O que têm os rankings das escolas a ver com o desemprego? Nada. E esse é que é o problema. Os rankings das escolas não são maus. Nem malévolos. Muito menos ideológicos. Talvez, quando muito, sejam criados com base em critérios mal escolhidos (e, aqui, até desconfio que nem sempre com intenções claras). Mas, grave mesmo, é que nunca foram aproveitados para aquilo que de facto deviam servir.

Se desde que há rankings os resultados têm sido quase sempre os mesmos — entre as 30 melhores escolas há quando muito uma pública, as restantes são privadas; as melhores (públicas e privadas) estão sempre no litoral e nos grandes centros –, porque é que tão poucos reflectem nestas conclusões tão óbvias? Porque é que ninguém as estuda? Porque é que ninguém apresenta medidas para as contrariar? E porque é que a meia dúzia de coisas feitas já foi entretanto revogada?

Já devem estar a pensar onde é que meto a taxa de desemprego no meio disto tudo. Pois fazem bem pensar nisso. Deviam todos fazê-lo. Sobretudo os que têm responsabilidades (e poder) para actuar. Mesmo que nos dados mais recentes do INE só pareçam existir boas novas, uma reportagem da RTP do último domingo mostrou dados confrangedores. Há trabalho para mais quase 150 mil pessoas em Portugal dos 400 mil que não o têm, metade deles jovens dos 15 aos 34 anos. De acordo com sindicatos e patrões (sublinhe-se a aliança rara), faltam 10 mil trabalhadores para o sector têxtil, 28 mil para a metalurgia e metalomecânica, 40 mil para a hotelaria e 70 mil para a construção, com empresas a adiar investimento por falta desta mão de obra.

Volto por isso às escolas. Primeiro para falar dos cursos vocacionais e da pressa com que (entre dezenas de outras medidas) foram revogados, quando Mário Nogueira se tornou no grilo-diabo falante de Brandão Rodrigues. Eram uma coisa horrível, pelos vistos, num país em que vêm de cima os exemplos de que o importante é ter títulos de doutor e engenheiro (mesmo falsos). Depois porque socialmente, a começar nas carteiras da primária, é preciso ajudar a quebrar os tabus de que há profissões de primeira e de segunda e ensinar que cada um pode ser muito valioso em várias áreas. Mas também para insistir no ensino profissional criado por Nuno Crato e elogiado pela OCDE, que não vejo entre as preocupações da esquerda enquanto batalha (numa luta PCP/Bloco) pela lei laboral e discute os horários (terríveis e exclusivos) da AutoEuropa.

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Mas há muito mais para refletir. E para aprender. Não basta gritar que os rankings não valem nada porque só os ricos podem pôr os meninos nas escolas privadas e lhes podem dar bom acesso à cultura e à educação, enquanto noutras zonas e meios sociais há problemas com crianças que se reflectem em todos os alunos e respectiva aprendizagem. Porque, como as listas provam (desmentindo a tese ideológica em curso), as privadas até inflacionam as notas e nos exames o fosso já não é tão grande. O que vale mesmo a pena estudar é como estas privadas ensinam e como os professores têm de acompanhar os alunos em várias tarefas não curriculares (e não, não ganham mais que no público, nem tem o respaldo do sindicalista que manda no ministério para muitas queixas sem sentido). E tudo isto, acreditem, também conta para as notas finais e para os lugares nos rankings.

Mais. Estes rankings (com base na miséria das notas dos exames que revelam) deviam também já ter servido para reabrir vários outros debates:

– A das escolhas (definitivas) de áreas no 9º. ano: os alunos terão mesmo atualmente maturidade para uma opção dessas aos 15 anos? Pela minha experiência, a maior parte anda baralhada nos três anos seguintes e muitos mudam a meio ou no fim com as consequências que daí decorrem.

– A de se os currículos e as formas de ensinar estão mesmo adequados aos novos tempos? Cada vez que falo com a minha filha e os meus sobrinhos sobre o que lhes ensinam e não ensinam fico com taquicardias. Desde o distanciamento histórico sobre o 25 de abril e a ditadura, às mudanças no mundo no pós II Guerra Mundial, até episódios como o Watergate, nada existe (valham os grandes educadores que são os filmes de Hollywood!).

– E também se os cursos das faculdades foram já atualizados? É que há estagiários que chegam agora aos jornais, depois de pelo menos três grandes revoluções nos media, que me falam exatamente das mesmas cadeiras e da mesma matéria que tive há 30 anos.

Os rankings não podem apenas servir para saber qual é a melhor e a pior escola, por mais que a transparência seja sempre de louvar num país que a detesta. Têm de ser o ponto de partida para fazer com que o ensino possa formar mais e melhores profissionais, em muitas e diversas áreas, preparados e adequados aos tempos que vivemos e às necessidades de todo o país (mesmo todo). Rui Rio, em vez de se ter indignado porque não escolheu a Google o Porto em vez de Oeiras para instalar o seu centro tecnológico, devia era ter proposto uma escola profissional do género em Castelo Branco, Bragança ou Vila Real.

Não basta fazer listinhas. Os rankings não se podem limitar a um interativo anual onde pais vão clicar para depois tentar fazer umas maroscas com as moradas antes das matrículas, em nome do melhor para os filhos e também da sua logística diária. A forma como são feitos e as zero consequências que deles são tiradas (até porque o ministro é contra) parece propositado para os achincalhar e para um dia deixarem de vez de existir. Para se voltar ao que o coro dos do costume e as corporações sempre quiseram: zero avaliação, zero responsabilização, zero penalizações por erros, zero subidas apenas por mérito e obviamente zero despedimentos por incompetência. Siga a banda, venham os direitos acrescidos que os deveres já são muitos.

Pois devia ser exatamente o contrário: olhar, ver, analisar, estudar e mudar. Isso! Aquela palavra maldita: reformar.

Só mais duas ou três coisas…

  • Sócrates tem razão. Há mesmo muitas semelhanças entre as operações Marquês (que o envolve) e Lex (que envolve o único juiz que lhe deu razão num recurso e foi afastado depois disso). Ambos os processos incluem pedidos de dinheiro vivo guardado em cofres e arrecadações, gastos milionários acima dos rendimentos, testas de ferro e várias mulheres. Para já, a única diferença que salta à vista é que no primeiro caso já há acusados.
  • Miguel Pinto de Luz diz não ter padrinhos. Estranha escolha de palavras. A uma semana do Congresso do PSD que vai oficializar Rui Rio como líder, foi ele quem já lhe traçou por carta um pesado caderno de encargos. Foi ele quem já lhe apareceu como oposição interna. E apoiado por quem? Miguel Relvas, o homem a quem até Passos, que não é capaz de deixar cair um amigo, deixou de falar. Agora já com canudo tirado, imagine-se o poder e influência que Relvas pensa ter (ou tem, a julgar pelas últimas notícias).
  • Ainda Centeno e o pedido de convites VIP para a Luz. Para além da inequívoca violação do código de conduta criado pelo Governo (que está claríssima no despacho de arquivamento do MP), uma pergunta: os que não vêem qualquer problema que o ministro das Finanças esteja na tribuna de um clube com dívidas ao fisco ao lado de um presidente com conflitos fiscais (pelo menos), o que diriam se lá estivesse Joana Marques Vidal ou Carlos Alexandre? Bem, talvez achassem normal, como acharam ver Pinto Monteiro e Noronha do Nascimento na apresentação do livro de Sócrates.