Os dados do crescimento da economia portuguesa no primeiro trimestre de 2023 surpreenderam mais uma vez pela positiva. Em relação ao primeiro trimestre de 2022, o PIB português cresceu 2,5%. Mais uma vez, as exportações foram o motor deste crescimento. O excelente comportamento da economia levou o Fundo Monetário Internacional a rever em alta o crescimento do PIB para 2023 de 1% para 2,6%.

Desta revisão das previsões destacam-se três factos recorrentes nos últimos anos: o aumento dos níveis de incerteza na economia global, os erros nas previsões do Governo e o bom comportamento da economia portuguesa.

Nos últimos anos, os níveis de incerteza na economia mundial agravaram-se. Muitas crises simultâneas e com origens muito diversas têm afetado a economia mundial: uma pandemia com várias vagas, a descoordenação nas cadeias de abastecimento, eventos climatéricos extremos, uma guerra na Europa provocada pela invasão da Ucrânia pela Rússia, a interrupção no fornecimento energético da Europa e choques nos preços da energia, o aumento dos preços dos bens alimentares, tensões geopolíticas entre os Estados Unidos e a China. O historiador Adam Tooze designa esta sucessão de eventos, que se propagam a todo o globo, policrises. Neste contexto de elevada incerteza é mais difícil fazer previsões e os governos e instituições têm sido obrigados a fazer revisões recorrentes nas suas previsões. Em 2022, foram notórias as falhas dos bancos centrais nas previsões da evolução da taxa de inflação. Até demasiado tarde, a Reserva Federal americana, o Banco de Inglaterra e sobretudo o Banco Central Europeu previram que o aumento da taxa de inflação seria transitório. O resultado foi uma resposta tardia à escalada dos preços. No caso dos bancos centrais, que têm de tomar decisões relativamente ao valor das taxas de juro com base no valor esperado da taxa de inflação, a falha nas previsões pode ter consequências graves. Se as taxas de juro não responderem adequadamente às pressões inflacionistas, o objetivo da estabilidade dos preços pode não ser alcançado e a credibilidade das autoridades monetárias poderá ser colocada em causa.

O segundo facto a destacar da previsão do FMI para o crescimento do PIB em 2023 são os erros nas previsões macroeconómicas do Governo, que têm ocorrido sistematicamente ao longo dos últimos anos. Os erros na previsão dos défices orçamentais foram uma marca dos governos de António Costa desde o primeiro Orçamento do Estado (OE). Para grande irritação dos então parceiros da Geringonça, o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português, os resultados orçamentais superavam sempre as expectativas, isto é, os défices ficavam sempre abaixo da meta prevista no OE, como aconteceu mais uma vez em 2022. Em 2019, foi mesmo alcançado um excedente orçamental. Também no PIB os resultados foram sempre melhores do que o previsto. Por exemplo, já durante o ano de 2022, o crescimento do PIB de 2021 foi revisto de 4,9% para 5,5%. Foi o que aconteceu também em 2022: o OE apresentado em abril desse ano, e aprovado em junho, previa um crescimento de 4,8%. Efetivamente, o PIB cresceu 6,7% em 2022. Para 2023, o governo previa no OE um crescimento de 1,3%, que reviu em alta no passado mês de abril para 1,8% (Programa de Estabilidade e Crescimento). Os dados do primeiro trimestre tornam muito provável que o crescimento do PIB em 2023 fique acima dos 2%.

Comentando as previsões positivas do FMI para o crescimento da economia portuguesa, o Ministro da Economia e do Mar, António Costa Silva, disse que aquela instituição internacional não acertava uma previsão. Tem razão e, como já vimos acima, há boas razões para isso. Mas os dados do primeiro trimestre mostram também que é o governo, que tem sempre melhor e mais atualizada informação que as instituições internacionais, que não acerta uma.

E, assim, chegamos ao terceiro facto a destacar a propósito da revisão em alta das previsões para o crescimento do PIB: o bom comportamento da economia portuguesa, que tem apanhado todos de surpresa. Como já referi aqui, há uma mudança em curso na estrutura da economia portuguesa, cuja face mais visível é o aumento da importância das exportações. A natureza desta mudança e as suas causas carecem de investigação, mas sabemos que o excelente desempenho das exportações tem surpreendido o próprio governo. Por exemplo, se consultarmos o Acordo de Parceria Portugal 2030, nesse documento estratégico apresentado pelo governo à Comissão Europeia, em 2022, pode ler-se que é estabelecido como objetivo “atingir-se um rácio das exportações no PIB de 50% até 2027 e de 53% até 2030”. Ora, sabemos que o objetivo de 50% fixado pelo governo para 2027 foi já alcançado em 2022! E, provavelmente, o objetivo de 53% fixado para 2030 será alcançado este ano. Seja por falta de ambição nas metas que fixa, seja por falta de informação, a verdade é que o governo não acerta uma previsão económica.

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