Tudo o que Francisco Louçã faz é política. Não é um historiador, é um político. Por isso, escreve ensaios históricos para fazer política. Foi o que fez num artigo publicado na Revista do Expresso na semana passada com um ensaio sobre o liberalismo. A tese é extraordinária. Para Louçã, os liberais acabam, inevitavelmente, a apoiar ditaduras fascistas. Só uma mente Marxista-Leninista poderia defender uma tese tão absurda e falsa. Aliás, para as forças políticas marxistas a verdade foi sempre um detalhe secundário.
Louçã quer impressionar as figuras mais vulneráveis e influenciáveis da IL para dividir o partido. O que mostra, de resto, que o Bloco teme a IL. Sendo o objectivo enfraquecer a IL para reforçar o Bloco, vamos tratar a questão olhando para partidos, regimes e governos, comparando os liberais com os Marxistas-Leninistas. Podemos deixar a história de lado.
Um regime político deve garantir as liberdades individuais, a igualdade entre os cidadãos perante a lei, a independência das instituições e dos tribunais, o Estado de direito, a prosperidade económica e a justiça social. Esta frase é consensual. Quais são os países com regimes liberais? Em termos gerais, fala-se das democracias ocidentais como democracias liberais. Mas umas são mais liberais do que outras. Naturalmente, os regimes mais liberais são aqueles que mais frequentemente são governados por partidos liberais (ou com partidos liberais nas coligações de governo).
No pós-guerra, os países que tiveram durante mais tempo partidos liberais nos governos foram a Alemanha, a Dinamarca, a Finlândia, a Irlanda, a Noruega, a Suécia, os Países Baixos e, desde o fim da Guerra Fria, as três repúblicas Bálticas. Atenção, não estou a dizer que nestes países os partidos liberais foram os que mais tempo governaram. Por exemplo, na Alemanha a CDU esteve muito mais tempo no governo do que o partido liberal; e na Suécia, os sociais democratas governaram mais tempo do que os liberais. O que afirmo é que nestes países os partidos liberais estiveram mais tempo nos governos do que em todos os outros países europeus.
Quais foram os países europeus governados por partidos Marxistas-Leninistas? Albânia, Bulgária, a antiga Checoslováquia, a Hungria, a antiga Jugoslávia, a Polónia, a Roménia e as Repúblicas Bálticas quando pertenceram à antiga União Soviética (entre 1939 e 19991).
Vamos agora comparar o grupo de países liberais, com partidos liberais fortes, ao grupo de países comunistas, governados por regimes Marxistas-Leninistas, como o Bloco. Os países liberais são aqueles com mais prosperidade económica e, simultaneamente, com os níveis mais elevados de justiça social. São os países com os cidadãos mais livres, com as instituições mais independentes e com um Estado de direito forte e eficaz. São factos, não é uma opinião.
Vamos agora ver o que aconteceu aos países que viveram com regimes Marxistas-Leninistas entre 1945 e 1989. Eram os países mais pobres da Europa, com populações reduzidas a uma vida miserável. Foram regimes que impuseram ditaduras violentas às suas populações, onde as prisões estavam cheias de presos políticos, e onde não existia liberdade individual. Foram regimes onde o poder militar e as polícias políticas substituíam os tribunais e as instituições independentes.
Os mais curiosos podem também verificar em qual dos grupos de países as mulheres gozavam de mais oportunidades políticas. Em toda a história da União Soviética, nunca houve uma mulher em lugares políticos de chefia. Nos países comunistas da Europa de Leste, nunca houve uma mulher como PM ou Presidente. Podem igualmente comparar o respeito pelos direitos dos homossexuais nos países mais liberais e nos antigos países comunistas.
Para terminar, resumo a diferença entre os regimes liberais e os comunistas. Nos países liberais, há partidos Marxistas-Leninistas. Nos países comunistas, nunca houve partidos liberais. Pensem bem onde gostavam de viver se tivessem que escolher. E vejam de que lado estão a IL e o Bloco.