Se há uma coisa unânime em termos de veículos – além, como é óbvio, do facto de as bicicletas serem brinquedos e não meios de transporte, e por isso ser urgente proibir que circulem nas estradas junto aos carros dos crescidos – é que ter barcos só dá chatices. Quase ninguém tem barco, mas toda a gente sabe que ter barco só dá chatices.

Além de que, com os barcos, a chatice chega sempre quando menos esperamos. Que o diga a nossa Marinha. Então não é que o navio Mondego, que ainda há quinze dias estava impecável para mandar ao fundo tudo o que fosse barco russo a navegar no Atlântico, falhou ontem uma missão e teve de ser rebocado de volta ao cais devido a problemas técnicos?

Agora que penso nisso, de facto tinha ideia, das aulas de História sobre os Descobrimentos, que os marinheiros eram bons a navegar pelas estrelas. O que não sabia é que mais do que navegar pelas estrelas, os nossos marinheiros são autênticos videntes das estrelas: pois se a meio de Março já antecipavam que no final do mês o barco meteria água por todo o lado! Zandinga, quem te dera pôr os olhos nisto.

A propósito de videntes das estrelas, é totalmente desnecessário ser um para prever que mais depressa o navio Mondego é todo quitado para se bater de igual para igual com um porta-aviões da classe Nimitz (não perguntem, mas parece que são daqueles mesmo bons, e nucleares, e que navegam mesmo, e tudo), do que o Almirante Gouveia e “Noculador” Melo se retratará das acusações que fez aos militares que se recusaram a embarcar no Mondego. Eu cá vou esperar sentado. Desde que não me obriguem a fazê-lo a bordo no navio Mondego, tipo violoncelista da orquestra do Titanic, bem entendido.

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E é sem me afastar muito da temática do meter água que destaco a decisão do governo de reduzir o IVA de alguns alimentos para zero. Isto quando há quem diga que, como se verifica em Espanha, a eliminação do IVA nestes produtos não estanca as subidas dos preços. O que não surpreenderá os entusiastas da sabedoria, por isso familiarizados com a expressão “De Espanha, nem bom vento, nem bom cancelamento do IVA em alguns produtos alimentares.”

Ainda assim, por cá, o governo vai reduzir para zero o IVA de um conjunto de 44 produtos. Curioso número, o 44. Ainda assim, não tão curioso como um outro número celebremente mencionado pelo então Presidente da Assembleia da República, Mota Amaral, durante um debate parlamentar (que não revelarei qual foi, mas sempre posso adiantar que não foi o 96).

Mas muito curioso, de facto, como o número 44 continua intimamente ligado ao PS. Recordam-se, por exemplo, de quem envergou o dorsal 44 na Prisão de Évora. José Sócrates, ex-primeiro-ministro do PS, nem mais. Ou seja, por estes dias, o actual primeiro-ministro do PS apresentou-nos os tais itens numa lista de 44, quando, há não muito tempo, o primeiro-ministro do PS era o 44 às listas.

Já para não referir que, de acordo com António Costa, José Sócrates “aldrabou o PS”. Pelo que é pertinente assinalar que, tal com o 44 aldrabou o PS, aldraba-nos agora o PS com os 44. Cujos preços não temos qualquer garantia de que não aumentem, apesar do IVA a zero.