A ligação entre a literatura e os telegramas diplomáticos é lendária, ainda que incomum. Os textos de Isaiah Berlin ao serviço do Foreign Office tinham uma qualidade tal que Churchill fazia questão de recebê-los diretamente em Downing Street. John le Carré, de forma mais oficiosa, escreveu as suas primeiras histórias sobre George Smiley enquanto cônsul. William J. Burns, o homem que vai dirigir a CIA da nova presidência americana, é dono de igual dom.

Em 2006, como embaixador dos EUA em Moscovo, assinou um telegrama que se tornaria célebre ‒ particularmente após ser exposto na plataforma Wikileaks. Burns, que trabalhou no Departamento de Estado mais de trinta anos, de Ronald Reagan a Barack Obama, presenciou um casamento no Daguestão, a maior região autónoma do norte do Cáucaso, entre o filho de um deputado da Federação Russa e a respetiva noiva.

“Os seus negócios ‒ e uma relação próxima com empresas americanas ‒ proporcionaram-lhe o suficiente para ter casas em Makhachkala, Kaspiysk, Moscovo, Paris e San Diego, assim como uma coleção de carros de luxo que inclui o Rolls Royce em que Dalgat [o filho] foi buscar Aida [a noiva] à receção dos pais”, narra Burns, ao pormenor, revelando que ele próprio já usufruíra da mesma boleia, “mas com a dificuldade de uma Kalashnikov ocupar grande parte do espaço para os pés”.

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