Não sei se os jornalistas profissionais que apelaram ao Presidente da República pensavam ou não que este poderia vir a responder ao apelo de demitir o actual governo por forma a limitar as perdas acumuladas pelo PS, na senda do que este vinha fazendo desde que subiu abusivamente ao poder. É bom recordar que o «golpe parlamentar» de 2015 só teve lugar porque o Presidente Cavaco Silva estava no final do seu segundo mandato e já não podia dissolver o Parlamento perante a intenção do PS de montar a «geringonça»!
Pela minha parte, confesso que não me passou pela cabeça que o PR seguiria o meu apelo, conforme muitos leitores exprimiram imediatamente, como quem diz: «Era bom mas não vai acontecer». Seja que motivo for, é muito pouco provável que o governo seja demitido. Qualquer «governo de excepção» nomeado pelo PR teria sempre a oposição da «geringonça». Acresce o facto de tão pouco o PR e os outros partidos de governo – o PSD e o CDS, hoje ambos sem liderança credível – terem já mostrado ser incapazes de alterar o rumo do país. Sendo certo que o PS já mostrou só saber governar distribuindo o «bodo aos pobres» e elevando a dívida a níveis nunca vistos, o actual sistema político-partidário está cada vez mais parecido com o final da primeira República e, entretanto, sumiram-se as colónias e os militares…
Com efeito, o arco dos partidos de governo que tomaram conta do regime em 1976 desfez-se ao cabo das sucessivas administrações de Sócrates e de António Costa. Com excepção do governo monitorado pela «troika», desde a fuga de Guterres às suas responsabilidades no início do século XXI que o país não só deixou de crescer economicamente como se endividou sem proveito algum, ao ponto de Portugal se ter tornado num dos maiores devedores mundiais e de ter perdido, entretanto, sucessivos lugares na escala europeia.
As poucas empresas nacionais de alguma dimensão soçobraram; o resgate de «buracos» permanentes como a TAP custam os olhos da cara; a banca privada é toda estrangeira; o regime de endividamento constante não trouxe, como não podia trazer, uma efectiva modernização económica nem social; o aumento da escolaridade pouca ou nenhuma ligação tem com o tecido produtivo; finalmente, a burocracia do Estado não parou de crescer ao mesmo tempo que a população estagnava e o envelhecimento aumentava. É isto que agora se vê com a hecatombe provocada pela pandemia e pela crescente debilidade das condições de vida dos doentes e dos mais velhos!
O recente caso da demissão do pretenso «leader» do processo de vacinação é exemplar do que não deve acontecer. Primeiro, não se sabe a que título recebeu a incumbência: como secretário de Estado da Saúde, ignora-se o que andou a fazer durante mais de vinte anos; depois, ao mesmo tempo que era nomeado para administrar um hospital recém-estatizado, fez um vago plano de vacinação que desprezava o facto de 85% dos óbitos ocorrerem a partir dos 70 anos; entretanto, escondia a escassez de vacinas, o que só encorajou a miséria moral de quem se aproveita da situação para roubar vacinas; ainda foi obrigado a dar prioridade formal às pessoas com 80+ anos mas entretanto desapareceu… Como era de recear, nada disto foi explicado à população, continuando as entidades governamentais a tentar esconder a situação real.
É possível que neste momento a «curva» da pandemia tenha começado a baixar de novo, trazendo alguma pausa à enorme pressão sofrida pelos profissionais de saúde e pela economia. Na verdade, porém, os cientistas parecem ainda estar longe de conhecer todas as manifestações do vírus. Uma coisa é certa: a escassez de vacinas à escala europeia devida a uma combinação fatal entre a capacidade das farmacêuticas e a crença da UE na aquisição antecipada de muitos milhões de vacinas, as quais aparentemente não virão a tempo de conferir «imunidade comunitária» ainda este ano à maioria dos países, incluindo Portugal.
Finalmente, muito pouco ou nada se sabe da verdadeira situação sócio-económica do país. Enquanto o governo continua a falar de orçamentos sem correspondência com a realidade e em défices que só se conhecerão mais tarde, também a taxa de queda do PIB em 2020 e a sua eventual subida em 2021 pouco nos dizem, salvo que o país está a sofrer a sua maior crise desde a chegada de Salazar ao poder em 1928! Numa palavra: este governo, além de ser um monstro devorador do dinheiro dos contribuintes, perdeu qualquer credibilidade executiva. Do lado das oposições, as «esquerdas» só gritam e as «direitas» só gemem: manifestamente, não sabem fazer mais nada! No centro, o Presidente da República opina acerca de tudo mas não parece estar disposto a tentar poupar o país à triste sorte que o PS e a sua «geringonça» nos reservam!