Os portugueses conhecem Rui Rio. Desde 2017 que se atira descaradamente ao PS, e que leva várias tampas do primeiro-ministro; há quatro anos que estanca o partido a expressões políticas diferentes da sua, e que as vê encarnarem em novos partidos no parlamento; desde 2019 que dá gás à campanha de diabolização do Chega (enquanto andava o PS de mão dada com partidos contra o euro e pró-regimes totalitários) e vê-se agora dependente do aval de André Ventura, caso vença as eleições.

Esta visão paroquial de Rio, que o não deixa antecipar as consequências das suas decisões políticas, em tempos de campanha, tem o condão de se confundir com genuinidade, honestidade e desprendimento. Com António Costa desgastado e as sondagens a darem um empate técnico sedutor do voto útil, Rui Rio pode mesmo sair vencedor. Mas há razões além-Rio, que gostava de dirigir ao eleitorado não-socialista, para se votar no PPD.

Se é democrata-cristão, vote PPD/PSD

A concepção que Rui Rio tem do PPD, de um partido circunscrito às opções ideológicas do líder, é oposta à óptica pela qual Cavaco, Barroso e Passos olharam para o PPD e o conduziram ao governo. Estes três primeiros-ministros – mesmo marcando as suas lideranças com cunhos próprios, quer de estilo, quer de conteúdo – aceitaram liderar no meio de um remoinho, entre correntes internas que tentavam puxar o país para lados diferentes.

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Rui Rio pode ter preferido a tranquilidade de navegar em águas mais paradas, mas continua a ser o PPD o único partido com uma diversidade interna capaz de guindar o debate público acima do calor ideológico que sustém as restantes forças políticas. No CDS – do federalismo de Lucas Pires, ao conservadorismo de Rodrigues dos Santos, passando pelo tradicionalismo de Manuel Monteiro e pelo pragmatismo de Portas – houve sempre muitas tendências, mas que raramente souberam conviver, reagindo umas às outras com hostilidade. O momento conturbado em que vive o CDS é a regra, não é a excepção.

Amaro da Costa, ao coligar-se com o PS no governo, em 1978, quis dar o sinal de que era o CDS a grande casa onde coabitavam as várias tendências não-socialistas em Portugal: uma tentativa já atrasada de querer ver o CDS como o grande partido de alternância ao PS no poder, atirando o (na altura) instável PPD para fora desse jogo de bipolarização. Não conseguiu. Mas esse seu sonho falhado tem, há já algum tempo, uma concretização bem real, que é o partido que seria a vítima da sua estratégia – o PPD. Hoje, é o PPD que é capaz de resistir, nas palavras do fundador do CDS, à“tentação unanimista, que cerceia o espírito crítico e reduz a capacidade de manifestação espontânea das várias expressões políticas”.

Em tempos de fragmentação, um PPD grande, no dia 30, seria uma vitória de Amaro da Costa. Uma vitória do realismo que relativiza as diferentes correntes de pensamento, que se abstrai dos indivíduos que as corporizam e que é capaz da função do estadista – de olhar para a realidade e decidir o que é melhor em cada circunstância.

Se é liberal, vote PPD/PSD

Outra consequência do encolhimento do PPD de Rio foi a representação que um partido estritamente liberal ganhou no parlamento. Num país em que o partido do poder se confunde com o Estado, e em que o Estado castra sucessivamente a capacidade de imaginação social, a sociedade reclama, de facto, em maior ou menor escala, uma insurgência liberal.

A decisão de dia 30, para os eleitores que desejam este ímpeto liberal, é entre: o PPD, que, absorvendo várias direitas, identifica no retrato actual do país uma ausência de crescimento e uma escassez de liberdade económica; e a IL, que, identificando esses mesmos problemas, se distingue por, à luz deles, interpretar toda a realidade.

Dir-me-ão que, no actual momento de estagnação, talvez seja preferível uma coligação onde esteja um partido absolutamente intransigente na defesa do valor do crescimento económico. O problema, porém, reside no facto dessa intransigência ignorar a possibilidade do estado de excepção: se a inflacção na zona euro vier para ficar e os juros do BCE escalarem, com a dívida pública a roçar os 130% do produto e uma economia privada altamente endividada, será um partido que apenas se deixa guiar pelo sonho do crescimento capaz de colocar a estabilidade das finanças públicas à frente desse seu desígnio?

Um voto liberal no PPD é a garantia de um voto naquele bom-senso tão português, que, não abdicando de princípios, sabe definir prioridades – não por cegueira ideológica, mas por razão de estado.

Se gosta de André Ventura, vote PPD/PSD

No século XIX, Marx deu a táctica, e, desde então, a esquerda e as esquerdas não fogem à mesma fórmula: agrupar as pessoas dentro de caixas devidamente rotuladas e pô-las em conflito umas com as outras. Numa dialética agressiva, há sempre opressores que reprimem oprimidos; há bons e maus devidamente identificados. É o retrato do mundo pintado a preto e branco – mesmo que o merchandising seja arco-íris.

Uma direita que segmente o eleitorado, para chegar aos abandonados e esquecidos pelo sistema, está a jogar um jogo cujas regras foram ditadas por Marx. Uma direita verdadeiramente autónoma da esquerda não fala para nichos. Quando André Ventura defende os pensionistas pela via do ódio a quem cumpriu a missão de executar um programa de ajuda externa, está a promover conflitos desonestos em vez de apelar à unidade nacional.

Se há interesses, na sociedade portuguesa, que André Ventura destapou, seria uma pena deixá-los à mercê de um partido que os defende à moda da esquerda. Nesta política de identidades, o PPD escolhe não tomar partido, mas assume a missão patriótica de integrar as várias tendências em prol de um interesse comum – o interesse nacional.

A síntese do voto no PPD/PSD

No dia 30, os eleitores de direita terão duas possibilidades. Ou promover uma coligação de direitas, onde estejam vários partidos unidimensionais com força eleitoral, e em que todos verão sempre o argueiro no olho do vizinho, mas nunca a trave no seu. Ou votar por um PPD grande, casa de todas as direitas: realista numa diversidade que o CDS não é capaz; preparada para um estado de excepção que a IL ignora; patriótica como o Chega se recusa a ser.