Finalmente, descobrimos porque é que a PJ não participou na Operação Influencer e teve de ser a PSP a entrar em acção. Pelos vistos, cada força policial só pode envolver-se num caso de vigarice telefónica de cada vez e a Judiciária já estava a investigar o seu: soube-se agora que a PJ capturou o burlão que andava a extorquir dinheiro através do golpe no WhatsApp conhecido como “Olá, Pai /Olá, Mãe”. Para quem nunca foi alvo da moscambilha, consiste em enviar uma mensagem a um idoso de um número desconhecido, fazendo-se passar pelo seu filho que perdeu o telemóvel e precisa de dinheiro com urgência.

Já recebi algumas destas solicitações, mas felizmente nunca me deixei enganar. Havia ali qualquer coisa que me fazia desconfiar. Acho que era o trambiqueiro ser mais modesto nos pedidos do que os abusadores dos meus filhos são habitualmente. O burlão pedia-me 20 euros com bons modos, enquanto os meus filhos nunca me exigem menos que 50 e nem se dão ao trabalho de suavizar com um emoji de mãos a rezar.

Outros não tiveram a mesma sorte e caíram na esparrela. O instinto humano de dar dinheiro a quem está em dificuldades leva-nos a baixar a guarda. Sei do que falo, sou sócio do Sporting.

Desta vez, o criminoso foi apanhado pela PJ. Provavelmente, deve ter começado a perceber que esta fraude ia deixar de funcionar em Portugal e, com a ânsia de aproveitar o máximo, exagerou e desleixou-se. É que, muito brevemente, Portugal vai deixar de ter as condições ideais para a prática deste embuste. Vai continuar a haver idosos para enganar – cada vez mais, aliás. Só que vão ser idosos sem filhos, uma vez que os portugueses estão a deixar de se reproduzir.

Se um charlatão quiser continuar a usar este estratagema, vai ter de o adaptar ao novo tipo de velhinhos que Portugal começa a ter. Para valer a pena, o charlatão terá de escolher idosos com o nível de demência exacto que lhes permita não se lembrarem que não têm filhos, ao mesmo tempo que mantêm a capacidade de enviar dinheiro pela internet.

Outra hipótese é inverter o paradigma da burla e transformar o “olá, pai” em “bom dia, filho”, um golpe em que um idoso contacta o filho, diz que se enganou no PIN três vezes e, por ter o telefone bloqueado, está a enviar mensagem do telemóvel do merceeiro a pedir dinheiro com urgência porque precisa mesmo de comprar raspadinhas antes que a papelaria feche.

Diz-se que a resposta ao problema demográfico está na emigração. Só a vinda de estrangeiros pode resolver o problema do envelhecimento da população, para voltarmos a ter uma pirâmide etária em vez de um gramofone etário. Talvez isso até sirva o país, mas em que medida é que ajuda os burlões? Só se forem poliglotas que conseguem falsificar mensagens em árabe, romeno e cirílico. Com o estado do ensino em Portugal, não é verosímil este nível de qualificação profissional.

O que o aldrabão que pretende continuar a operar no mercado de idosos em Portugal deve fazer é procurar outro pretexto para espoliar. Felizmente, é um país que ainda oferece situações em que velhinhos se predispõem a ser vítimas de aldrabice. O idoso pode não ter filhos, mas de certeza que tem necessidade de ser visto por um médico. Se receber uma mensagem falsa em nome do SNS a sugerir que, pagando 15 euros, é possível marcar uma consulta para a semana seguinte, o idoso não hesita e transfere logo 30, só para garantir que o médico não escapa mesmo.

O bom vigarista sabe jogar com as expectativas e com a aflição que leva as pessoas a suspenderem o juízo racional. Em Portugal há muito disso. Com jeitinho, consegue-se alargar a base de recrutamento de burlados e deixar de apontar apenas à 3ª idade. Um alvo fácil são casais jovens sem sítio para deixarem os filhos pequenos quando vão para o trabalho. O desespero dos pais que não conseguem lugar na creche é tal que chegam a ter inveja daqueles israelitas com filhos raptados pelos terroristas. Se recebessem um WhatsApp a pedir 500 euros por um lugar na creche do Hamas, aceitavam logo.