Não esperem de Luís Montenegro grandes combates ideológicos, nem uma estratégia para acabar com o socialismo em Portugal. Nesse aspecto, vai desiludir muitos na direita. Montenegro é acima de tudo um político pragmático, e um produto típico do PSD. Tem um lado social democrata que o impede de ser anti-socialista, apesar de estar inteiramente disponível para lutar contra o PS – são coisas diferentes. Mas é muito diferente ter como PM Montenegro ou um líder do PS. Também de acordo com a tradição do PSD, Montenegro acredita na iniciativa privada, no mercado e nas empresas. É um político que emerge do país profundo, da sociedade, não foi formado no Estado. É uma grande diferença. Colocando a questão em termos ideológicos, Montenegro é mais liberal do que qualquer PM socialista, e certamente muito mais do Pedro Nuno Santos. Também é mais conservador do que os socialistas no sentido em que respeita mais as tradições portuguesas, sem ser obviamente um conservador no sentido mais ideológico do termo.
Montenegro é sobretudo um político pragmático, mais uma característica típica do PSD, e um homem de poder. Soube conquistar o poder e tem uma estratégia para continuar no poder o tempo que for possível nas actuais circunstâncias políticas, nada fáceis. Infelizmente, está preso nas suas linhas vermelhas, o que o impede de construir uma maioria parlamentar do centro para a direita, com a IL e com o Chega. A ausência dessa maioria retira-lhe a capacidade de seguir outra tradição do PSD: o governo e o poder servem para fazer reformas, para mudar algumas coisas no país. A orientação reformista foi o que marcou Sá Carneiro, Cavaco Silva, Durão Barroso e Passos Coelho. Para estes antigos PMs, não fazia sentido estar no poder se não fosse para reformar algumas coisas no país. Ora, com um governo minoritário, Montenegro terá muito mais dificuldades para fazer reformas. Em Portugal, não se fazem reformas que melhorem o país, ou seja, que o torne menos socialista, sem maiorias.
Mas Montenegro está a subir na apreciação dos portugueses. É neste momento o político mais popular em Portugal, à frente de Marcelo Rebelo de Sousa e muito à frente de Pedro Nuno Santos e de André Ventura. Quem diria há um mês no caso de um governo sobre o qual quase todos juraram que não teria estado de graça. Mas Montenegro tem duas vantagens sobre todos os outros. É o único que se porta como um estadista. Mantém sempre um sentido de Estado quando está em público. Comporta-se como um PM, e não como um político que está em São Bento, como fazia António Costa. Durante oito anos, Costa nunca deixou de ser Costa. Em dois meses Montenegro deixou de ser Montenegro e passou a ser PM. Suponho que os portugueses já tinham saudades de quem sabe desempenhar um alto cargo com a autoridade devida.
Depois, Montenegro é um politico muito disciplinado, dono dos seus silêncios. Só fala quando acha que deve falar, e não comenta tudo e mais alguma coisa. Quando fala, tem alguma coisa para dizer ou para anunciar. Se for necessário, deixa Pedro Nuno Santos e o líder da oposição, André Ventura, a falarem sozinhos. Marca assim um enorme contraste em relação ao PR. Em Belém está um comentador, incapaz de não falar. Em São Bento, está um PM que só fala quando deve. Desconfio que muitos portugueses também apreciam isso.
Como quase todos os políticos que são subvalorizados, Montenegro beneficia dessa avaliação errada. Como líder do PSD, já conseguiu três vitórias eleitorais (Açores, legislativas e Madeira). Vamos ver o que acontece nas eleições europeias. Pode acabar por ficar em São Bento mais tempo do que muitos previam. A legislatura ainda está no início e muita coisa poderá mudar, sobretudo depois das eleições presidenciais. Por vezes, Montenegro faz lembrar aquelas equipas de futebol que começam o campeonato com vitórias muito difíceis, quase ninguém dá nada por elas, mas acabam campeões.