Em política, há dois tipos de coligações: entre os que partilham objectivos comuns, como por exemplo os governos da AD entre PPD/PSD e CDS; e aquelas que combatem adversários comuns. A aliança entre o PS e o Chega é um exemplo das últimas. É óbvio que o PS e o Chega nunca farão um governo juntos. Mas partilham um adversário politico, o PSD. Estão assim alinhados para enfraquecer os sociais-democratas. Um PSD fraco é do interesse do PS e do Chega. Aos socialistas, um PSD fraco permite continuarem a governar, com maioria ou aliados às esquerdas. Ao Chega, a fraqueza do PSD permite manter o sonho de se tornar o principal partido da oposição.
As irritações de António Costa e de Augusto Santos Silva com o Chega fazem parte do teatro parlamentar, mas não revelam qualquer convicção a favor da democracia, apenas a apetência para o PS se perpetuar no poder. As exaltações de Ventura contra o governo socialista visam enfraquecer o PSD, beneficiando da ausência de Montenegro do parlamento.
Para combater esta aliança entre o PS e o Chega, o PSD tem que fazer um pedido simples aos portugueses: se estão preocupados com o Chega, votem numa maioria absoluta do PSD. A alternativa aos socialistas não é a fragmentação das direitas, mas sim a maioria absoluta do PSD. Naturalmente, o PSD tem que merecer essa maioria, com as propostas certas para recuperar o país, mas tem que a pedir. Se o PS conseguiu uma maioria absoluta, o PSD também poderá conseguir. Em grande medida, os eleitores deram uma maioria absoluta ao PS em nome da estabilidade política, e para afastar os partidos radicais de esquerda do poder. Podem fazer o mesmo com o PSD.
Se os portugueses não derem uma maioria absoluta ao PSD, mas sim às direitas juntas, o PSD terá que falar com todos para construir uma alternativa aos socialistas. Em democracia, os partidos políticos não tratam outros partidos como “linhas vermelhas.” Seria uma falta de respeito pelos eleitores portugueses e seria um comportamento anti-democrático. Se o Chega é um partido reconhecido pelo Tribunal Constitucional, é um partido legítimo. E ninguém substitui o Tribunal Constitucional. Ponto final.
Mas o PSD deve ter “linhas vermelhas” em relação a políticas específicas. Um governo do PSD nunca poderá aceitar políticas racistas, medidas contra os emigrantes que vivem em Portugal, ou contra compromissos assumidos pelo Estado português com as populações mais pobres. Aliás, o PPD/PSD tem uma longa história na democracia portuguesa que o deve orgulhar. Todos os portugueses sabem que um governo liderado pelo PSD respeitaria os princípios fundamentais da democracia portuguesa, independentemente dos seus aliados políticos. Não consta que a democracia esteja ameaçada nos Açores.
Vale a pena recordar o exemplo da geringonça. O PS impôs “linhas vermelhas” em 2015, em relação a certas políticas, mas não em relação a partidos, por isso contou com o apoio parlamentar do PCP e do Bloco. Mas avisou desde o início que a participação de Portugal na Aliança Atlântica, na zona euro, ou a economia de mercado, nunca estariam em causa, apesar do PCP e do Bloco combaterem a NATO, o Euro e o capitalismo. Se o PS pode impor “linhas vermelhas” a políticas e não a partidos, por que razão o PSD não pode fazer o mesmo?