A Pátria pasma agora com as declarações de amor acrisolado a António Costa por ocasião da sua putativa subida à presidência do Conselho Europeu. Vejamos o comportamento dos partidos portugueses, sobretudo os partidos da direita, e se devem ou não recomendá-lo para o lugar. Na noite das eleições europeias, a 9 de Junho, o primeiro-ministro Luís Montenegro declarou o apoio dele e do PSD à candidatura de Costa. Desse momento a esta parte, o sr. Primeiro-Ministro não se tem poupado a encómios “pessoais e do governo”, explicando à populaça que o apoio a António Costa “não é apenas uma questão de nacionalidade” (aparentemente, havia quem subscrevesse esta cretinice); no entender de Montenegro (“e do governo”), “Costa tem posições políticas que fazem com que, para além de ser português, possamos ter mais confiança nele do que num socialista alemão, num socialista espanhol, num socialista maltês, ou num socialista dinamarquês”. A Iniciativa Liberal e o Chega recusam-se a apoiar António Costa. A Iniciativa Liberal e o Chega têm razão.
Estes apoios mútuos entre o PS e o PSD nunca foram grande ideia e sempre favoreceram mais o PS. Mas faziam sentido quando vivíamos essencialmente em alternância, ora governava o PS, ora o PSD, e o entendimento entre os dois partidos para a ocupação de certos lugares tornava o país governável. Mas as coisas mudaram, e mudou a natureza de todas as coisas políticas, a partir de 2015.
As coisas mudaram porque o PS consolidou um bloco parlamentar de partidos à esquerda que passaram a constituir uma potencial maioria permanente. Ou seja, sempre que o conjunto dos partidos à esquerda eleger mais de metade do Parlamento, o governo é deles. Mudaram porque, com base nesse entendimento sólido e permanente, o PS governou quase 9 anos assente em fanatismo, em mentiras, em ocupação de instituições cujos poderes deviam ser independentes do governo, e em escândalos políticos e judiciais. No fim deste opróbrio, o PS deixou um país miserável, sem uma parte elementar do Estado social e sem economia. E mudaram porque à direita se formou uma enorme maioria, a maior de sempre em democracia, que permite, se o PSD desistir de “cercas sanitárias”, governar à direita com poder e força para fazer as reformas de que Portugal precisa. As tais reformas estruturais que “arrepiam” António Costa e às quais ele se declarou “alérgico”. O que não faz ninguém cair para trás de surpresa: estas reformas consistem na liberalização da economia, do Estado, e da cultura; todas as liberalizações significam perda de poder para a esquerda.
A mudança também permite tratar o PS como ele merece ser tratado, na medida da maneira como o PS rebaixou a direita, a verdade, a democracia, e o país.
Por outro lado, um dos argumentos mais ouvidos a favor de Costa no Conselho Europeu é que esse lugar “tem acesso a muita informação”, o que seria bom para Portugal. Má ideia num chefe de governo que despedia os ministros dele na televisão. E contratava amigos pessoais para negociar nacionalizações, sem receber honorários, como fez com a TAP. António Costa é visivelmente um governante que não tem sentido de Estado, nem das convenções, nem das conveniências, nem das fronteiras entre o privado e o público. Todo o currículo político de António Costa, que de resto não tem outro, mostra que ele é a pessoa certa para se manter longe daquele lugar. Ao contrário do que pensa Montenegro, não se pode confiar em Costa para guardar aquela quantidade e aquele tipo de informação.
Se a direita quer fazer-se respeitar tem de dar todos os sinais de que rejeita a esquerda, e tudo o que a esquerda significa. E o primeiro a rejeitar tem de ser o responsável máximo pelo pior retrocesso político da história da nossa democracia. António Costa quer ir presidir à Europa? Ele que peça o apoio dos amigos comunistas.