Com a reeleição de Rui Rio à presidência do PSD, tudo faz crer que as coisas continuarão a passar-se conforme António Costa e o seu «núcleo duro» terão «combinado» com o Presidente da República ao derrubarem deliberadamente o governo cessante. Numa frase: conquistar a «maioria absoluta» e dispensar as pressões dos outros membros da «caranguejola» tirada do bolso por António Costa no infeliz final de 2015, às quais nem Cavaco Silva nem Passos Coelho foram capazes de se opor. Pessoalmente, sou dos que pensam que um eventual acesso de Paulo Rangel à chefia do PSD seria pior para o país ao rejeitar, nomeadamente, um eventual governo de «centro-direita».
Seja como for, esta página está virada. Resta saber até que ponto o reforço de Rui Rio à frente do PSD será capaz de arrastar consigo a massa de abstencionistas legitimamente zangados com a forma – simultaneamente populista e enganadora – como o PS tem conseguido controlar o país nesta vertiginosa conjuntura: uma pandemia incontrolável; a ruptura económica; o aumento cavalar da dívida pública; e finalmente a anunciada catadupa de dinheiro que a UE prometeu mas ainda não transferiu e que não transferirá enquanto a nova Alemanha não vir a cor do governo português a eleger no ano que vem.
Os «vinte-cincos de abril» e as mistificações esquerdistóides da defunta caranguejola «já foram», como se diz! Sem um governo minimamente competente, como não vemos desde 2015, e sem um programa fiel às indicações da «bazuca», que o governo socialista já tentou aliás antecipar para não dizer aldrabar, o PS já não engana ninguém na UE. Entretanto, acumula falências disfarçadas, como a da TAP mas não só, sendo duvidoso que o novo governo alemão tenha para com Portugal a mesma condescendência que Merkel teve enquanto não se ia embora…
Por seu turno, a macro-política internacional, dependente como é do equilíbrio entre os USA e a China, enquanto a Rússia é capaz de contar mais do que a própria UE, não pode deixar de reservar a países do tamanho e da situação de Portugal o último lugar das suas preocupações… A ilusão socialista acerca do futuro próximo divide-se entre a ilusória mentira partilhada por um Santos Silva e o aberrante sonho estatista de um Pedro Nuno Santos… António Costa, entretanto, desdobra-se entre os dois ao mesmo tempo que multiplica abonos e falsas promessas de aumentos e horários reduzidos.
Enquanto os eleitores acreditarem em tais promessas, o país não irá a lado nenhum. Quanto à óbvia falência dos antigos sistemas de saúde e de educação, é de perguntar se o PS terá, mesmo com um eventual apoio do PSD e o não do PCP e do BE, capacidade para isso: é muito duvidoso! Um país que levou anos a refazer depois da mediocridade em que haviam mergulhado os herdeiros do regime de Salazar e da guerra colonial no século passado, não se refaz de um dia para o outro. Sobretudo após o PS voltar ao passado e contrariar as medidas liberais de Cavaco Silva e Passos Coelho, como o PS e os seus aliados lhes chamam não se sabe com receio de quê, já que as medidas pretensamente protecionistas deram no que deram: num novo record da dívida pública.
A campanha mediática em favor de Paulo Rangel com base em sondagens cada vez menos confiáveis não impediu Rui Rio de segurar o PSD. Talvez o contrário. Rui Rio não é, porventura, o homem capaz de reconverter o país na direcção em que estava Passos Coelho quando foi derrubado pelo «golpe parlamentar» de 2015, mas talvez possa obrigar o PS a recuperar parte dos erros brutais que cometeu a fim de garantir o apoio parlamentar da caranguejola. Seja como for, caso Costa não tenha a maioria parlamentar absoluta, Rui Rio tem a possibilidade de apoiar o PS se este for obrigado pela UE a arrepiar caminho perante a pressão populista das clientelas do PCP e do BE.
Caso Costa não chegue à tal maioria absoluta que a legislação eleitoral actualmente lhe promete, o PSD deveria então romper decisiva e definitivamente com o PS, como seria desejável para o país e as futuras gerações. Em suma: uma chicotada programática à qual o PS há muito renunciou. Seja qual for a sua ordem de importância e o respectivo calendário, pois estão todas de algum modo relacionadas, as questões nacionais identificadas como as mais importantes e as mais urgentes são bem conhecidas. O desenvolvimento económico e a agora badalada «escada social» começam, porém, por ser primeiro consequências e só depois causas da transformação do país. Não se trata meramente de injectar a rodos dinheiro dado de borla. Chegados a este ponto incontornável, é preferível que o PSD procure o apoio que a chamada «direita» possa dar-lhe do que fazer fretes ao PS.