À semelhança da Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020/2030, apresentada pelo gestor e professor universitário António Costa Silva, que recebeu 1153 propostas de contributo no período de discussão pública, maioritariamente de cidadãos anónimos, também o Plano de Saúde Mental 2020/2030 devia seguir a mesma abordagem.

Desde a instalação da pandemia originada pela Covid-19 que a saúde mental passou a ser do interesse público na sociedade portuguesa. É hora de gerar debate e empenhamento cívico também nesta área. Nós, Comissão de Saúde Mental do Health Parliament Portugal, já o começámos a fazer, mas somos apenas 10 cidadãos, não 10 milhões.

Gostava de chamar a vossa atenção para o dia 10 de Outubro deste ano em que se comemora o Dia Mundial da Saúde Mental. Numa parceria com a United for Global Mental Health e a Federação Mundial para a Saúde Mental, a Organização Mundial da Saúde acaba de anunciar que o tema deste ano vai ser: “Saúde mental para todos — maior investimento, maior acesso”.

Ao receber esta notícia, apenas emiti um suspiro: finalmente! Porquê? Porque há 16 anos iniciei na Suíça (onde precisamente fica a sede da Organização Mundial da Saúde), o meu doutoramento sobre o Acesso à Saúde Mental. Desde esse dia que sei que a saúde mental é uma das áreas mais negligenciadas da saúde pública, gastando os países apenas 2% de seus orçamentos de saúde nesta área, apesar das suas consequências em termos de saúde, sociais e económicas.

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Na altura em que escrevo este artigo morre a cada 40 segundos uma pessoa no mundo por suicídio e 75% das pessoas que precisam de ajuda profissional no mundo, não a recebem. Não queremos todos travar isto?

Se do ponto de vista científico sei que a saúde mental em 2050 vai passar por uma manutenção preventiva e personalizada da saúde, bem como por uma auto-monitorização e gestão da saúde e bem-estar, é meu dever chamar a atenção da sociedade portuguesa para uma maior literacia em saúde mental e aproveitemos, para isso, a grande ajuda que a Covid-19 nos tem dado na destigmatização da saúde mental. Falar em saúde mental em família ou entre amigos é, desde Março deste ano, mais comum e menos embaraçoso.

Investamos de uma vez por todas na promoção, prevenção e cuidados em saúde mental: como cidadãos, como profissionais de saúde, como professores, como especialistas, como empregadores, como líderes, como influencers, como governantes, como gestores, como actores, como músicos, como desportistas, como escritores, ou como jornalistas.