Aquilo que começa mal tarde ou nunca se endireita. Com efeito, tivesse António Costa anunciado aos eleitores em 2015 que, no caso de não ganhar a eleição, iria fazer uma aliança com os partidos da chamada extrema-esquerda a fim de tomar o poder, certamente que o eleitorado não lhe teria dado os votos que lhe deu e a aliança PSD+CDS teria tomado legitimamente o poder que se esperava da sua vitória de acordo com a praxe constitucional do país!

Mais: se o presidente da República, Cavaco Silva, não tivesse entrado nos últimos seis meses do seu segundo mandato, poderia ter mandado repetir a votação e logo se veria a derrota da futura «geringonça» e a legítima vitória da aliança PSD+CDS, a qual já conseguira retomar o crescimento económico depois de gerir do melhor modo possível a intervenção internacional provocada pela falência do governo Sócrates, cuja sombra está longe, aliás, de ter desaparecido da cena provocada pela voracidade de uma candidata a secretária de Estado saída da falida TAP com meio-milhão de euros a pagar pelos contribuintes!

Este cenário vergonhoso veio confirmar que o PS tantas vezes fora ao mar que acabaria, se não por naufragar de vez, pelo menos encalhar e perder o rumo de vez… Perante esta nova cena de contratações furadas e demissões aos rodos, o primeiro-ministro tentou em vão empurrá-la para debaixo do tapete enquanto o presidente da República esbracejava como é seu hábito. É de crer que a badalada «maioria absoluta» já de pouco ou nada servirá perante a crise mundial em curso ao mesmo tempo que tanto as eleições presidenciais como as legislativas estão a pouco mais de três anos!

Com efeito, a forma como António Costa e Rebelo de Sousa se mancomunaram para entregar o governo à «maioria absoluta» desembocou, em menos de um ano, numa série ininterrupta de desaires sociais e económicos devidos não só à crise mundial marcada pela inflação e à guerra, mas também pela incompetência e oportunismo governamentais. Entretanto, já lá vai uma dezena de segundas figuras às quais vieram agora juntar-se figuras de outro peso como o ministro Nuno Pedro Santos, sabidamente candidato à sucessão do actual primeiro-ministro, e o seu secretário de Estado Hugo Mendes.

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Este vem dos tempos de Sócrates e já desempenhara o papel do ministro na assinatura do decreto de construção de um novo aeroporto e agora voltou a assinar o decreto de nomeação de uma funcionária da TAP candidata à secretaria de Estado do Tesouro, destinada se bem se percebe ao Ministério das Finanças e não ao das Infra-Estruturas… Venha o diabo e esclareça estes jogos intra-partidários!

Com efeito, se o jogo de favores no tempo da «geringonça» já não escapava aos nossos olhos, no interior do actual governo monocolor cresceu, entretanto, o «secretismo» provocado pela incessante balbúrdia de recrutamentos e despedimentos cada vez mais ligados à corrupção, bem como aos manifestos «amiguismo» e «familismo» de novos e velhos membros do PS, bem como dos seus familiares, alguns dos quais já foram eliminados e outros tantos estão indigitados para ser julgados e possivelmente excluídos da cena político-partidária.

A última gota do cambalacho, que nos faz pensar no que virá a ser a governação partidária no futuro próximo, é a referida cena da candidata a secretária de Estado oriunda da operação TAP, com o bolso cheio de centenas-de-milhar de euros a pagar pelos contribuintes, foi politicamente catastrófica e deixará o seu rasto. Entretanto, não são desmentidas as intervenções nas várias fases do processo por parte de parentes próximos do presidente da República bem como de um ministro com mais peso do que valia mas igualmente concorrente à sucessão do primeiro-ministro… Os visados apresentarão as suas negações, imaginamos!

Particularmente significativa deste clima de cambalacho é, pelo seu esquecimento artificial da ordem do dia, a «oração à juventude» debitada pelo primeiro-ministro no primeiro dia do Ano Novo sem o número e a idade dos ouvintes ter sido revelada, ficando-se por um jornal de segunda linha que pouquíssimos jovens terão lido… Segundo o próprio jornal, o 1.º ministro começou, significativamente, por evitar «qualquer referência à actual situação política» e prometendo aquilo que não tem poder para fazer, ou seja, «pressionando o setor privado a aumentar os salários nas contratações de jovens qualificados em início de carreira».

O resto são promessas longínquas e improváveis que mostram o futuro que de facto nos espera, tais como «o país será neutro em carbono em 2050»; «na década de 2040 terá um PIB per capita acima da média europeia»; «até 2030 retirará 660 mil pessoas de situação de pobreza»; «reduzirá para metade o número de crianças nessa situação»; «investirá 3% do PIB em Investigação & Desenvolvimento»; e «até 2026 terá a dívida pública abaixo dos 100% do PIB». São, enfim, aquilo a que se chama promessas que o vento leva e não devem ter convencido ninguém…