Desta vez, foi um barco da marinha de guerra. Mandaram-no seguir um navio russo perto da Madeira. Não seguiu. Metia água. Sargentos e praças recusaram-se a navegar nessas condições. A hierarquia ameaça-os agora com a fúria dos regulamentos. Sem perceber, dá-lhes razão, porque alguma coisa deveria estar muito avariada no barco para os seus tripulantes preferirem o risco das penas disciplinares. Isto passou-se no mar. Em terra, é a “escola pública” que vai à vela, como se dizia antigamente. Entre os confinamentos do Covid e as greves dos professores, estamos a descobrir que algumas gerações dependentes das escolas do Estado não tiveram, em anos cruciais para o seu aproveitamento escolar, a preparação que deveriam ter tido. Pior: a crise do sistema faz temer que essas faltas nunca venham a ser recuperadas. Podíamos falar ainda das demoras dos tribunais, agora aumentadas pela greve dos oficiais de justiça, ou das épicas listas de espera do SNS e da mortalidade excessiva que permitiu. A conclusão seria a mesma: temos em Portugal um Estado em que não podemos confiar para exercer as funções de soberania, ou para garantir serviços públicos.

E no entanto, este Estado é o maior de sempre. Nunca, na história de Portugal, o Estado empregou tanta gente, cobrou tantos impostos, recebeu tantos subsídios estrangeiros, e gastou tanto dinheiro. Acontece que nada disso parece suficiente para vigiar os mares, ensinar os jovens, ou prevenir mortes evitáveis. Nestas circunstâncias, qual deveria ser a prioridade de um governo? Talvez reformar e mudar o que fosse necessário para o Estado cumprir as suas missões de soberania e assegurar, sozinho ou em parceria, os serviços públicos. Por exemplo, tirar a água dos barcos e meter os alunos nas escolas. É isso que os governantes socialistas estão a fazer? Não.

Para os socialistas no poder, a prioridade é outra: perseguir os portugueses que se dedicam às poucas actividades que prosperaram nas últimas décadas, como o alojamento turístico ou o retalho alimentar. O método é sempre o mesmo. Agarra-se num problema, e atira-se as culpas para cima dos empreendedores. Não há casas baratas no centro de Lisboa? A responsabilidade é do “alojamento local”. É preciso sufocá-lo com impostos e regulamentos. Os preços dos alimentos sobem? São os supermercados que fazem “especulação”. É preciso inundá-los de agentes da ASAE. Alguém acredita nisto? Alguém acredita que com polícia nos supermercados tudo ficará mais barato? Alguém acredita que o Estado, que não consegue tirar a água dos seus barcos nem manter as suas escolas abertas, vai arranjar casas para todos e baixar o preço do leite? Mas a oligarquia socialista precisa da agitação. É um velho truque dos poderes em decadência: encontrarem uma razão de ser na resistência a inimigos imaginários, com que metem medo à população.

Eu bem gostaria de escrever sobre outra coisa, mas precisamos de falar do PS. O dinheiro barato e fácil foi a maneira dos regimes ocidentais adiarem reformas e mudanças. Isso tem permitido até agora, em Portugal, a sobrevivência de um Estado inviável, desestabilizador e oneroso, de que o PS fez o seu instrumento de domínio da sociedade. Estamos a ser surpreendidos pelas distorções que esse dinheiro fácil criou: a inflação e os novos problemas bancários são alguns dos seus resultados. Portugal é dos países menos preparados para enfrentar esta viragem. A oligarquia socialista sabe isso. Daí, este frenesim de exibicionismo radical. O país precisa urgentemente de uma estabilidade e de uma segurança que este governo nunca lhe poderá dar.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR