Confúcio disse: “Errar e não mudar: isso é errar.”1 Será mudar… algo de radical2? E será repetir o mesmo erro3 sinal moderação4? Ou, tentar mudar para melhor… extremismo5? Ou não será que é repetir sempre o mesmo erro que é verdadeiro radicalismo?

Depois de múltiplos casamentos falhados com o socialismo, com os concomitantes abusos6, roubos, dependência e miséria a que foram submetidos, os argentinos decidiram-se por um mais um divórcio ao eleger Javier Milei para presidente. Assim que a possível eleição de Milei ganhou alguma verosimilidade, o comentariado nacional foi lesto em o classificar como “radical”.

Mas será que Milei propõe algo de novo, de extremista, ou que nunca tenha sido tentado? Ou será que as políticas que ele agora propõe para a regeneração da sua nação não foram já múltiplas vezes testadas com sucesso em vários países? E defendidas por políticos moderados do séc. 19 ao 21 como Gladstone e Reagan, Thatcher e Abbott? Políticas que assentam na limitação do estado & na emancipação dos cidadãos, nomeadamente através:

  1. Da restrição da ação do estado àquelas atividades que só este tem capacidade e legitimidade para exercer, como a defesa nacional, a justiça, a ordem interna e as obras públicas, bem como com a reversão de todas as outras atividades, como a educação, saúde, pensões de velhice e apoio às artes para a esfera de entidades intermédias. Este princípio, conhecido como subsidiariedade, não é especialmente novo nem radical. No nosso país é tão recente como a revolução liberal de 1820. O seu radicalismo é em grau semelhante ao da doutrina social da Igreja, proposta defendida por radicais do teor de Leão XIII e João Paulo II.
  2. Da limitação da despesa (i.e., desperdício & peculato7) pública, dos impostos, dos déficits & da dívida estatal, deixando mais recursos para os indivíduos, famílias e associações fazer o que lhes dá na gana com o seu rendimento, atividades entre as quais está a prática da solidariedade social. Até um votante médio do ps facilmente concorda hoje em dia com Reagan: “O problema não é que as pessoas paguem poucos impostos, o problema é que o governo gasta demasiado.” Onde está, nesta área, o radicalismo de Milei?
  3. Da eliminação da regulamentação excessiva, burocrática & completamente inútil para a defesa do bem estar social, regulamentação que no nosso país, tal como na Argentina, requer a habilidade de agentes especializados para ser contornada, evadida ou ultrapassada, e que, de um modo geral, restringe a liberdade & impõe custos não razoáveis os cidadãos e entidades intermédias, como associações, empresas & famílias que queiram fazer algo de bom, seja vender alfaces ou abrir uma escola ou hospital. Parafraseando Reagan, não há pior agouro para um cidadão que alguém lhe diga “sou do governo e estou aqui para ajudar.” É sinal certo de que a miséria está à porta e se prepara para entrar.

Nenhum dos princípios que Milei defende parece radical. Pelo contrário, são estes princípios que permitem às nações se desenvolverem e prosperar, nutrir uma classe média avessa a radicalismos e amante da democracia representativa. Algo que os argentinos há já muito tempo deviam saber como ninguém, depois de múltiplas experiências com o socialismo nacionalista de Perón e dos generais, e o socialismo internacionalista dos Kirchner & Fernández.

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É verdade que nem todas as políticas que Milei propõe poderão ser as mais adequadas. A proposta de abolir a moeda nacional para adotar o dólar, não será a mais apropriada para um país cujos ciclos económicos não estão sincronizados com os dos EUA, e, portanto, requerem políticas monetárias diferentes, mas não é nada de radical, nem sequer inaudito: então não é que até Portugal adotou, há uns vinte e tal anos atrás, o Marco alemão (ou será que foi ao contrário?).

A Argentina é conhecida mundialmente pela perene disfuncionalidade, mal funcionamento, quando não criminalidade, do seu estado. Escolher repetidamente políticos que perpetuavam este estado de coisas era errar. Tentar, de vez em quando, acabar com as políticas de miséria sucialista, não é radical. Radical é repetir o erro. Mas quanto tempo aguenta um drogado sem uma dose, ou um argentino sem um subsídio?

Us avtores não segvew as regras da graphya du nouo AcoRdo Ørtvgráphyco. Nein as du antygu. Escreuew covmv qverew & lhes apetece. #EncuantoNusDeixam

  1. Analectos, 15.30.
  2. Radical: um canalha que quer destruir um futuro radioso decalcado no presente miserável; qualquer proposta política antes que a sua aplicação resulte em prosperidade & contentamento generalizado.
  3. Erro: crença ou ação que não se conforma com a minha opinião do que é e de como deve ser.
  4. Moderação: o não dar guinadas na eminência de um choque frontal nem o alterar bruscamente a direção numa curva apertada; um tipo de radicalismo especialmente perigoso em tempos de crise; “a repetida escolha pela moderação dos governos do ps/d é uma opção radical pela pobreza não-evangélica dos portugueses não conventuais de S. Bento”, Pe. Mário Centavo, Opera Omnia, vol. 99, p. 4.
  5. Extremismo: excesso, superabundância, especialmente de moderação; moderação em excesso na ingestão de cerveja.
  6. Abuso: o uso do poder, da força, ou do verbo de um modo que me é desagradável; a missão & fim de um governo; o objetivo de uma carreira política.
  7. Peculato: proteção da propriedade pública das vicissitudes de um ato eleitoral ou de uma investigação da PGR ou PJ.