O nosso governo iniciou a sua actividade prometendo o fim da austeridade. Sem qualquer escrúpulo tratou de agir como se a austeridade, imposta pelo falhanço da governação socialista anterior, fosse apenas uma teimosia escusada de Passos Coelho.

Procurando demagogicamente satisfazer o povo e os seus aliados no parlamento, tratou de reverter as medidas do anterior governo, de aumentar impostos indirectos e em simultâneo de satisfazer classes profissionais e sindicatos com promessas irrealizáveis e medidas insustentáveis. Sem escrúpulos sobre as consequências das suas acções foi contentando a função pública, os professores, os pensionistas, e ainda a classe trabalhadora na sua totalidade com a reposição dos feriados, recuou no tema do arrendamento e baixou o IVA da restauração.

Sabiamente tratou de cuidar dos seus aliados políticos revertendo a privatização dos transportes de Lisboa e Porto e da TAP e recuando no rigor e nas medidas de qualidade implementadas na área da educação.

Dir-se-ia que foi quase milagroso não soubéssemos nós que quando se gasta o que não se tem mais tarde se paga muito caro, e quando se vende a alma ao diabo em troca da paz social não se consegue facilmente recuperá-la.

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Quem não tem escrúpulos fica surpreendido quando estes negócios correm mal porque acredita que haverá sempre imaginação para uma nova golpada e que de golpe em golpe se chega de novo às eleições.

Acontece que ao ir com muita sede ao pote o governo deixou os seus aliados despersonalizados e sem partilha dos louros e estes começaram também a reverter o seu comportamento o que no caso quis dizer reverter a paz social.

Ainda assim tudo ia andando sob controlo: uma promessa aqui, uma concessão ali, obras públicas anunciadas para todos os gostos e chegava-se rapidamente às eleições. E apesar da relação com os aliados da extrema esquerda ter começado a dar sinais de fraqueza com impacto na paz social tudo parecia no bom caminho. No entanto algo correu mal, alguém descobriu que é possível abanar a estrutura sem pertencer à geringonça. Esse alguém é o novo sindicato dos enfermeiros.

Até aparecer este sindicato, o direito à greve era inalienável, a classe trabalhadora gozava da certeza do apoio da esquerda na defesa dos seus interesses e qualquer ingerência ou desconfiança na luta dos trabalhadores era algo deplorável, digna apenas da corja da direita.

Mas agora temos dois critérios: a luta de trabalhadores dos sindicatos socialistas e comunistas e de classes trabalhadoras que votem maioritariamente à esquerda é justa, por muito que afecte a nossa vida. Já a luta de sindicatos “não alinhados” é abusiva e sem escrúpulos.

Os enfermeiros estão em greve. Não vou argumentar sobre as suas razões. Lutam por aquilo que consideram ser justo e com isso afectam aqueles que deles dependem. Tenho muito pena, como tenho pena dos alunos vítimas das greves dos professores, ou dos desempregados que por estarem no sector privado quando veio a crise ficaram, alguns irremediavelmente, com a sua vida desfeita e não houve para eles reversão nenhuma.

Tanto quanto sei, estão definidos serviços mínimos para fazer face a situações que não possam ser abaladas pelas greves. Se assim é, parece-me que a responsabilidade pelas consequências desmedidas de uma greve de grandes proporções é de quem não soube definir correctamente os serviços mínimos e de quem deixou que uma classe de profissionais atingisse o ponto máximo de saturação.

Concordo que situações de doentes que estejam a ser negligenciados com riscos irreversíveis devem ser alvo da atenção dos enfermeiros em greve, e que devem ter o maior escrúpulo na condução da sua luta, mas ouço incrédula o governo a apelar à classe de enfermeiros para que tenha escrúpulos!

Falta de escrúpulos é tomar o poder de assalto como fizerem os socialistas atraiçoando parte do seu eleitorado com uma aliança com a extrema esquerda, é prometer o que não se pode dar como fizeram com os professores, é dar o que não se tem como é o caso da medida das 35 horas semanais, é fazer aprovar orçamentos para depois não os cumprir à custa de cativações sucessivas das verbas  necessárias à sua execução, é melhorar os indicadores do ensino à custa da falta de rigor, é deixar que morram tantos portugueses nos incêndios por negligência da administração interna.

Falta de escrúpulos tem nome e apelido: António Costa.

A falta de escrúpulos está a destruir o nosso país. Fomos enganados e estamos a ser enganados. É algo que não salta à vista e por isso engana, o que não me espanta já que quem nos governa actualmente teve um bom mestre, o Sr. Sócrates, que nos fez crer até ao desespero que tudo estava sob controlo.

A falta de escrúpulos é como viver no Carnaval o ano inteiro com disfarces tão bons que não há quem os descubra facilmente. A ultima vez que assim vivemos acabámos de mão estendida, salvos por um resgate quando já não havia dinheiro para garantir o pagamento de salários à função pública.

Os enfermeiros e todos nós é que queremos que o governo tenha escrúpulos porque é triste o momento que vivemos. Estamos completamente tomados por gente sem escrúpulos que aos poucos conquista, para destruir, a nossa cultura, a nossa educação, a nossa saúde e até a nossa liberdade.