À medida que as ações criminosas russas na guerra da Ucrânia tomam contornos horríficos, o apoio “sem limites” da China à Rússia torna-se claro. A abstenção da China em criticar a Rússia é tida por Washington como evidência da consolidação da aliança sino-russa. A administração Biden assume que, mantendo o seu alinhamento com a Rússia, a China irá tornar a competição entre os grandes poderes numa guerra fria global que empalidecerá a conflictualidade que se viveu entre 1947 e 1989.

A guerra da Ucrânia está a levar a Europa a mudar profundamente a sua atitude perante a China. Se há dezasseis meses, em Dezembro de 2020, a UE assinava um Acordo Gobal sobre Investimento que coroava a estratégia comercial que pautou a sua relação com a China nos últimos vinte anos, durante a Cimeira UE-China da semana passada os Europeus mostraram estar alinhados com os EUA na forma como lidar com Pequim. A China é hoje vista como cúmplice das atrocidades cometidas pela Rússia e, depois de goradas as tentativas de comprometer a China nas tentativas de refrear Putin, a Presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen e o Presidente do Conselho Europeu Charles Michel fecharam as portas a quaisquer concessões comerciais.

A cimeira marcou o fim do mercantilismo económico que dominou a abordagem da Europa durante as últimas duas décadas. Crescentemente a Europa olha para a relação com a China primariamente pelo prisma da competição estratégica e da segurança. No diálogo com o Presidente da China Xi Jinping e o Primeiro Ministro Li Keqiang, Van der Leyen foi invulgarmente clara ao avisar que, apoiando a Rússia, a China corre o risco de um êxodo de investimento estrangeiro europeu. Em relação à ratificação do Acordo Global sobre Investimento (CAI), negociado em Dezembro de 2020 pela Presidência Alemã e travado pelas sanções impostas à China pelo Parlamento Europeu perante a repressão contra os Uyghurs, Charles Michel foi peremptório em como a UE não pretende levantá-las.

A indiferença da diplomacia de Pequim face à catástrofe humanitária que se vive na Ucrânia chocou os líderes europeus e levou-os a formular uma estratégia para lidar com a nova realidade internacional. Tornou-se claro que os europeus devem aumentar a pressão contra a Rússia ao mesmo tempo que mostram à China que a sua associação estreita com Putin vai contra a estabilização das relações sino-europeias. Apesar de parecer pouco, parece ser o melhor que os europeus podem fazer. Poderá não salvar a Ucrânia de mais destruição, mas poderá convencer algumas facções em Pequim de que os interesses de Putin não são necessariamente os seus.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR