Há dias discutia com amigos a necessidade de haver ou não validadores de verdade sobre o que é escrito online. Uma espécie de “polígrafos” de tempo real, que nos descansariam sobre quem diz ou não verdade.

Importa relembrar o significado de liberdade, usando uma ferramenta simples, mas com vários anos de história, por exemplo através do dicionário da Porto Editora, onde é referido como a “condição do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza” e o “direito que qualquer cidadão tem de agir sem coerção ou impedimento, segundo a sua vontade, desde que dentro dos limites da lei”. Podemos ainda reforçar estas definições com a análise da origem da palavra, nomeadamente do grego eleutheria, que quer dizer “poder”, ou do latim libertas, que significa “independência”.

Ora, diziam-me os meus amigos, “é preciso que haja alguém que limpe as barbaridades, ofensas e falsidades que se dizem perante factos existentes”, acrescentando que “hoje, as ferramentas e plataformas disponíveis desequilibram a seriedade” ou que “nem todas as pessoas têm a capacidade de entenderem , acreditando em tudo o que lhes é vinculado”. Acrescento eu, quantos de nós não ouvimos “está lá na internet”, como se de um Santo Graal se tratasse.

A primeira pergunta que se impõe é: mas falsidades e ofensas, mentiras e incapacidade de discernimento só existem hoje no mundo digital?

Obviamente que não! Desde a Antiga Roma, passando pelos Descobrimentos, tal como na forma como vários serviços de informação atuam em ambientes geoestratégicos e políticos, ou mesmo nalguns princípios pouco éticos onde várias empresas atuaram a nível empresarial no século passado (e mesmo neste), a desinformação mais agressiva ou mais suave, mais coletiva ou mais individualizada é e sempre foi utilizada.

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Garantir que a simplicidade de assumir que a “minha” liberdade vai até ao momento em que entramos na liberdade do outro é fundamental. Isto é válido também, na forma como quando se quiser, isto é, quando se quer inclinar um jogo com regras específicas “à nossa maneira”, nomeadamente, fazer calar as vozes por mais absurdas, mentirosas ou caluniosas de uma forma autoritária ou totalitária, entramos na liberdade do outro. Em termos práticos, atuações pela força que são realizadas por incapacidade de vencer nas ideias e influência, ou pelo cumprimento das regras legais.

Desde sempre houve informação e desinformação. A principal diferença é que hoje existe um mundo digital, que nos traz uma velocidade de disseminação (próxima) de tempo real e com uma enorme amplitude. Para além de se criarem os efeitos de rede, amplamente estudados, ao nível do impacto que as plataformas desta nova era de transformação digital trouxeram. E é aqui que está um dos centros da discussão – há que saber gerir e comunicar, mas com argumentos e consistência, como forma de garantir também o equilíbrio do efeito de rede das ideias.

Uma ideia, uma imagem ou um negócio importa saber comunicar. E são aqueles que o sabem fazer neste mundo digital, muito mais mediatizado, que melhor conseguirão passar as suas mensagens, quer sejam boas ou más.

Quando vejo várias tendências a quererem calar vozes extremistas à força, mesmo que estas não tenham incumprido qualquer legalidade, apenas porque têm um “sound byte” simples e harmonioso, assusta-me, pois tal reflete incompetência e incapacidade de ser e fazer melhor. Revela incompetência pelo simples facto de não terem argumentos, em muitas situações por culpa própria de danos irreparáveis que fizeram aos seus clientes ou cidadãos.

Ser e fazer melhor é voltar aos princípios da ética, da responsabilidade e da consistência, assumindo os erros cometidos, mas fazendo melhor, nomeadamente, desmontando todos os argumentos dos mais incoerentes.

Quem se diz de liberdade, como muitos se dizem, deve assumir esse valor como imutável e não quando apenas lhe dá jeito. Liberdade é também ter a liberdade digital e saber criar a sua ideia e voz no mundo digital.