Talvez a chave do imbróglio causado pela nomeação de Adolfo Mesquita Nunes para o cargo de administrador não executivo da Galp e a sua demissão de vice-presidente do CDS/PP não tenha tanto que ver com a circunstância das pessoas poderem (que não podem) intrometer-se no seu projeto de vida.
Muito menos com a sua decisão de não depender profissionalmente da política, uma escolha que além de muito legítima é vitalmente positiva.
O ponto de enfoque tem de ser outro,
Como bem diz pessoa muito amiga, esse ponto tem que ver com a ideia do bem maior, de um bem primeiro, do serviço.
Com o que isso poderá implicar, eventualmente, de maior ou menos sacrifício pessoal.
Nessa medida, e por exemplo, não creio que o Papa Francisco esteja excessivamente preocupado com o seu projecto de felicidade pessoal.
Mas ninguém duvida que o esteja com todos esses projectos pessoais a nível da humanidade.
Daí o seu enorme prestígio, se calhar caso único.
Isto por dizer que vivemos num tempo em que parece, transversalmente, que ninguém se quer sacrificar pelo outro, nem por coisa nenhuma.
Por outro lado, evidentemente, o desapontamento generalizado, público e notório criado por aquela situação pessoal e profissional de Mesquita Nunes tem de ser visto à luz da desmoralização – i.e., da crescente falta de moral e ética – na vida pessoal, política e partidária nacional.
Explico:
As pessoas já passaram do ponto de saturação e estão revoltadas com a indecência de uma injustíssima distribuição de rendimentos em Portugal, que é transversal, de uma permanente e exibida promiscuidade pessoal e familiar existente na vida político-partidária (vd., nesta legislatura, por exemplo, as teias de múltiplas nomeações feitas pelo governo da geringonça), e também, com a transumante e permanente correia de transmissão que funciona imparável entre a política e os altos negócios.
Nessa medida, como é óbvio e natural, as tais pessoas que andam revoltadas sentem-se ainda mais indefesas e alarmadas, porque não percebem porque é que num ano importantíssimo de eleições (que estão todas à porta), em que tinha a coordenação do programa eleitoral a seu cargo e assumia a alta responsabilidade – que é máxima – das funções de vice-presidente do CDS, Mesquita Nunes as trocou por cargo não executivo na Galp.
Como é evidente, o ponto não é haver espaço nos partidos para quem tem vida profissional.
O único, exclusivo e fundamental ponto é este sinal imensamente negativo dado à sociedade: é que, afinal, parece que o cargo não executivo na Galp é mais importante do que ser vice-presidente do CDS.
E definitivamente não é, nunca será, não pode ser.
É esse o ponto.
E a direção do CDS em peso devia ter percebido isso a tempo e a armadilha que lhe foi assim colocada desde o dia em que o convite apareceu.

Miguel Alvim é advogado

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