Quando Álvaro Santos Pereira disse que Portugal deveria exportar os pasteis de nata, tornou-se obvio que esta iguaria da gastronomia portuguesa, era um ativo estratégico que o nosso país estava a subestimar. Infelizmente os governos portugueses não perceberam esta situação, de outra forma teriam nacionalizado este ativo estratégico. A nacionalização dos pasteis de nata, tiraria das mãos dos privados a nossa maior contribuição para a gastronomia mundial. Seriam a pimenta da Índia ou o ouro do Brasil do sec. XXI.

Ao deixarem de estar subordinados à logica do lucro capitalista, os pasteis de nata ficariam disponíveis para toda a população. Para levar a cabo essa medida social, o governo teria de criar o Serviço Nacional dos Pasteis de Nata (SNPN). Está claro que os pasteis de nata passariam a ser tendencialmente gratuitos, de acesso universal e de qualidade.

Como é obvio o governo teria de transferir muitos milhares de milhões de euros dos nossos impostos para o SNPN, com o objetivo de garantir que os pasteis de nata não faltavam aos portugueses. Com o tempo, e levando em conta o que se passa nos outros serviços públicos, iram começar a existir problemas no SNPN. À medida que as máquinas de pastelaria fossem avariando, não haveria dinheiro para reinvestir em novos equipamentos. Também faltariam alguns ingredientes. Desta forma os pasteis de nata começariam a ser feitos sem açúcar.  Claro que o governo iria dizer que tinha retirado o açúcar aos pasteis de nata para zelar pela nossa saúde. Com a fala de pasteis nas pastelarias do SNPN, o governo publicaria semanalmente a lista das pastelarias que estavam abertas, para que desta forma os portugueses soubessem onde ir para serem atendidos.

Rapidamente se formariam enormes filas em frente aos estabelecimentos do SNPN. Perante o caos, o governo diria que os portugueses não deveriam utilizar com tanta frequência o SNPN, e que a culpa desta situação era da má utilização dos serviços por parte dos utentes.

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Como seria de esperar, os funcionários do SNPN fariam greves sistemáticas para reivindicarem a revisão das carreiras, a melhoria das condições de trabalho e pelo fim da caducidade da contratação coletiva. Na época em que a procura pelos pasteis de nata aumentasse, os funcionários do SNPN entrariam em luta. Um cidadão de Armamar com uma encomenda de pasteis de nata numa das pastelarias do SNPN de Lisboa ou do Porto, faria centenas de quilómetros para se deparar com uma greve. Podia ter sido avisado dessa situação e assim ter evitado a viagem, mas isso não poderia acontecer porque diminuiria o impacto da greve

Perante a escassez, o governo e o seu campo ideológico diriam que a culpa da falta de pasteis de nata era do excesso de turismo. Diante deste facto, seriam criadas limitações à aquisição de pasteis de nata por parte de estrageiros ricos. Ao mesmo tempo que os estrageiros pobres teriam acesso tendencialmente gratuito ao SNPN.

A meio da degradação do SNPN, a estrema esquerda anticapitalista, anti União Europeia, anti Euro e anti NATO, perante os resultados das suas ideias, culparia o imperialismo americano, os mercados, a agressão da troica e os ditames de Bruxelas, pela derrocada do Serviço Nacional dos Pasteis de Nata. Exigiriam a nacionalização das empresas de farinha e de açúcar, a quebra das patentes dos fornecedores de manteiga e uma reforma agrária nos pomares de limões. Nas eleições de 2019, depois de quatro anos a aprovar orçamentos de estado, o BE espalharia outdoors a dizer, “Salvar o SNPN”.

Ao mesmo tempo, a esquerda woke exigiria o fim dos pasteis de nata, por estes terem sido inventados pelos frades do Mosteiro Jerónimos e por esse motivo se enquadrarem na ideia das glorias imperialistas e colonialistas. Movimentos vegans também exigiriam o fim dos pasteis de nata, por estes serem feitos com ovos que são propriedade das galinhas e conterem leite.

Claro está que o SNPN seria regido por enormes quantidades de regulamentação e de normas administrativas, que tinham como objetivo faze-lo funcionar de uma forma perfeita, o mesmo é dizer, de acordo com o Marxismo Leninismo. Tudo isso estaria vertido na lei de bases do SNPN.  De tal forma, que de cada vez que algum administrador de uma das pastelarias do SNPN quisesse mudar alguma coisa, esbarrariam contra uma montanha de burocracia.

Com o colapso do SNPN, os privados começavam a abrir pastelarias onde os pasteis de nata tinha qualidade, mas só estavam ao alcance dos portugueses ricos. Com a entrada de capital, as pastelarias privadas começariam a contratar os pasteleiros do SNPN, isso faria piorar ainda mais a situação dos portugueses pobres que tinham como única solução a utilização do SNPN. Em desespero de causa os portugueses de classe média, começavam a comprar seguros de pasteis de nata.

O prestigiado chef José Avillez faria um pastel de nata inovador com ouro, trufas brancas, açafrão vermelho e mel Peri Bali, que iria vender a pessoas ricas por milhares de euros. Isso causaria imensa indignação à esquerda política e ao Chega, que iriam querer obrigar o chef a vender os seus pasteis inovadores por um preço definido de forma administrativa.

Perante esta situação alguém iria estar contra a existência de pastelarias privadas, mostrado a imoralidade do facto do capitalismo ter transformado a fome num negócio. De cada vez que o SNPN mostrasse sinais de mau funcionamento, seriam atiradas enormes quantidades de ideologia e de dinheiro para cima dos problemas, aos mesmo tempo que se dizia que desta vez tudo iria ficar muito melhor.

Não faltariam nas televisões pessoas bem-falantes, a dizerem que o nosso SNPN era dos melhores do mundo e que em muitos países neoliberais, as pessoas morriam de fome à porta das pastelarias.  Quando um qualquer governo quisesse imprimir alguma lógica de boa gestão, essas mesmas pessoas (que eram clientes assíduas do chef Avillez) diriam que os neoliberais estavam a destruir do SNPN, com o objetivo de o privatizarem. Desta forma impediam que qualquer medida racional fosse tomada. Com o tempo, o SNPN deixaria de ter o objetivo de servir os portugueses que gostavam de pasteis de nata e passaria apenas ter como intenção o controlo dos votos dos seus funcionários.

Esta alegoria, mostra bem a forma como Portugal é governado. Governantes sem escrúpulos, com acesso a serviços privados, destruíram os serviços públicos, ao mesmo tempo que juravam que os estavam a defender. A lógica dos serviços públicos foi subvertida. No SNS, na escola pública, etc, os utentes são carne para canhão das lógicas políticas de quem vai para o governo por vaidade ou para se governar.

O último governo socialista levou esta forma de fazer política ao limite. O atual governo não tem condições políticas para mudar nada. Resta-lhe ir distribuído umas migalhas. Se a lógica atual dos serviços públicos não for alterada, eles irão continuar a piorar. Enquanto os portugueses não derem uma maioria estável a partidos de índole reformista, vão continuar a ver o seu país a andar para trás. Onde as narrativas da esquerda vão continuar a marcar a agenda política, ao mesmo tempo que transformam a vida dos portugueses num inferno.