Se vivemos hoje uma situação que há anos era impensável em termos de saúde pública, o mesmo não se pode dizer sobre a situação económica e sobre as possibilidades de ascensão de carreira. Foi no decorrer de uma breve conversa com um amigo de longa data, ele licenciado em Engenharia Informática e eu em Ciências Políticas, agora ambos em mestrados distintos (ele ainda ligado ao mundo informático e eu em recursos humanos), que fizemos uma reflexão sobre o futuro e se as nossas competências seriam valorizadas em Portugal.

Desde há muito, que Portugal é um país estagnado pelas sucessivas governações e políticas que não privilegiam o mérito e onde os contactos e os conhecimentos representam a oportunidade de poder chegar a algum lado profissionalmente na maioria dos casos. No fundo, Portugal parece uma empresa familiar, onde os cargos que exigem conhecimento e sabedoria são apenas acessíveis, não aos melhores, mas sim aos que desenvolvem melhores redes de contactos e interesses, ou seja, por outras palavras, as “cunhas”.

Há pontos impossíveis de ignorar que quase constituem algo estrutural de um país. Portugal é ainda vítima de muito analfabetismo, não no sentido literal, mas no sentido económico, dado que são poucas as pessoas que se apercebem e votam no sentido de alterar o tremendo sufoco fiscal que indivíduos e empresas enfrentam e as respectivas implicações no desenvolvimento do país. Simplificando, a conclusão a que chegámos foi acessível de compreensão: num país com menos impostos e menor intervenção estatal, as empresas aumentam o capital disponível, permitindo pagar melhores salários e contratar mais funcionários. Nesta hipótese, o indivíduo, também ele menos taxado, acaba por ter mais capital líquido para seu uso, gerando mais consumo, o que por sua vez aumenta o fluxo de capital e o lucro das empresas. Assim se gera um ciclo de produtividade, crescimento e prosperidade.

Naturalmente que se levantam dúvidas quando à mentalidade dos empresários e administradores. Ainda assim, uma nova geração mais formada e que cresce a acreditar no mérito irá, inevitavelmente, ascender aos mais altos cargos, culminando este processo em administrações mais justas e livres dos vícios do passado. Acima de tudo, uma geração que acredite no empreendedorismo e inovação sem cortar as pernas à criatividade e que pense mais além do que taxar qualquer movimento, impedindo de criar.

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Seria espetacular para um país que, sendo capaz de observar e preparar e o futuro, se preocupasse com as novas gerações. O problema? É que em Portugal não funciona assim. A conclusão da discussão foi unânime. Em Portugal, a nossa geração está condenada ao que vou chamar o ciclo do estágio, ou seja, estar anos e anos sucessivamente em estágios pouco ou nada remunerados, que terminam em poucos meses e criam uma precariedade e uma incerteza quanto ao futuro e uma ideia de desvalorização de todo o processo de aquisição de conhecimento e das competências já desenvolvidas daquela que é a geração mais bem preparada de sempre. Não esquecendo, claro, o primeiro emprego onde é pedido sucessivamente anos e anos de experiência, ao invés de se formarem recém-licenciados e construirem equipas jovens e criativas, até porque nunca haverá experiência se não existir oportunidade uma primeira vez.

Chegamos, por fim, a uma conclusão. A geração de Portugueses que mais investiu na educação e na aquisição de competências é também aquela com menor probabilidade de sucesso neste país, por culpa talvez de indivíduos e políticas em processos decisórios limitados e sem visão, que deixam escapar constantemente as mais brilhantes mentes para outros países, nos quais são valorizados e recompensados. Portugal faz lembrar um clube que forma os melhores e depois os deixa sair a custo zero sem nunca os aproveitar.

Assim o nosso veredito foi simples. Não é possível, ou pelo menos à maioria, procurar sucesso e ascensão no país que nos viu nascer e ao qual queremos dar o nosso contributo em  troca de valorização, oportunidade e a justiça de este nos permitir construir a nossa vida. A solução, como tantos outros antes de nós, e tantos outros depois, será, inevitavelmente, usar todo o conhecimento, todas as skills e criatividade num país que as valorize e aposte nelas.

A solução, com os olhos emocionados de quem ama a pátria, é emigrar. Porque se burro velho não aprende línguas, Portugal é um burro com muita idade.