O problema mais imediato do país é, obviamente, o Governo que temos desde 2015. Começou com o «golpe eleitoral» do PS contra a norma político-partidária vigente até então, num país cujo sistema eleitoral funciona cada vez pior devido à evolução demográfica e aos cadernos eleitorais manipulados. De então até hoje, a «geringonça» não fez senão manobrar o país de «caso» em «caso», fingindo governar nalguma direcção, mas, na realidade, apenas para se equilibrar no poleiro. Por sua vez, o aumento da abstenção eleitoral só torna mais difícil saber o que o eleitorado realmente quer.

Dito isto, se a continuação da «geringonça» é a questão a resolver mais depressa, o maior problema do país é o vertiginoso envelhecimento da população com todos os custos e perdas que isso traz. Deliberadamente empurrado pelos governos para debaixo do tapete, o envelhecimento nacional foi disfarçado pelo aumento dos óbitos entre as camadas mais idosas devido à gestão atrabiliária da saúde pública. Ora, o nosso índice de envelhecimento é dos mais elevados do mundo: 161, ou seja, as pessoas de 65 anos em diante são 60% mais numerosas do que as crianças e adolescentes até aos 15. A crise demográfica é tal que a população residente, estrangeiros incluídos, diminuiu quase todos os anos desde 2010 e já perdeu 300 mil pessoas!

Simultaneamente, a pandemia abateu-se sobre a economia nacional como em nenhum outro país da UE, perdendo-se 15% do PIB em menos de dois anos, segundo as previsões para 2020 e 2021. Não é de admirar, portanto, que a confiança no presente e no futuro do país tenha descido provavelmente mais baixo do que nunca durante a pandemia. Os Portugueses são conhecidos nos estudos internacionais como sendo dos que menos confiam uns nos outros. Ora, se a cultura partilhada pela maioria da sociedade já é desconfiada por norma, imagine-se o que se passará com as pessoas mais velhas!

Por outro lado, se é exacto que os seniores foram os mais atingidos pela pandemia e por um «excesso de mortalidade» superior aos óbitos provocados directamente pela Covid-19, nunca o número de nascimentos foi tão baixo em Portugal como no ano passado. Ora, tal comportamento não deixará de acentuar, a curto prazo, a tendência para o envelhecimento populacional. A isso junta-se o semi-encerramento das escolas provocado pela pandemia, o qual só pode agravar o atraso histórico da escolaridade do qual sofremos desde sempre. É assim que o nosso «capital humano», como é designado na avaliação internacional do desenvolvimento de cada nação, se arrisca a perder valor comparativo de ano para ano. Pelo seu lado, o aumento anual do índice de envelhecimento não deixará de estar associado a essa perda de valor.

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É certo que o processo de vacinação ganhou, no último mês e meio, um ritmo próximo da média europeia e já ultrapassou os cinco milhões de vacinas. Não é menos verdade, porém, que ainda falta aplicar perto de dois terços do total, isto é, os nove milhões de vacinas necessárias para assegurar a imunidade de grupo antes do fim do Verão. Ora, se é exacto que o país levou cinco meses a aplicar 5 milhões de vacinas, dificilmente levará apenas três para aplicar os 9 milhões que faltam, embora nos últimos dias tenham sido aplicadas, em média, 70 mil por dia. 

Dito isso, a fragilidade do país perante a pandemia mostra não só a fraqueza do tecido social como a falta de competência e capacidade de decisão do Governo, o qual parece ainda não saber o que fazer: se abrir o país para pôr a economia a funcionar ou fechá-lo a fim de impedir novos surtos? Ora, o que parece estar a acontecer neste momento é o aumento do índice de contágio na região de Lisboa… Não é à toa, pois, que a Comissão Europeia continua a não transferir as somas prometidas aos governos nacionais, ao verificar que em países como Portugal, quando se abrem as portas ao desconfinamento, o vírus volta a tornar-se contagioso e a impedir o relançamento da economia.

O carácter da desgovernação socialista é caleidoscópico, dispersando-se de «caso» em «caso» sem solucionar nenhum. Algo semelhante se passa com outros países, mas o peso da questão demográfica faz-se sentir em Portugal mais do que na maioria dos outros, embora a esperança de vida não seja maior em Portugal e ter diminuído com a pandemia. O que é efectivamente maior entre nós, é a falta de substituição das gerações, ou seja, a relutância das mulheres jovens em ter filhos. Trata-se, pois, de uma profunda crise de expectativas que só será ultrapassada se e quando o país se libertar do estatismo e da economia de baixa produtividade, ao mesmo tempo que um outro conceito de Governo tenha coragem para encarar de frente a crescente iniquidade material e imaterial entre gerações!