1. Aparentemente, todos os portugueses sabem o que se passou entre um homem e uma mulher num quarto de hotel. Podem discordar uns dos outros, mas ninguém parece ter dúvidas sobre a sua certeza. Os cronistas não só sabem o que aconteceu como, a partir das suas certezas, fazem teorias sobre a natureza das mulheres em geral, o machismo dos homens portugueses (e até de algumas mulheres) e a hipocrisia da raça humana. Tanta excitação com um encontro noturno alheio. A vida privada da maioria dos nossos cronistas deve ser uma maçada.

Por mim, não faço ideia do que aconteceu. Não quero saber nem tenho opinião. Mas custa muito ver que a sociedade portuguesa tenha chegado a um ponto em que um acontecimento privado de um futebolista, sobre o qual é impossível ter certezas, se tenha tornado um tema nacional. Além disso, detesto assistir a julgamentos sumários sobre uma mulher e sobre um homem, sobretudo sobre comportamentos privados e íntimos.

2. Finalmente, o antigo ministro da Defesa, Azeredo Lopes, percebeu que há um sentimento chamado vergonha. A história das armas roubadas em Tancos e o modo como o ministério da Defesa lidou com o falhanço da segurança nacional parece uma daquelas séries reles produzidas pela Netflix (também há bons filmes na Netflix). Como é possível uma figura grotesca como o senhor Lopes ter chegado a ministro da Defesa de um país da Aliança Atlântica? Uma pergunta sem resposta.

Azeredo Lopes é o género de homem que bajula os que estão por cima dele e despreza e desculpa-se com os subordinados. Ou seja, tem tudo o que num país sério o impediria de chegar a chefe das Forças Armadas, mas que no nosso paraíso socialista ajuda para ser ministro. A escolha do senhor Lopes para ministro da Defesa mostra como este governo despreza as Forças Armadas. Uma desgraça. Deveriam ser uma das instituições mais respeitadas e acarinhadas do nosso país. Não há Estado soberano sem uma defesa digna. Uma evidência que obviamente escapa ao nosso PM.

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3. O secretário do Estado da Energia resolveu ter dois gabinetes. O gabinete principal no ministério e um gabinete sombra na ERSE e na DGEG. Os membros do primeiro transitam, sem qualquer problema nem vergonha, para as entidades reguladoras. Esta falta de respeito pelo princípio da separação de poder entre o executivo politico e o regulador é típico do Presidente norte americano, sempre prontamente criticado pelas nossas esquerdas. Ora, Portugal tem um ‘mini Trump’na secretaria de estado da Energia.’

O assalto da entidade reguladora pelo poder politico mostra a falta de cultura democrática do nosso governo e dos seus camaradas da geringonça e uma total falta de respeito pelos portugueses. Uma coisa é certa: o governo da ‘direita radical’ de Passos Coelho não tinha estes comportamentos salazaristas.

4. Rui Rio teve mais uma das suas ideias brilhantes. Enviou uma proposta secreta para reformar a justiça em Portugal a todos os outros partidos políticos com o pedido expresso de não se revelar publicamente o seu conteúdo. Um comportamento que demonstra o modo como Rio entende a democracia. As reformas sobre matérias importantes devem ser feitas no secretismo dos gabinetes, às escondidas dos portugueses. Aparentemente, para Rio, os portugueses só servem para votar. Não admira que se dê tão bem com as esquerdas.

Além de considerar que os portugueses não merecem uma discussão aberta e pública sobre a reforma da justiça, Rio já começou a acusar a imprensa de abusar da liberdade de opinião. O antigo autarca do Porto bem avisou que faria tudo ao contrário do antigo líder do PSD. Também nestas matérias, ao contrário de Rio, Passos Coelho nunca mostrou tiques salazaristas.

5. A culminar esta semana de loucuras, os jornalistas dos canais das nossas televisões andam pela costa portuguesa à procura da Leslie. E o país assiste excitado.

A semana que passou revelou uma imprensa de voyeurs, um país sem Defesa, um governo que não respeita os princípios elementares do sistema democrático e um líder da oposição com comportamentos de chefe autoritário. O futuro de Portugal promete.