Como é costume na Europa, passaram-se meses com as declarações habituais a sublinharem “os progressos.” Aqueles que não acreditaram na propaganda do “progresso” foram normalmente chamados de “pessimistas”, de “anti-gregos” ou de “neo-liberais”. De repente, começaram as reuniões de emergência, em Bruxelas, em Berlim e, em Atenas, há sessões parlamentares e conselhos de ministros extraordinários. O que indica que não houve mesmo progressos. Na segunda feira, o governo grego apresentou pela enésima vez um plano vago, sem propostas específicas, sem números e sem contas.
O governo grego é sem qualquer dúvida o maior culpado pela falta de progresso. O seu ministro das Finanças tornou-se numa mistura de figura do jet set – vindo da famosa “esquerda caviar” – e líder estudantil. Passou o tempo a viajar, a dar entrevistas e a fazer twitters. Irritou toda a gente e acabou afastado pelo Primeiro Ministro grego. Se tivesse alguma dignidade, já se teria demitido. Mas afinal gosta tanto de estar no poder como todos aqueles que criticou quando dava aulas na Universidade.
Desde que foi eleito, há cerca de seis meses, o governo grego ainda não começou a fazer o seu trabalho: governar. Aquele grupo de intelectuais e “revolucionários” burgueses e urbanos não faz a mínima ideia do que é governar; e a Grécia não tem governo desde o fim do ano passado. Tem um grupo de irresponsáveis que fala muito, queixa-se de tudo e passa o tempo a discutir. A única coisa que não fazem é trabalhar. Nem sequer foram capaz de tomar medidas para combater a corrupção ou a evasão fiscal. Nunca se fugiu tanto aos impostos na Grécia como agora. Mas aprenderam rapidamente os truques dos partidos que sempre atacaram. Por exemplo, dos doze diretores regionais nomeados pelo ministério da Educação, dez são do Syriza e um pertence aos seus aliados nacionalistas. Por outro lado, a economia e a situação fiscal estão bem pior do que há seis meses. Resultado: nada melhorou; e o que estava a melhorar, piorou (e muito).
Mas, tragicamente, a situação ainda pode piorar mais. O governo grego já pediu para fazer os pagamentos de Junho ao FMI no final do mês. Mais uma vez, adiou-se a solução para o problema, mas nada se resolveu. Em Julho e em Agosto, Atenas terá que pagar quantias ainda mais elevadas ao BCE. Para fazer estes pagamentos, sera necessário um acordo para concluir o segundo programa. Mas mesmo que haja um acordo, será apenas suficiente até ao fim do Verão ou, no limite, até ao fim do ano. Depois disso, a Grécia precisa de um terceiro programa. A verdade é tão simples como dramática: a Grécia é incapaz de cumprir os seus compromissos financeiros – internos e externos – sem ajuda externa. Está completamente dependente dos seus credores.
Um partido que chegou ao poder prometendo o fim da “austeridade” e da “troika” apenas tornou um terceiro programa inevitável. Ou seja, mais austeridade e mais troika. A alternativa será a saida do Euro.