Quarenta e oito anos depois, não podemos escamotear que Portugal está muito aquém do que prometia “o dia inicial inteiro e limpo”.

Festejámos, há poucos dias, a data em que passámos a ter mais dias de democracia do que de ditadura. Quarenta e oito anos é muito ano. Tempo mais do que suficiente para termos mudado o nosso destino de país pequeno, ou médio, nas palavras do Presidente da Assembleia da República, na ponta mais ocidental da Europa.

A verdade é que a Revolução dos Cravos prometia a liberdade, a democracia e tudo o que ela traz como possibilidade de desenvolvimento. Quarenta e oito ano passados, tivemos três intervenções externas e muito pouco desenvolvimento tendo em conta as expectativas.

Houve progresso? Sim. Mas houve o progresso prometido? Não. Portugal fez um caminho difícil depois de 1974, primeiro com a instabilidade normal depois de um período revolucionário, depois com a estabilização do novo regime. Tudo isso é normal. Mas já não é normal termos vinte e três Governos em quarenta e oito anos. Dá uma média de dois anos por Governo, sendo que a Constituição prevê que os Governos sejam eleitos para legislaturas de quatro anos.

Talvez o que digo acima explique o desnorte com que se governa em Portugal. Talvez o facto de termos Governos de curtíssima duração justifique que Portugal, ao fim de quarenta e oito anos, continue sem uma estratégia clara e sem um objetivo que mobilize os portugueses.

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Neste momento, Portugal é um país de velhos sem políticas demográficas que mostrem um futuro mais promissor. Neste momento, Portugal é um país de salários baixos e empresas pouco ou nada competitivas. Neste momento, Portugal forma fornadas de licenciados que saem da Universidade para o desemprego ou para a emigração. Há dias, um emigrante que regressou a Portugal depois de dezassete anos em Londres perguntava-me como era possível que se ganhasse tão pouco em Portugal. Fiquei sem resposta. Também eu não sei explicar.

A verdade é que em quarenta e oito anos fizemos muito pouco para mudar o nosso fado. Podemos consolar-nos ou enganar-nos com a velha história de que formamos mais gente, entrámos na União Europeia, criámos infraestruturas, um serviço nacional de saúde e um sistema de segurança social. Podemos até achar que se fizermos as reformas necessárias, como ontem abundantemente ouvimos da oposição no Parlamento, temos o nosso problema resolvido. Mas não é isso que principalmente nos falta. O que nos falta é uma estratégia, um objetivo, uma meta, um caminho que mobilize os portugueses.

“É bonita a festa pá”, mas temos que olhar para a realidade. Fizemos muito pouco nestes quarenta e oito anos para mudar a vida dos portugueses. A prova provada é o facto de seis países de Leste, que integraram a União Europeia apenas em 2004, nos terem ultrapassado no ranking do PIB per capita: República Checa, Eslovénia, Lituânia, Estónia, Polónia e Hungria.

Fui daquelas que embirrei com a política do bom aluno de Cavaco Silva. Mas tenho que reconhecer que, pelo menos nesse tempo, tínhamos um objetivo claro e trabalhávamos para o alcançar. Depois da adesão à moeda única, Portugal parece ter ficado sem rumo. Não basta dizer que temos que aumentar salários e que temos a geração mais qualificada de sempre. É preciso saber o que fazer com isso.

Portugal é um país pequeno, na ponta ocidental da Europa, cheio de sol e com uma qualidade de vida incomparável. Mas na era da digitalização, com uma geração qualificada e com os recursos naturais que temos, vivermos apenas disso é muito pouco, não há desculpas para o triste fado que temos pela frente.

Se as vistas curtas de quem só quer governar para se manter no poder quiserem dar Abril aos portugueses, há muitos caminhos por onde andar. Numa época em que a sustentabilidade é a palavra-chave para o futuro, Portugal tem muitas cartas para dar, é só escolher e deitar mãos à obra. Temos uma zona económica exclusiva com uma área maior do que a Índia, completamente inexplorada. Passamos o tempo a falar disso, só falta mesmo decidir se queremos ser o futuro, ou se nos satisfazemos com este país fantástico para os que de fora vêm passar férias, mas muito poucochinho para os que cá vivem. É um caminho óbvio, pode haver outros, mas por favor escolham um e mobilizem o país em torno de um objetivo.

Falta cumprir Abril.