“Eles” são as esquerdas que se apropriaram do 25 de Abril. Para eles, a revolução deveria servir para construir uma sociedade socialista onde as outras famílias políticas têm uma posição subalterna. Por isso, a Iniciativa Liberal foi proibida de participar no desfile da Avenida da Liberdade. Vejamos: um partido liberal impedido de descer a Avenida da Liberdade no dia da Liberdade. A negação do direito de celebração do 25 de Abril, quando a Revolução foi feita para todos os portugueses, é uma decisão profundamente anti-democrática. É a “liberdade” na versão socialista.

Houve ’várias revoluções’ e, em 1974, ninguém tinha um plano ou sequer uma estratégia para o que se seguiria. Todos foram adaptando-se às circunstâncias políticas. O Estado Novo estava podre e caiu sem grande dificuldade e os militares revolucionários queriam acabar com as guerras em África. O PCP nunca quis uma democracia ocidental e pluralista. Desejava a ditadura do proletariado, mas as suas estratégias estiveram sempre subordinadas aos interesses da antiga União Soviética. O PS de Mário Soares era anti-comunista porque sabia que o PC ameaçava a liberdade dos portugueses, a começar pela do PS. O PPD e o CDS queriam uma sociedade ocidental e liberal em Portugal, aos quais se juntou o PS para derrotar os comunistas.

Mas, no PS, ao anti-comunismo juntava-se a tradição jacobina que dava aos socialistas a crença de que seriam os donos naturais do regime. Os partidos das direitas seriam úteis para combater a ameaça comunista, mas a partir daí só deveriam ser e fazer o que o PS lhes permitisse.

Quase 50 anos depois do 25 de Abril é aqui que nos encontramos. As esquerdas revolucionárias impedem a IL de participar no desfile da celebração do 25 de Abril. O PSD de hoje (nunca esteve tão longe do PPD de Sá Carneiro) não ousa desafiar os limites impostos pelo PS. Foi confrangedor assistir a uma entrevista de David Justino, vice-presidente do PSD, na SIC Notícias. Foi incapaz de afirmar que o problema Sócrates revela a cultura de poder do PS. O receio de atacar o PS foi claro e revelador. O PSD de Rio está completamente domesticado pelo PS de Costa.

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Por seu lado, o PS tornou-se no partido central do regime político, cumprindo assim o desígnio de partido-Estado. Na cultura política socialista, não se distingue o Estado, do governo e do partido. Dito de outro modo, quando o PS chega ao governo, o governo socialista controla o Estado português. As vitórias eleitorais não são entendidas como um mandato para servir os portugueses, mas como uma licença para continuar a ocupação do Estado.

Em 2021, 47 anos depois do 25 de Abril, há um PS com um poder quase absoluto, e as esquerdas revolucionárias com mais força do que nunca. Foi isso que levou à proibição da IL de descer a Avenida da Liberdade. Tudo o que ponha em causa esse domínio socialista, é visto como uma ameaça “neo-liberal”, “populista”, ou de “extrema direita” ao regime. Se as nossas direitas fossem forças políticas que impusessem respeito, e não se reduzissem ao que o PS lhes permite ser, organizariam uma grande marcha pela liberdade do dia 25 de Novembro para celebrar o dia da vitória da democracia pluralista e liberal em Portugal. No dia em que descerem a Avenida da Liberdade, com todos os líderes dos partidos de direita à frente do desfile, e seguidos por dezenas de milhares de pessoas, as esquerdas percebem que as direitas não se acomodaram e querem mudar este país. Até mostrarem que são fortes, o PS continuará a fazer o que quer.

PS: Em Cabo Verde, o PAICV tentou, sem quaisquer escrúpulos e de um modo desonesto, associar o MPD ao Chega e à extrema direita europeia. Os cabo-verdianos responderam dando a maioria absoluta ao MPD. Deram uma lição de como se derrota o populismo das esquerdas.