Os países, como as pessoas, são aquilo que se propõem ser. O que faz a diferença é definir metas e tentar atingi-las. Esforçamo-nos na medida dos objetivos que traçamos e, se por acaso tivermos um mau momento, podemos levar uma pancada, mas continuamos a perseguir a meta que traçámos. É isso que nos dá energia para crescer e para nos ultrapassarmos.

A falta de objetivos e metas é neste momento o principal problema do país. Estamos cada vez mais abaixo na tabela dos países europeus com quem nos comparamos. Os nossos serviços públicos são cada vez piores. As novas gerações têm cada vez menos horizontes de futuro se quiserem ficar por cá (pela primeira vez em muitas décadas a nova geração irá viver pior do que a geração dos seus pais). Temos um problema grave de acesso à habitação. O país está cada vez mais envelhecido. Não conseguimos resolver o problema dos baixos salários. Um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos, publicado por estes dias, conclui que em Portugal a corrupção é tolerada e que o “rouba, mas faz” é bem aceite pelos portugueses.

É um retrato deprimente do país, que nos responsabiliza a todos. O último desafio digno desse nome que o país teve foi o de ter uma “saída limpa” do resgate financeiro a que fomos sujeitos em 2011. Nessa altura, os sacrifícios justificavam-se com o grande objetivo de virar a página e começarmos vida nova. Menos endividados e com um país mais preparado para corrigir os erros que determinaram o nosso atraso estrutural.

Foi um esforço em vão. Passado o susto, voltámos aos velhos hábitos. Nada de estrutural mudou: não mudou o nosso modelo económico (o Estado continua a ser o grande motor da economia, as empresas trazem pouco valor acrescentado e o país continua a viver à custa da galinha dos ovos de ouro do turismo que, como sabemos, é um setor volátil e que a qualquer momento pode sofrer alterações); não se atacou de frente o problema da degradação dos serviços públicos; não se quis olhar para a sustentabilidade da Segurança Social; sobre o inverno demográfico que o país enfrenta, não há uma linha escrita com uma estratégia capaz de combater o problema que, em poucos anos, mais gravemente irá hipotecar o nosso futuro.

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Aqui chegados, o que ouvimos diariamente?

O Governo e o Primeiro-ministro vangloriam-se de manter o país na linha medíocre em que está com frases vazias como “crescemos acima da média europeia” e “temos contas certas” enquanto, em Bruxelas, negoceiam mais e mais fundos europeus para manter o país na sua vidinha de sempre.

O Presidente da República, na sua permanente agitação, começa a ser ridicularizado pelo seu afã permanente em garantir que quando queremos “somos os melhores dos melhores”. O problema é que não queremos e não somos.

Os partidos da oposição estão demasiado ocupados em garantir a sua sobrevivência política no fim desta longuíssima maioria absoluta e estão mais preocupados em afinar discursos do que em fazer oposição.

A comunicação social lá vai fazendo algum estrago aqui e ali, mas os seus efeitos são anulados rapidamente pelo pacto de não agressão Belém-São Bento.

E o povo, cada vez mais dependente das migalhas que o Governo socialista vai distribuindo com o dinheiro dos nossos impostos, vai preferindo a máxima “pobretes, mas alegretes” a ambicionar um futuro melhor para si e para os seus filhos.

A técnica de colocar dinheiro no bolso, mesmo que não chegue para uma vida digna, continua a funcionar e a sobrepor-se a legítimas aspirações de um futuro melhor. De cedência em cedência, começamos a achar tudo normal e aceitável. Afinal, é tudo uma questão de hábito: ir às quatro da manhã para a porta do centro de saúde para conseguir uma consulta; acabar o ano letivo sem professores a disciplinas fundamentais; deixarmo-nos ultrapassar pelos países mais pobres da Europa; habituarmo-nos a viver num país cada vez mais velho e mais pobre.

Consola-nos a bola e o bom tempo. E se não chegarmos à final do Mundial, o que interessa é que demos tudo e, mesmo assim, chegámos em primeiro lugar do grupo aos oitavos de final.