Primeiro foi o Chile.

Em Junho, com cerca de 60% da população vacinada, um surto de Covid-19 forçou um novo confinamento.

Perante este acontecimento inesperado, e logo no país que tinha na altura uma das maiores taxas de vacinação em todo o Mundo, surgiu rapidamente uma explicação: a maioria da população chilena fora vacinada com uma vacina chinesa, seguramente menos eficaz.

E puderam assim sossegar as mentes que continuavam a colocar todos os seus ovos no mesmo cesto, o da vacinação como solução final para a pandemia.

Depois foi Israel.

Aqui, a vacina utilizada foi a da Pfizer. E mesmo assim, com 78% da população maior de 12 anos vacinada, esse país (de população semelhante à portuguesa) assiste hoje a um novo surto de casos (>7000/dia), de internados (>720 em UCI) e de mortos (>30/dia), um surto com um número de casos activos quase tão elevado como o de Janeiro, altura em que não tinham vacinas e eram (a par de Portugal) o país do Mundo com maior incidência da doença.

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Convenientemente longe das notícias da comunicação social e das redes sociais, com a variante Delta e o alívio das restrições como explicações, somente hipotéticas, para este surto, a solução apresentada de forma triunfante é a da necessidade de uma terceira dose de vacina (e a Pfizer esfrega as mãos de contentamento): se duas doses não param a Delta, à terceira será de vez.

Entretanto, em Portugal, são feitas declarações de amor à vacinação, orgulhosos que estamos dos nossos mais de 70% de vacinados. Perante a estabilização do número de casos, de internados e de mortos, que se mantém e teima em não descer mais, viramos a nossa atenção e os nossos louvores para a baixa gravidade dos actuais casos activos de infecção. No entanto, a percentagem de casos activos que necessitam agora de cuidados intensivos (0,4%) ou morrem (0,04%) é superior hoje, com 70% da população vacinada, do que em Agosto do ano passado, quando (sem vacinas nem máscaras obrigatórias no exterior) tínhamos em UCI 0,3% dos casos activos e chegámos a ter 0,008% de mortos.

Ou seja, a vacinação de mais de 70% da população portuguesa não foi acompanhada de uma diminuição da gravidade relativa da doença, quando comparada com o Verão do ano passado.

O que irão as autoridades portuguesas fazer quando, estando cumpridos os nossos objectivos de vacinação, voltarmos a ter um novo surto, como no Chile ou em Israel? Que explicações para esse surto pós-vacinação irão encontrar? Perda da imunidade, novas variantes, incumprimento de regras, início do ano lectivo, o Natal? E com que promessa de luz ao fundo do túnel nos vão então acenar? É que o “até estarmos todos vacinados” já não cola…

Será que nos vão impôr novas medidas e um novo confinamento, inútil e destruidor, encerrando tudo e sequestrando-nos a todos em casa, outra vez, como no Chile?

Ou irão “recomendar” doses sucessivas de vacina, como em Israel, com vacinação da população a cada seis meses, a cada nova variante que surgir, novamente de uma forma “não obrigatória”, mas com sanções e discriminações infinitas para quem não se vacinar?

Ou será que (finalmente!) irão assumir que tudo o que fizeram até hoje foi inútil e desnecessário, que todo o prejuízo causado foi em vão, e que, um ano e meio mais tarde, voltamos a estar (como no início) perante uma doença respiratória viral, impossível de evitar, que devemos aceitar, tratando o melhor possível aqueles que beneficiarem desses cuidados, aceitando as mortes que forem (e são) inevitáveis?

Serão capazes de assumir os prejuízos, sem utilidade, das medidas que impuseram ao longo de ano e meio, medidas que muitos referiram como sendo ineficazes e que agora cada vez mais países afirmam serem inapropriadas, sendo o objectivo de “zero casos” uma utopia impossível?

Aceito votações para qual dos três cenários será o mais provável…