em toda a linha” e, mais importante ainda, para que nele caibam todas as diferentes linhas de liberais, que têm de encontrar na IL a sua casa política. Todos diferentes, todos liberais.

Convido todos, liberais, ou não, a fazer download do novo Programa Político, a lê-lo atentamente, porque ele permite perceber que a IL é o único partido com capacidade para imaginar um País melhor, mais livre e mais próspero, e que tem as ideias certas e a energia para o conseguir.

Termino este texto citando, não de forma inocente, Lenine. “A liberdade é uma coisa tão preciosa que devia ser racionada.” Felizmente, na Iniciativa Liberal, somos liberais, e Lenine não “risca” nada entre nós.