O Benfica Campus no Seixal tem produzido talentos fantásticos nos últimos 10 anos. Tem um conjunto de infraestruturas modernas que impressionam e uma equipa de dirigentes, treinadores, formadores e outros técnicos, muitos deles anónimos, até dos sócios que contribuíram ao longo destes anos para a continua melhoria de qualidade da nossa formação. As equipas que têm participado na Youth League, competição de jovens mais prestigiada da Europa, têm chegado sempre às fases finais da competição tendo já participado em três finais que infelizmente perderam, mas o que mais importa é que estão nas finais juntamente com as melhores equipas da Europa.

Impressionante o número de jogadores formados no Benfica Campus que jogam hoje em equipas de 1º nível da Europa. Éderson, Rúben Dias, Cancelo e Bernardo Silva (Manchester City ), Lindelof (Manchester United ), Rúben Semedo (Barcelona/Wolverhampton), J. Oblak e João Felix (Atlético de Madrid), Gonçalo Guedes (Valência ), André Gomes (Valência, Barcelona, Everton ), Renato Sanches (Bayern, Lille), Helder Costa (Leeds ), entre outros. João Félix foi eleito o melhor jogador jovem do mundo em 2019 . O Benfica é hoje mais reconhecido internacionalmente como um grande clube formador do que propriamente pelas feitos da sua equipa sénior, sobretudo a nível internacional.

Tendo formado tantos jogadores hoje titulares em equipa de topo da Europa, como nenhum clube em Portugal, e talvez da Europa, nos últimos anos, como se explica que a equipa sénior não tenha a hegemonia do futebol nacional e não passe da 2ª divisão europeia?

A entrevista recente do Presidente do SLB ao canal do Clube revelou a confusão desportiva que vai na cabeça dos responsáveis do Clube. É evidente que os sócios o que querem é títulos e ver bom futebol, seja com jogadores da formação seja com jogadores estrangeiros. Portanto qualquer Direcção vai ser sempre criticada se não conquistar títulos ou for eliminada da Liga dos Campeões prematuramente, seja qual for a nacionalidade dos jogadores.

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O Presidente do SLB não deve ficar surpreendido com isso ou achar justo ou injusto e muito menos vitimizar-se culpando os sócios. Tem que conhecer atempadamente a qualidade das gerações que vão saindo do Seixal a cada ano, e não vão ser todas da mesma qualidade, e a partir daí construir a tempo e horas planteis competitivos para atacar todas as frentes com mais ou menos jogadores da formação.

Ninguém vai aceitar perder campeonatos com uma equipa toda formada no Seixal e ninguém vai entender que se comprem jogadores estrangeiros a granel de nível igual ou inferior aos jogadores da formação. Esse fundamentalismo e o seu inverso têm confundido toda a gente, inclusivé o Presidente do Benfica, com danos para os resultados desportivos. O objectivo principal é conquistar títulos e recuperar o prestígio internacional e não a nacionalidade dos jogadores.

O nível de exigência de qualidade na equipa sénior tem de ser muito elevada, por isso só alguns jogadores da formação terão hipóteses de jogar na primeira equipa. No entanto, tendo o Benfica um Centro de Formação com o crédito de ter formado recentemente jogadores de Top europeu, não é um crime não lhes dar uma oportunidade na primeira equipa ou preteri-los para jogadores estrangeiros de qualidade duvidosa? Sem falar no que estes podem acrescentar à equipa em termos de adaptação imediata ao futebol português e o que transportam em termos de ADN do Clube.

No entanto a aposta nos jovens da casa tem de ser feita com critério e sobretudo sem fundamentalismos, para não deitar tudo a perder. Mas nós temos andado entre o Bernardo Silva e o João Cancelo, que nem jogaram na primeira equipa do Benfica e hoje são titulares do Manchester City, líder da Premier League, ao João Félix que teve a sua oportunidade com 18 anos na primeira equipa e foi vendido para o Atlético de Madrid, mas deixou o Benfica campeão, e agora voltamos ao Gonçalo Ramos que parece que só joga se o Seferovic e o Darwin partirem as pernas. Quem entende isto? Qual o sinal que damos aos jogadores da formação que estão nas equipas B e sub23 sobre o seu futuro? Devem renovar contratos com o Benfica ou procurar clube?

A recuperação financeira do clube e a excelência das infraestruturas da Academia, tantas vezes propagandeada e repetida pelo Presidente do Benfica, só nos interessa se servir para segurar os supertalentos mais uns anos, até à inevitável venda, e contribuir para construir planteis competitivos que nos tragam títulos.

Somos uma agremiação desportiva e não uma sociedade financeira e a esmagadora maioria dos sócios são adeptos, não são accionistas. A nossa vida é construir planteis para ganhar títulos e dar espectáculo. Hoje mais do que nunca, é preciso fazer muito, com pouco, e não o contrário .

O tempo é do desporto e da gestão desportiva e não de mega-investimentos, ou melhor são tempos de transformar os investimentos dos últimos anos em sucesso desportivo. Ideias claras e menos fundamentalismo são urgentes para o sucesso desportivo próximo. Fugas para a frente são altamente danosas e levam no fim a procurar desculpas em todo o lado menos nas verdadeiras razões.

Mas o Presidente, a estrutura do futebol e o treinador escolhido têm de estar todos em sintonia com a estratégia. Vitórias sem rumo são caras e circunstanciais. Só o rumo certo nos trará a hegemonia prometida e o prestígio internacional de volta.