Sabemos que as coisas não vão bem. Os tempos não são de abundância material, nem de risonhas expectativas quanto ao futuro. Portugal não tem hoje um desígnio nacional com que o povo se identifique e se entusiasme. Não temos um plano de desenvolvimento para o país. Não é que não seja bom ou que não seja claro. A verdade é que não o temos.

Somos um povo extraordinário. Genuinamente bom, generoso, afectuoso, criativo, trabalhador e com capacidade para superar as mais adversas dificuldades, como os quase 900 anos da nossa História permitem demonstrar, com inúmeros percalços que marcaram a nossa forma de estar e mudaram o nosso destino comum.

O nosso futuro depende de nós, Portugueses, pessoas comuns, preocupados em construir um país melhor, apelando ao melhor de cada um de nós, com responsabilidade e com respeito pelo outro. Não depende das actuais elites, nem das lideranças políticas estabelecidas. Estas demonstraram desejar manter o regime político capturado e o povo submisso. Um regime extractivo que disponibiliza inúmeros serviços sem qualquer valor para as pessoas comuns, que lhes coloca entraves de todo o tipo, que lhes retira vontade e a capacidade financeira para empreender, para criar riqueza e, com esta, emprego e oportunidades de desenvolvimento para todos.

Quebrou-se a confiança do povo para com a generalidade das instituições e para com os seus representantes políticos. Aprofunda-se o controlo central, o nepotismo e o clientelismo. Estabelecem-se, camada sobre camada, inúmeros níveis de decisão, organismos com funções sobrepostas, com dirigentes seleccionados mais pela sua obediência do que pela sua idoneidade ou competência. Esbate-se a separação de poderes entre os órgãos de soberania e instrumentaliza-se o poder moderador informativo. Aumenta a promiscuidade entre Estado, política e negócios.

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O actual regime político vive os seus últimos anos. O Estado Novo durou 41 anos. Este, dito democrático, completa este ano 47 anos e apresenta preocupantes sintomas de acelerada degradação. A promessa de liberdade e de prosperidade não está, de modo, algum consumada, mas antes em grave risco de retrocesso.

A todos nós, Portugueses, responsáveis cidadãos deste maravilhoso país, corresponde o dever de tudo fazer para que não se quebre também entre nós – o povo – os laços de fraternidade, de solidariedade e de compaixão, que têm estado a ser ameaçados pelos activismos divisionistas e os extremismos políticos. Na ausência desses laços, seguem-se tempos conturbados que podem terminar em revolução violenta ou guerra civil e, por fim, inevitavelmente, em ditadura.

O sentimento de impunidade e o sentimento de impotência perante os acontecimentos sucessivos e escandalosos surgidos nas últimas décadas têm-se instalado. As elites políticas não têm querido ou sabido interpretá-los, identificar-lhes as causas e, menos ainda, agir sobre estas para remediá-las.

O que podemos então fazer? Como se combate as causas do nosso descontentamento? Por onde começar? A resposta é incomodamente simples. Colocando exigência em tudo quanto fazemos, em primeiro lugar. Colocando exigência em tudo o que fazem aqueles que são (ou deveriam ser) os nossos representantes e os servidores públicos, em segundo lugar.

A primeira prioridade será respeitar e cuidar dos que nos estão física ou emocionalmente mais próximos, com ou sem vínculo familiar. O respeito que demonstra através da cortesia nas coisas simples, como respeitar a fila no supermercado, dando prioridade aos mais velhos ou vulneráveis; dar os bons dias a quantos se cruzam connosco na rua, na escola ou no trabalho; saudar os vizinhos e oferecer-lhes simpatia e ajuda; usar de gentileza nas palavras para quem nos serve no comércio, no restaurante, no centro de saúde ou no posto de polícia. Gerar no outro a real impressão de que nos importa, que prezamos o seu sorriso ou respeitamos o seu esforço ou a sua dor.

Neste respeito pelo outro está o antídoto para a corrupção endémica. A do “favor” que se pede, em detrimento de outra pessoa. A da “facilidade” que se compra e que mina a confiança na comunidade. A que conduz ao abuso dos bens públicos para os quais todos contribuem, mas dos quais nem todos podem finalmente beneficiar.

A segunda prioridade será escrutinar a actividade dos representantes políticos, começando por exigir participar na sua escolha, actualmente possível, mas incomum, apenas através da militância partidária, e acompanhando activamente o trabalho desenvolvido e os resultados conseguidos. Se não está, na prática, ao alcance de todos acompanhar a actividade dos deputados no Parlamento ou dos membros do Governo, está certamente ao alcance de todos acompanhar a actividade da sua Junta de Freguesia ou da sua Câmara Municipal.

Todos temos a responsabilidade de saber em quê e de que modo é utilizado o dinheiro dos nossos impostos, taxas e contribuições. Quem paga tem o direito e o dever de exigir que o seu dinheiro seja aplicado com critério, com responsabilidade, com rigor e transparência, participando sempre que possível nas decisões.

Somos os contribuintes, pagadores de impostos.
Somos o povo que tem o dever de cuidar e permanecer unido.
Somos os responsáveis por forjar o nosso próprio destino.
Antes que seja tarde.