Recuso ser testado para o SARS-CoV-2. Ser testado não tem qualquer benefício, e pode ter muitos efeitos adversos.

Um teste negativo é uma falsa segurança. E não encontro utilidade num teste positivo.

Um teste negativo é uma falsa segurança porque apenas permite concluir que aquela pessoa não tem material genético do vírus dentro de si, naquele dia. Não permite qualquer conclusão sobre o dia seguinte, nem sobre a semana seguinte, nem sobre os meses seguintes. Porque qualquer um de nós, negativo hoje, pode tornar-se positivo já amanhã.

Têm estado a ser feitos testes generalizados a populações assintomáticas, em áreas de actividade e empresas específicas. O termo usado é “rastreio intensivo”. Testaram 10 mil funcionários de creches. Testaram 3500 trabalhadores da construtora Teixeira Duarte. Fizeram 14 mil testes só em 5 dias em Lisboa e Vale do Tejo. Gastaram-se milhões de euros só com estes testes (cerca de 100€ cada teste).

E depois? Vão testar toda esta gente diariamente? Semanalmente? Mensalmente? Terem todos um teste negativo hoje não tem qualquer valor amanhã ou depois. Para que serviram todos estes testes?

Um teste negativo é uma falsa segurança.

Também não encontro utilidade num teste positivo.

Imaginem que eu estou doente. Tenho tosse ou febre ou dificuldade em respirar. Que utilidade terá para mim um teste positivo? Não há, de momento, nenhum medicamento específico para a infecção pelo SARS-CoV-2. Por isso, se eu estiver doente, os cuidados médicos que necessito são os mesmos, tenha eu um teste positivo ou negativo para o vírus.

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Agora imaginem que eu não estou doente, não apresento qualquer sintoma (como a maioria das pessoas  que estão actualmente a ser “rastreadas intensivamente”). Então é ainda pior. Não só um teste positivo me é completamente inútil, como me será altamente prejudicial. Serei obrigado a manter-me isolado. A minha família será também confinada. E só seremos livres quando tivermos todos dois testes negativos. Mesmo se nos mantivermos completamente saudáveis e sem sintomas. E, como estes testes para o SARS-CoV-2 não detectam apenas vírus vivos e viáveis, mas detectam também vírus mortos e inviáveis, bem como fragmentos e restos de vírus, eu poderei até não estar sequer infectado (ou seja, tenho apenas um teste positivo, mas não tenho vírus vivos e activos dentro de mim) e, no entanto, ter durante muito tempo esses fragmentos de vírus a causarem testes positivos sucessivos e a obrigarem a um prolongamento do isolamento. E o número de testes positivos em pessoas assintomáticas e sem vírus activos será tanto maior quanto mais testes se fizerem, de forma generalizada, a grupos de pessoas sem qualquer sintoma. Como parece ser a estratégia actual: “rastreio intensivo”.

Não encontro utilidade num teste positivo.

Poderão dizer-me: és um egoísta! Os testes positivos identificam pessoas, com sintomas ou assintomáticas, que deverão ser isoladas de forma diferente de quem testa negativo. Os testes positivos poderão não ter utilidade para o próprio indivíduo, mas serão úteis para as outras pessoas e para a sociedade como um todo.

Também aí não concordo. Todo e qualquer doente com um quadro clínico de infecção respiratória deveria ter os mesmos cuidados de isolamento, e não apenas os doentes com SARS-CoV-2. Porque é que os doentes com este vírus têm um tratamento especial, e os doentes com gripe H1N1 ou outra, com pneumonias sem agente identificado (que são quase todas), ou com quadros respiratórios inespecíficos não deverão ter o mesmo tipo de cuidados?

Para além disso, no caso de pessoas assintomáticas com um teste positivo para o SARS-CoV-2 (e se realmente tal corresponder à presença do vírus vivo e viável dentro de si), estas são menos contagiosas do que as pessoas com sintomas. Não conheço evidência segura, nestes casos (assintomáticos com um teste positivo), de que outras medidas sejam melhores e mais adequadas na gestão desta infecção do que o distanciamento social, etiqueta respiratória e lavagem frequente das mãos (que deveriam ser hábito permanente de todos nós, em contexto de qualquer infecção respiratória e não apenas desta).

Não encontro utilidade num teste positivo.

Nada nem ninguém deveria poder obrigar qualquer um de nós a ser submetido a um exame médico com o qual não concorde. Não encontro utilidade num teste positivo, e um teste negativo é uma falsa segurança. Por isso, mantenho a minha afirmação inicial: recuso ser testado para o SARS-CoV-2.