Este verão, na revista Sábado, José Pacheco Pereira desferiu um cerrado ataque aos partidos políticos portugueses devido ao seu silêncio sobre as manifestações democráticas em Hong Kong. “O que se passa não é um conflito regional, nem asiático. Trata-se de saber, na linha da frente da resistência à variante comunista-capitalista da China, se Hong Kong perderá de facto muitas das liberdades e autonomia que os ingleses, sejamos justos, lutaram por deixar”, escreveu Pacheco, constatando a ausência de “artigos”, “manifestos”, “moções” e “tomadas de posição visíveis” na sociedade portuguesa acerca da situação. Como afirma o historiador, “não é só a lei da extradição suspensa, mas não retirada, é a independência dos tribunais, a liberdade de concorrer às eleições, o direito de protesto, tudo o que mantém por um fio a democracia em Hong Kong” que está em causa.

Para que fique claro: Pacheco Pereira tem razão. Devemos interrogarmo-nos se o modo como a presença chinesa condiciona a ação política e o discurso público na Europa é – ou não – civicamente saudável. Não pretendo ser alarmista em relação a uma inevitabilidade, mas antes realista sobre algo que merece reflexão.

O silêncio dos partidos políticos acerca de Hong Kong é, dentro dos partidos políticos, justificado com a noção de “interesse nacional” e com a própria doutrina da política externa portuguesa, que ancestralmente incentiva à ausência de inimigos na arena internacional. É claro, pelo menos para mim, que ambas serão alvo de mudanças no futuro próximo – não apenas pelas alterações em curso no nosso sistema político, mas sobretudo pelo modo como a geopolítica e os seus equilíbrios de poder estão também a mudar. É igualmente claro que um país pequeno e financeiramente limitado não se pode dar ao luxo de grandes idealismos, por mais moralmente louváveis que estes sejam.

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