Qual aluno repetente, o Ministro da Educação, que governa o ministério há seis anos (primeiro como Secretário de Estado agora como Ministro), multiplicou-se nos últimos dias em entrevistas e declarações a garantir que, agora sim, vai resolver o problema que afeta milhares de alunos: a falta de professores nas escolas. João Costa promete empenhar-se nos estudos e, para o ano, passar com boas notas.

Rigor, disciplina e ciência são os valores mais importantes que é suposto a escola trazer ao ser humano. Mas são valores desvirtuados à partida quando os mais altos responsáveis do Estado dão provas de tudo menos de se guiarem por esses valores.

Comecemos pelo início do ano letivo. Todos os anos, o Ministério anuncia com pompa e circunstância o intervalo de dias ao longo da semana em que é suposto iniciarem as aulas. Em todos os países, há um dia certo. Aqui não, pode ser um em quatro dias possíveis e, de facto, as aulas só começam na segunda-feira da semana seguinte. A verdade é que no passado dia 13 acordámos todos com a notícia de que o ano letivo estava a começar e no dia 19, segunda-feira seguinte, a notícia mudou para: hoje é que começam as aulas a sério. Mais dia menos dia é indiferente, mas é uma questão de método e rigor. Se quem é suposto organizar o sistema para que tudo funcione nem sequer consegue ser rigoroso com a marcação de uma data, é pouco provável que venha a ser credível em tudo o resto.

Um dos instrumentos mais valiosos que uma boa educação nos confere é a capacidade de antecipar problemas e procurar resolvê-los atempadamente. Ora, as nossas escolas têm um problema que se arrasta há anos e que se agrava de ano para ano. O nosso sistema de colocação de professores é a coisa mais estúpida do mundo. Obedece a regras que não se aplicam a mais nenhuma profissão. São geradoras de injustiça, ineficácia, frustração e desmotivação para todos os professores. Suplementarmente, são a principal causa de, ano após ano, haver cada vez mais alunos sem professores. Este ano, são cerca de 60 mil e o ministro acha que não é assim tão mau. Se conhecemos o problema e sabemos as causas, porque não se resolve? É triste, mas é verdade: por medo de um sindicato e de um sindicalista. Mário Nogueira é o anti-ministro da educação há muitas décadas. É ele que define as regras de acordo com o interesse sindical, conseguindo, ao mesmo tempo, ter na mão a generalidade dos professores. Assim se perpetuam as regras mais estúpidas do mundo, com os ministros convencidos que evitam problemas se não se confrontarem com a Fenprof.

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Iniciado mais um ano letivo, o ministro vem garantir que para o ano é que vai ser. A partir do seu gabinete promete iniciar negociações com o poderoso Mário Nogueira para tentar garantir que, no próximo ano, as escolas possam ter autonomia para contratar um terço dos professores necessários. Não leu mal, é mesmo um terço. O resto fica nas mãos de Nogueira e do seu concurso que todos os anos determina que professores do interior venham para a cidade, do continente para as ilhas, do Norte para o Sul. Tudo decidido apenas alguns dias antes do início das aulas. E o ministro acha que assim, para o ano, vai ser tudo muito melhor.

Este é também o ano letivo em que o famoso processo de descentralização entra em vigor. Um dos setores abrangidos é a educação. Podia ser a chave para a resolução do problema: as Câmaras Municipais ficavam com a competência da colocação de professores e acabava-se o monopólio da Fenprof. Era simples e fazia sentido num país que passa a vida a falar de regionalização. Oportunidade perdida. O Ministério da Educação não abdica dos seus poderes que, como se demonstra acima, não são seus, são de Mário Nogueira.

Pró ano é que vai ser? Duvido. Entretanto, continuamos a agravar desigualdades, a cavar um fosso cada vez mais fundo entre ricos e pobres e a hipotecar o nosso futuro que já não se vê risonho se tivermos em conta a nossa cada vez mais baixa taxa de natalidade.