A par de uma recuperação económica notável, o Reino Unido atravessa uma crise existencial preocupante. O referendo na Escócia, em Setembro, questiona a própria existência do país. Se a Escócia se tornar independente, a identidade britânica, decisiva para a coesão do país, incluindo para muitos britânicos que vivem em Inglaterra, especialmente os descendentes de imigrantes, ficará seriamente ameaçada. Por outro lado, os britânicos interrogam-se sobre a natureza da sua relação com a União Europeia. O partido Conservador comprometeu-se com a realização, em 2016, de um referendo sobre o futuro do Reino Unido na UE.

Por trás de tudo isto, estão dois politicos extremamente hábeis e altamente populistas: o líder do governo escocês, Alex Salmond; e o líder do UKIP, Nigal Farage. Aparentemente em polos ideológicos opostos, partilham comportamentos politicos semelhantes. E sobretudo tornaram-se nos dois elementos mais perturbadores da política britânica. Aliás, o modo como os principais partidos britânicos permitiram o crescimento de Salmond e de Farage constitui o maior fracasso da política britânica das últimas décadas.

Ambos desejam continuar a ser factores de instabilidade. Salmond não quer a independência da Escócia. Seria o início de problemas e de dificuldades sem fim, os quais tornariam a sua vida um pesadelo. O ideal seria uma derrota por uma margem reduzida, a qual manteria a questão da independência da Escócia na agenda política e muito provavelmente levaria a um segundo referendo a curto, médio prazo. Dar-lhe-ia ainda poder para negociar com Londres condições económicas e financeiras vantajosas. Politicamente, para um populista, é muito melhor “lutar” pela independência do que governar em independência.

Quanto a Farage, quer crescer nas eleições legislativas de 2015 para forçar os Conservadores a aceitar uma coligação governamental entre os dois partidos, impondo um referendo sobre a manutenção ou saída da UE, e não sobre uma renegociação das relações entre Londres e Bruxelas.

Enquanto Salmond e Farage não forem derrotados, a política britânica não recuperará uma certa normalidade. Resta saber se ainda será possível.

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