O medíocre discurso de Pedro Nuno Santos depois da sua vitória nas eleições internas no PS, cheio de agressividade e praticamente vazio de ideias para resolver os problemas do país, deu o mote para o que temos assistido desde então por parte da nova liderança do PS. As fragilidades do novo líder ficaram também patentes na generalidade dos debates televisivos, nos quais — com excepção parcial do bem ensaiado frente a frente com Luís Montenegro — a falta de preparação de Pedro Nuno Santos ficou repetidamente patente.

Mesmo o que correu melhor a Pedro Nuno Santos no debate com Luís Montenegro — pressionar o PSD sobre o que fará perante um governo minoritário do PS — foi prontamente desfeito nos dias seguintes com uma sucessão de contradições face à própria posição do PS perante um possível governo minoritário do PSD. As sucessivas mudanças de posição não ajudam a consolidar a imagem desejada de homem de decisão e acção reforçando antes uma percepção de carácter irascível e instável, perfil pouco aconselhável para ocupar posições de responsabilidade como o cargo de primeiro-ministro.

Deverá aliás constituir motivo de forte preocupação para a campanha socialista que, na mais recente sondagem realizada pela Universidade Católica para a RTP, em resposta à pergunta “Independentemente das suas preferências partidárias, entre Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos quem seria melhor Primeiro-ministro?”, Luís Montenegro tenha recebido a preferência de 46% dos inquiridos enquanto Pedro Nuno Santos tenha recolhido apenas 34% das preferências. Considerando que as eleições legislativas são percepcionadas por boa parte do eleitorado como uma escolha de primeiro-ministro e que Montenegro não possui experiência governativa esta diferença de 12 pontos percentuais é sintomática da imagem de impreparação e pouca competência associada a Pedro Nuno Santos, uma imagem que não será alheia à sua própria muito pouco recomendável experiência de governação.

À impreparação soma-se o problema do radicalismo. Como apontei por altura da eleição de Pedro Nuno Santos para a liderança do PS:

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“Depois de Costa ter avançado para a geringonça por oportunismo, o PS elege agora um líder que acredita genuinamente que o partido deve estar ao lado da esquerda radical e da extrema-esquerda. Será fundamentalmente isso que vai estar em jogo em Março. Aliás, Pedro Nuno Santos construiu toda a sua trajectória política dentro do PS assente na proximidade com a esquerda radical, e em particular com o Bloco de Esquerda. Uma proximidade que ajuda a compreender também as tentativas de Pedro Nuno colar o PSD ao CH para procurar ocultar ou relativizar a sua própria disponibilidade e vontade de colocar o PS a governar com a esquerda radical.”

O radicalismo de Pedro Nuno Santos pode também colocar um problema à mobilização do voto útil à esquerda por parte do PS. Uma vez que Pedro Nuno Santos ambiciona governar com a esquerda radical e com a extrema esquerda sem qualquer restrição, pudor ou incómodo, os argumentos que restam para concentrar voto útil no PS não são particularmente fortes: o que interessa será conseguir a ambicionada “maioria de esquerda”, independentemente da sua composição, pelo que o eleitorado que prefira Livre, Bloco de Esquerda, CDU ou PAN terá poucas razões para não optar pelo seu voto preferencial por razões táticas (excepto, talvez, nos círculos eleitorais de menor dimensão).

A impreparação e o radicalismo de Pedro Nuno Santos são trunfos eleitorais importantes para os partidos à direita, mas nada está decidido. Pelo menos no curto prazo, a demografia e a sociologia política jogam claramente a favor do PS. Com uma base eleitoral composta desproporcionalmente por idosos com baixos níveis de formação, o PS jogará tudo nos dias finais da campanha na mobilização deste segmento, nomeadamente procurando difundir o medo de cortes nas pensões. O resultado de 10 de Março dependerá em muito da medida em que este esforço de mobilização socialista do voto dos mais velhos com base no medo consiga compensar a insatisfação acumulada com a governação do PS e a percepção de impreparação e radicalismo associada a Pedro Nuno Santos.