1 Francisco Assis deu uma grande entrevista a Maria João Avillez no Público de há oito dias. Os elogios a Passos Coelho mostram um político livre e independente, como aliás se nota os seus artigos semanais no Público (Sérgio Sousa Pinto é outro exemplo de liberdade no PS e devo dizer que lamento, como pessoa de direita, ter visto um maior número de deputados do PS do que do PSD a votar contra o fim dos debates quinzenais).

Assis fez dois grandes elogios a Passos Coelho, e inteiramente merecidos. Em primeiro lugar, reconheceu o papel histórico de Passos durante o período da troika. Sem a determinação do então PM, Portugal não teria saído do programa de recuperação com sucesso. Graças a Passos Coelho, saiu, e o ultimo governo de António Costa beneficiou do sucesso do governo do PSD e do CDS.

Assis fez ainda um segundo elogio, da maior importância. Diz que Passos tratou os portugueses como adultos e não como adolescentes. Este é um traço ímpar de Passos, e que o distingue de todos os outros políticos actuais. Diz a verdade aos portugueses, por mais dura que seja, não omite nem mente por hábito e interesse, e mostrou sempre uma decência nada comum entre os líderes políticos portugueses. Por exemplo, Passos é incapaz de telefonar a jornalistas para ditar artigos, um hábito de muitos outros. O que mostra um enorme respeito pela liberdade de imprensa, que infelizmente muitos jornalistas não entendem nem apreciam.  Passos Coelho é o melhor exemplo do politico anti-populista. Infelizmente, muitos portugueses preferem mentiras agradáveis às verdades incómodas.

Trabalhava na Comissão Europeia quando Passos Coelho chegou a PM. No princípio, era visto com alguma desconfiança, sendo criticado por muitos, sobretudo por ter causado eleições antecipadas em 2011. Rapidamente, conquistou o respeito e a admiração não só em Bruxelas mas em muitas capitais europeias. Devo dizer que senti orgulho pelo meu país ter um PM respeitado pela sua seriedade, a sua competência e o seu profissionalismo. Até os que discordavam das políticas de Passos, e havia muitos, reconheciam a sua decência. Não há democracias com qualidade sem políticos decentes. E Passos é sobretudo um político decente.

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Embora Assis nunca o diga, a sua entrevista mostra que Passos Coelho continua a ser o líder natural da direita portuguesa. Não é a primeira vez que o líder do espaço social da direita não é o ‘líder’ do PSD. Sá Carneiro foi o líder da direita portuguesa entre Maio de 1974 e Dezembro de 1980, mas entre 1977 e 1978 não liderou o PSD. No espaço socialista, quando Vitor Constâncio e Jorge Sampaio foram secretários gerais do PS, Mário Soares era o verdadeiro líder da esquerda portuguesa. Em França, De Gaulle era o líder natural da direita durante a IV República mesmo estando fora da política.

A chefia de um partido não é suficiente para a liderança de um espaço político. Rui Rio foi eleito Presidente do PSD por duas vezes, mas nunca conseguiu transformar-se no líder da direita. Com Rui Rio à frente do PSD, o partido sofreu o seu pior resultado eleitoral de sempre em eleições legislativas. A direita fragmentou-se com a emergência do Chega e da Iniciativa Liberal. E o Chega continua a crescer, beneficiando da colagem de Rio ao PS. Rio insiste no erro de um partido do centro para poder ganhar eleições. O resultado é o enfraquecimento do PSD e o fortalecimento do Chega. Rio até pode manter-se na liderança do PSD, mas será sempre um apparatchik partidário. Nunca será um líder político.

Mas há ainda outro ponto extraordinário na entrevista de Assis. Foi necessário um militante do PS reconhecer o papel histórico de Passos Coelho. Até hoje, nenhuma figura maior na direita foi capaz de elogiar Passos como o fez Assis. Para um eleitor de direita, é revoltante que Rio nunca tenha sido capaz de dizer de Passos o mesmo que disse Assis. O que, de resto, confirma o receio de Rio sobre um possível regresso de Passos. Há um ponto que me parece evidente: Com Passos Coelho, não haveria Chega, nem Iniciativa Liberal, e o CDS provavelmente sobreviveria.

A direita um dia voltará ao poder, e com a crise económica que aí vem, provavelmente mais cedo do que mais tarde. Resta saber que direita regressará ao governo. Uma grande coligação com um PSD forte, liderado por Passos Coelho. Ou uma aliança entre o PSD de Rio, com cerca de 30%, e o Chega de Ventura, com cerca de 15%.

2 Os ataques da semana que passou ao Novo Banco foram na verdade um ataque liderado por António Costa contra Mário Centeno. Na política portuguesa, não há coincidências. Na mesma semana em que Centeno se tornou governador do Banco de Portugal, o Público publicou um ‘trabalho de investigação’ sobre a venda de um pacote imobiliário feito em 2018, há dois anos. O jornalismo de investigação no Público reduz-se à publicação de informação recebida de membros do governo. Se o Público quiser fazer mesmo jornalismo de investigação, deixo uma sugestão. Comparem vendas semelhantes por outros bancos portugueses e europeus, para limparem os seus balanços, e vejam se o desconto de cerca de 40% feito pelo Novo Banco é extraordinário ou escandaloso.

Com estes ataques, Costa conseguiu o que queria. Transformou o Novo Banco num problema de Centeno e não do PM ou mesmo deste governo. Além disso, tem uma arma para usar sempre que o novo governador do Banco Portugal ouse sair da linha. Em tempos de crise económica, não convém um Banco de Portugal demasiado independente. Percebem a diferença entre um PM decente e respeitador da independência das instituições, como foi Passos, e um PM habilidoso e que pretende controlar as autoridades reguladoras, como Costa. A qualidade da democracia portuguesa é a grande vítima deste tipo de comportamentos.