Segundo relata o Observador, o governo  e o PSD foram apanhados de surpresa pela posição “radical e inflexível” tomada por Pedro Nuno Santos na reunião com Luís Montenegro sobre o Orçamento na sexta feira passada

Não se compreende esta surpresa com a posição radical de PNS, nem a fé que havia no bom sucesso da estratégia seguida de apostar no PS para a viabilização do Orçamento de Estado.

Nas legislativas o PS ficou quase a par da AD, e no continente ficou mesmo à frente do PSD; PNS ganhou as eleições europeias; PNS está à frente na sondagem da Intercampus de Setembro… Por isso PNS e o aparelho do PS podem alimentar esperanças de “ganhar” eleições legislativas antecipadas, caso ocorram

Até porque PNS, com a posição que tomou pode crescer à custa do eleitorado do BE, Livre e PAN… E Montenegro retomou a tese de que governa o mais votado.

PNS declarou guerra ao PS  “costista” e por isso, para sobreviver, no PS, precisa de se afirmar e de ganhar. Nunca poderia ser muleta de Montenegro por dois anos.

Afirma-se como o líder da esquerda se houver eleições e os votos a que olha são os do BE, do Livre e do PCP para quem se irá apresentar como o líder da Esquerda que não cede à “direita dos interesses” . E se tiver nisto sucesso poderá ficar à frente da AD (embora provavelmente sem maioria que lhe permita governar)

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Por outro lado, também ganha se Montenegro ceder.

Ganha ainda, se com isto Montenegro, para evitar eleições, vier a ter que fazer uma aliança com Ventura. Ganha o estatuto de único líder da oposição e ganha tempo para fazer os seus estados gerais e preparar o PS de facto para vir a ser um governo no futuro e a Alternativa da Esquerda (engolindo o eleitorado do BE e do Livre) e livra-se da maçada, e custo político, de resolver os problemas do estado em que o PS deixou o Estado… Aliás, foi este o projeto que apresentou na noite das eleições legislativas.

Luís Montenegro tem sido um condutor político extremamente hábil e empenhado mas meteu-se por um atalho que não tem saída.

Depois de muitas manifestações tremendistas, e com toda a razão, sobre o País ter que ir novamente a eleições  ou sobre governar em duodécimos: “Crise Política”, “execução do PRR em causa”, “reformas em causa”, ”aumentos postos em causa”, “país parado”… e do Presidente da Assembleia da República, Aguiar Branco, vir dizer que os eleitores votaram por uma legislatura de quatro anos e não compreenderiam  terem de ir novamente a eleições… no fim do dia Marcelo e Montenegro são os únicos responsáveis pela atual situação, ao optarem, atropelando os princípios elementares de um regime democrático, por um Governo suportado em apenas 28% dos votos. Não, não é verdade que a maioria dos portugueses tenha votado neste governo da AD como Montenegro repetidamente faz parecer crer. 72% não votaram.

E até, se existe uma maioria à direita, ele só existe com os votos que o Chega foi buscar à abstenção e à esquerda.

Agora Marcelo e Montenegro têm que decidir se querem crise política e eleições, apesar de todas as calamidades que andaram a apregoar, ou se querem respeitar o sentido do voto de todos os que em março votaram contra o regime socialista e deram ao centro direita e à direita uma larga maioria; se preferem um acordo de governo entre o PSD e Chega…

A haver agora eleições elas serão apenas da responsabilidade de Marcelo e Montenegro. Quer pela opção muito pouco democrática que ambos fizeram por um Governo muito minoritário, quer pela teimosia das linhas vermelhas que inventaram e que até nunca foram a votos no PSD.

Em 1978 , Soares, quando viu o seu Governo derrubado pelo chumbo de uma moção de confiança, a seguir fez um Governo de Coligação com o CDS com o apoio de mais de 50% da AR. Sem que se tivesse de ir a eleições.

Montenegro tem que decidir se quer manter as linhas vermelhas. E sobretudo tem que ouvir o PSD sobre se o PSD quer manter as linhas vermelhas ou ir a eleições.

Marcelo tem que refletir se quer promover, ou pelo menos aceitar, um Governo resultante dos partidos à direita que garanta mais de 50% da AR e a estabilidade e capacidade reformista, ou se apesar de todos os seus avisos catastróficos prefere assumir a responsabilidade de dissolver a AR e convocar eleições.

Se quer ser o PR com três dissoluções no currículo… Se quer deixar o País numa profunda crise política, económica e social… se quer que a única maioria possível seja a que eleger o próximo Presidente da República…