A direita partidária em Portugal não existe quando faz tanta falta. Desde 1975, a direita nunca esteve tão frágil como está agora. O PSD quer chegar ao governo sem fazer oposição. Rui Rio aparece de vez em quando para que os portugueses não se esqueçam que existe. De resto, espera que a crise económica que aí vem derrube o governo socialista e que o poder lhe caia no colo. Ninguém sabe se isso vai acontecer. Mas há uma certeza. Se algum dia chegar ao governo sem um mandato popular forte, nada fará contra a oposição das esquerdas.
A verdade é que não sabemos se Rio acredita mesmo na possibilidade de uma alternativa ao governo do PS, em termos de políticas e não de pessoas ou partidos. Sabemos que acredita em contas públicas equilibradas (Centeno também), que é contra a corrupção e, simultaneamente, contra a autonomia do Ministério Público, e que não gosta da comunicação social, o que não abona em relação ao seu compromisso com a liberdade. De resto o que pensa Rui Rio sobre as questões importantes para Portugal?
Rui Rio parece reduzir a economia às finanças públicas. Mas neste momento essa não é questão central da economia portuguesa. Não estamos em 2011, e a dependência do país do BCE não deixa o PS regressar à irresponsabilidade fiscal dos tempos socráticos. A questão essencial para o futuro dos portugueses é sobre o modo como se fará a recuperação económica: com uma maior intervenção do Estado, ou assente na iniciativa privada e nos empresários? Não faço a mínima ideia sobre o que pensa Rui Rio sobre resposta a esta questão.
A política e a liderança de um partido não são questões académicas. A resposta aquela questão é dada com a praxis política e tomando posições em casos concretos. Vamos olhar para três exemplos actuais. Em primeiro lugar, começam a aparecer sinais de que os apoios do Estado privilegiam ajustes directos a empresas dos amigos e conhecidos do PS. O PSD foi sempre o partido dos pequenos e médios empresários. Onde está esse PSD? Nunca vejo o líder do PSD a visitar fábricas de sucesso, de capital privado; e há tantas perto de sua casa, nos distritos de Aveiro, de Braga e do Porto, o verdadeiro pulmão empresarial do nosso país. O PSD não apresenta propostas para ajudar as empresas privadas, e exportadoras, a saírem desta crise em condições de criarem riqueza e postos de trabalho de qualidade para os portugueses. Quem defende os pequenos e médios empresários em Portugal, aqueles que não frequentam os corredores do poder de Lisboa? Ninguém.
Falei do segundo exemplo na semana passada. O ataque do ministro Pedro Nuno dos Santos à TAP foi sobretudo um ataque ao investimento privado em Portugal. Rui Rio esteve calado. O que pensa sobre a necessidade de defender o investimento privado e estrangeiro em Portugal? O que pensa sobre o que se passa com a TAP? Sobre os concorrentes europeus da TAP estarem a ser ajudados pelos seus governos, através de garantias de empréstimos (e não através de nacionalizações totais ou parciais, com a excepção da Alitália, cuja nacionalização já havia sido decidida pelo governo italiano antes do Covid-19).
Obviamente, as esquerdas aproveitaram os problemas da TAP para atacarem a decisão do governo de Passos Coelho sobre a sua privatização. Nem aqui Rio foi capaz de defender o último governo liderado pelo seu partido. Não foi capaz de comparar a situação desastrosa da companhia, quando era inteiramente nacionalizada, com a situação actual. Deixo aqui uma comparação com outra empresa da área dos transportes. A CP, cuja concessão a privados foi impedida pelo governo socialista, recebeu mil e oitocentos milhões de euros de ajuda do Estado entre 2016 e 2019. Foram 17 aumentos de capital, em três anos, seguramente um recorde mundial. E nem assim a CP foi capaz de renovar o seu equipamento rodoviário, tendo falta de comboios (ao contrário do que fez a TAP com a sua frota de aviões). Se a TAP for nacionalizada, o seu futuro será igual ao presente (e futuro)da CP. É isso que defende o PSD?
O terceiro exemplo diz respeito ao sector da saúde. A saúde privada é atacada todas as semanas pelas esquerdas radicais, com a cumplicidade de membros do governo, a começar pela ministra da Saúde. Todos os estudos independentes dos últimos anos defendem a qualidade da saúde privada em Portugal. Temos dois ou três grupos de valor elevado, no contexto europeu. O sector da saúde privada cresce na generalidade dos países da UE, onde os governos já perceberam que os serviços públicos de saúde serão cada vez mais insuficientes. Mais importante, os cidadãos portugueses recorrem ao sector privado porque reconhecem qualidade. Não o fazem por razões ideológicas, mas sim de saúde. Mais uma vez, o que pensa Rui Rio sobre o assunto? Se defende a saúde privada por que não o diz de um modo claro e em voz alta? Estaria a defender o direito de escolha dos portuguese a serviços de qualidade.
Desde 1975, nunca a ameaça estatizante sobre a nossa economia foi tão grande como hoje. A recuperação gradual e lenta da economia apenas agravará essa ameaça. O PSD deixou de ser a voz dos empresários, dos grupos económicos privados e do investimento externo, tudo o que a economia portuguesa precisa. Rui Rio assiste de um modo passivo aos ataques à iniciativa privada e aos avanços do Estado na economia. É o preço da sua estratégia de tentar chegar ao governo em silêncio. Ou de uma ausência de convicções de acordo com a história e o património doutrinal do PSD.
Esta oposição fraca e sem convicções diminui a qualidade da nossa democracia, fragiliza a nossa economia e aumenta o desencanto de muitos portugueses com a política. Cresce assim a abstenção. Deixo aqui um último dado. Em 2011, quando a direita conquistou a última maioria absoluta, a abstenção foi de 41%. Nas últimas eleições, em 2019, foi de 51%. Sem recuperar esses 10% de votos, a direita não voltará ao governo. O seu eleitorado continuará desiludido, sem representação política e à espera de um verdadeiro líder. Hoje, a grande divisão política em Portugal é entre uma esquerda mobilizada e beneficiada pelo Estado, e uma direita desmotivada e desencantada. O PSD é o culpado.