Os últimos quatro anos testemunharam um estreitamento decisivo das relações entre Angola e os Estados Unidos aos mais diversos níveis. A excelente dinâmica entre os dois países deve muito aos esforços concertados da diplomacia Angolana junto da Administração Biden, trazendo frutos muito concretos, não só ao nível político como também – e, mais importante – no domínio económico. Ficaram para a história as imagens do encontro entre os Presidentes dos dois países na Sala Oval, em Novembro de 2023.

E a verdade é que Angola e a sua economia entraram, verdadeiramente, na agenda americana nos últimos anos, talvez como nenhum outro país africano num passado recente. Deixamos dois exemplos recentes e conhecidos de todos:

  1. O apoio aos projetos de energia solar desenvolvidos pela Sun Africa, com recurso a financiamento americano, que ajudará Angola a atingir o objectivo de aumentar a sua taxa de electrificação nacional para 60% até 2025. Este projecto mereceu, aliás, do Presidente Biden uma menção especial (e detalhada!) na Conferência da ONU sobre as Alterações Climáticas (COP27) em 2022.
  2. O interesse americano no Corredor do Lobito, visto pela Administração Biden como uma via para criar uma rede ferroviária interligada do Atlântico ao Índico sendo, portanto, decisivo no domínio do comércio Ocidental e na diversificação de rotas a Oriente.

Compreende-se, por isso, que o Presidente Biden queira assinar o fim do seu mandato com uma visita ao País. Coloca-se, contudo, a questão de saber se a transição para a Administração Trump poderá representar um esfriamento das relações entre os dois países. Julgamos que não por dois motivos:

  1. Por um lado, o Corredor do Lobito é uma infraestrutura estratégica que permite contrabalançar o domínio Chinês sobre a denominada “Rota da Seda” e mitigar a influência da potência asiática sobre o continente africano, reposicionando os Estados Unidos como actor principal. É preciso não esquecer que o Corredor é visto como uma porta de saída estratégica e de acesso directo a matérias primas para o comércio transatlântico (e, em particular, para os Estados Unidos).
  2. Por outro lado, a dimensão de alguns dos projectos actualmente em desenvolvimento em Angola parece demasiado apetecível para que a nova Administração os possa ignorar. Desde logo, existe uma enorme dinâmica no sector portuário, que é decisivo para impulsionar o sector das exportações. Em complemento ao já abordado Corredor do Lobito, a recente abertura do novo aeroporto internacional de Luanda (AIAAN) poderá ajudar a projectar Luanda como um hub É, igualmente, pública a intenção do Governo Angolano em criar projectos de valor acrescentado nas commoditiesmineiras, agregando criação de valor à matéria prima. E, por fim, o programa de privatizações (PROPRIV), cujas empresas de maior dimensão continuam por privatizar, mantém-se uma oportunidade altamente atractiva para investidores americanos. Os test drives efectuados através das privatizações em bolsa (IPO) das participações do Estado Angolano na ENSA e nos bancos BAI e Caixa Angola podem ter oferecido a confiança necessária aos investidores estrangeiros que queiram participar em futuras rondas de privatização.

É conhecida a faceta marcadamente orientada para os negócios da nova Administração Americana. Ora, se tal se confirmar, acreditamos que o caminho, nos próximos quatro anos, não possa ser outro que não o reforço da cooperação entre os dois países e, talvez mais do que nunca, os dois países estejam ainda open for business.

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