Continuam as infindáveis discussões sobre uma solução aeroportuária para a área metropolitana de Lisboa. Não posso deixar de pensar que o excesso de informação existente é um dos principais factos que dificulta, ou impossibilita, uma tomada célere de decisão. Por esta razão, continuo a defender que uma entidade independente e séria faça, num período de tempo muito curto, uma súmula comparativa com base em estudos já efetuados, que ajude orientar quem tem e pode decidir.

Para tentar desdramatizar o processo decisório, gostava de resumir as ideias chave que estão na origem da procura desta tão conturbada solução aeroportuária.

  1. A área metropolitana de Lisboa precisa de um aeroporto internacional, para servir as pessoas que aí habitam, o país, em geral, e que seja um motor para o desenvolvimento económico, nomeadamente, o turismo.
  2. O aeroporto da Portela já não tem capacidade para responder à procura atual e, devido à sua localização (embora conveniente para muitos), terá que ser encerrado, mais ano menos ano.
  3. O único local com caraterísticas para receber uma infraestrutura aeroportuária, flexível no seu faseamento e constituir-se como uma solução de longo prazo, é o Campo de Tiro de Alcochete. Goste-se ou não.
  4. Até que o aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete esteja pronto, para satisfazer a procura é necessário encontrar um local que suplemente a Portela, face ao aumento da procura que se tem vindo a registar, reconhecido desde há muitos anos.
  5. O local escolhido necessitará de obras de reconversão, obras novas ou qualquer outra intervenção a definir para satisfazer as necessidades que forem identificadas. E, por isso, terá custos. Além disso, deverá implicar uma eventual reanálise do contrato com a ANA/Vinci.
  6. Uma solução agradável seria, com certeza, que esse local coincidisse com a 1ª fase do aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete, evitando-se dispêndios desnecessários.
  7. Se tal não for possível, encontre-se um local complementar que se constitua numa solução temporária. Nem vou referir nomes para não desviar o foco.
  8. Mesmo assim, enquanto as tais obras/intervenções se estiverem a realizar nessa infraestrutura temporária, é necessário, ainda, recorrer a uma solução imediata, já existente, que alivie a Portela em momentos de crise.

O que acabo de escrever não é diferente do que disse no meu artigo anterior, publicado este mês no Observador. E faço-o, agora, devido aos inúmeros contactos pessoais e alguns comentários que tive após a sua publicação e que me deixaram a impressão de que a discussão sobre uma possível infraestrutura aeroportuária no Montijo tem desviado a atenção do verdadeiro cerne do problema que se quer resolver.

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Seria interessante que a sequência dos oito pontos antes referidos fosse tornada clara e conhecida, desdramatizando a escolha da solução aeroportuária complementar à Portela. A não ser que o objetivo não seja o que antes enunciei e, nesse caso, o poder político que diga claramente qual é e o que, de facto, quer.

Talvez esta falta de foco no objetivo base tenha sido, por uma questão de simplicidade linguística, por se ter começado a referir a necessidade de criar uma infraestrutura aeroportuária para apoio à Portela, como Portela+1.

Portela+1 seria uma designação apropriada se a junção das duas infraestruturas aeroportuárias constituísse uma solução de futuro. Não é o caso. O aeroporto da Portela, como referi antes, tem que ser desativado, mais cedo ou mais tarde. Por isso, Portela+1 acaba por ser apenas a soma de duas soluções temporárias que, por isso, não substitui a necessidade dum aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete.

Neste contexto, o que o governo tem que decidir é se é possível iniciar desde já uma primeira fase de Alcochete ou se considera, de forma tecnicamente fundamentada, imprescindível ter um apoio à Portela até que o aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete esteja concluído. Neste caso, como em qualquer solução temporária, quanto mais barata for e quanto menores os danos ambientais e de enquadramento territorial e social provocar, melhor.

Para finalizar, não posso deixar de referir, como já o fiz antes, que considero que os custos de uma primeira fase de Alcochete e os prazos para realização das obras são significativamente inferiores aos que vêm sendo publicitados nos media e por muitos comentadores de referência. Esta situação tem criado na opinião pública um entendimento que, a meu ver, não corresponde à realidade. E que necessita ser devida e rapidamente esclarecido para bem de todos.