“One of the saddest lessons of history is this: If we’ve been bamboozled long enough, we tend to reject any evidence of the bamboozle. We’re no longer interested in finding out the truth. The bamboozle has captured us. It’s simply too painful to acknowledge, even to ourselves, that we’ve been taken. Once you give a charlatan power over you, you almost never get it back.”
Carl Sagan, The Demon-Haunted World: Science as a Candle in the Dark, 1995
Há uma semana publiquei nas redes sociais um post com este mesmo título ilustrados com uma foto de Pedro Nuno Santos e André Ventura. A expressão Cheringonça, que não é da minha autoria (vi-a pela primeira vez num mural de um amigo), resume o que estamos e viver e os tempos que se avizinham, e adequa-se perfeitamente ao que caracterizei no meu artigo Na democracia das claques.
É estranho que o Chega seja quase um irmão gémeo do PS? Até o âmago é idêntico. Falta de credibilidade. Ambos mudam de opinião consoante os interesses partidários e fazem precisamente o que criticam aos outros. Já sabíamos qual o modo de comportamento do PS consoante está na oposição ou Governo. Tudo o que promete na oposição não faz quando é poder. Faz o contrário apoiado numa máquina de retórica demagógica muito boa que é complementada por uma comunicação social maioritariamente de esquerda. É nisso que o socialistas são excelentes: na criação de ilusões que vão alimentando com engenharias financeiras pouco transparentes para disfarçar a má performance das contas públicas socialistas.
O caso do dividendo extraordinário de 100 milhões de euros pago pelas Águas de Portugal (Casa da Moeda e NAV são mais dois exemplos) é tipo de jogadas que caracteriza a gestão socialista. Só fazem manobras, incluindo as de engenharia financeira, para resolver problemas conjunturais de modo a ficarem bem na fotografia. Tudo por uns momentos de propaganda cujas narrativas, mesmo depois de terem sido expostos, exploram até a exaustão. Os socialistas não têm qualquer preocupação com o acumular de questões que avolumam os problemas estruturais, pois estes acabarão por ter de ser resolvidos por outros. O que interessa é a comunicação, sem importar o que é comunicado.
Creio que o Chega é quem tem actualmente a comunicação partidária mais eficaz. E com o Chega vai ser a mesma coisa que foi com o PS. Promessas, promessas e mais promessas que não serão cumpridas. O Chega não tem nenhum plano para o país. É por isso que está continuamente a promover o acessório. É o acessório que lhes dá tempo de antena. Tal como o PS, o Chega só quer uma coisa: ser poder, ou melhor, ser titular do poder executivo. Plano para isso tem. O Chega tem hoje a melhor máquina de comunicação e de propaganda do país. É por isso que está continuamente a promover o acessório. É o acessório que lhes dá tempo de antena.
Citei Carl Sagan. Podia ter referido Hannah Arendt. Os seres humanos tendem para a repetição e não aprendem com a história. Fomos enganados nos últimos 8 anos. Mas quando olhamos para os 50 anos de democracia o mesmo sentimento prevalece. Como tal, é irrelevante se é pelos últimos 8 ou 50 anos. Já fomos enganados o tempo suficiente para rejeitar as evidências de fraude e perder tempo a descobrir a verdade. Logo, a maior parte de nós continuará sentada no sofá a apontar o dedo a quem aparece na televisão. Os portugueses, ou a maioria deles, tem necessidade de duas coisas: primeiro, de culpar alguém pelos seus males e, segundo, do próximo ilusionista. Ora, as circunstâncias do presente favorecem o Chega.
Até agora só vi aprovação de propostas que vão implicar mais despesa. Os agentes da PSP têm todo o direito a não serem discriminados, tal como os professores também têm todo o direito de verem o seu tempo de serviço ser contado integralmente. Mas, como estes e outros exemplos de reparação implicam aumento de despesa, era prudente ter alguma parcimónia na sua reposição. Nem o PS, nem o Chega estão para aí virados. O problema não é deles. A cheringonça não parará enquanto não houver eleições legislativas antecipadas e as Europeias são o próximo teste. Contudo, podem vir a colher o que estão a semear. Quer o PS, quer o Chega, poderão ter de governar com um nível de despesa muito alto. E, devido aos condicionalismos que agora ajudaram a criar, quando governaram acham que a probabilidade de não cumprirem as promessas e de terem de aumentar os impostos é alta ou baixa?
Por fim, tal como previ, o Chega só se importará com uma maioria de direita quando for o partido mais votado. Até lá, a maioria de direita é interesse secundário e não passará de oportunismo político.