Rui Rio não esconde ao que vem: está disponível para fazer um bloco central com o Partido Socialista. Na entrevista que deu ao Público, o candidato admitiu um entendimento com os socialistas após as próximas eleições legislativas. Rui Rio faz dois cálculos. Por um lado, sabendo que será difícil vencer as eleições em 2019, o bloco central permitiria salvar a sua liderança, no caso de ser agora eleito líder do PSD. Por outro lado, está a contar que haja sectores no partido que fiquem agradados com uma partilha de poder com os socialistas. Esperemos que a maioria do PSD recuse claramente essa divisão de poder à boleia do PS.

Depois do debate da passada quinta feira, os socialistas deixaram de esconder a sua preferência por Rui Rio. Os seus comentários nas televisões logo na noite do debate foram claros. Quando vozes do PS elogiam a “elevação de Rui Rio” assim como a sua coragem para criticar a Procuradoria Geral de República, e atacam Santana Lopes, fica tudo muito claro. Preferem Rio à frente do PSD, o que de resto faz sentido. António Costa, cuja reputação em debates e em campanhas não é elevada, prefere certamente enfrentar Rio em vez de Santana. Aliás, o modo como Rio, com a ajuda da imprensa mais próxima do PS, acusou Santana de baixar o nível da campanha é extraordinário. Foi Rio no início do debate que afirmou “agora terei que ser desagradável”, antes de atacar o consulado de Santana como PM em 2004 e 2005. Ficámos a saber: se for apenas Rio a ser desagradável, o debate é elevado. Se Santana ousar fazer ataques desagradáveis, a discussão perde nível.

Para entendermos a preferência do PS por Rui Rio devemos recuar um pouco na história. Antes de 2004, a esquerda temia as capacidades eleitorais de Santana Lopes. Havia ganho as eleições autárquicas na Figueira da Foz e em Lisboa. E na capital derrotou uma frente de esquerda unida no apoio a João Soares. Além das legislativas, há duas eleições onde a derrota custa particularmente aos socialistas. Nas presidenciais, visto que o PS, dadas as suas origens ‘republicanas’, considera que goza de um direito natural à Presidência da República. Não espanta nada que procurem descredibilizar as presidências de Cavaco, tal como atacarão mais tarde ou mais cedo a presidência de Rebelo de Sousa. Nenhum político de direita que ouse ganhar Belém será poupado.

A outra eleição cara aos socialistas é a corrida à autarquia de Lisboa. Desde Krus Abecassis, Santana Lopes foi o único líder à direita que conquistou a capital. Lisboa foi o trampolim de Sampaio para Belém e de Costa para São Bento. Para os socialistas, a capital do país deveria ser um domínio exclusivo. Ora Santana Lopes colocou em causa o direito natural do PS à autarquia de Lisboa. A esquerda nunca lhe perdoou, tal como não perdoou Cavaco nem perdoará Marcelo. E o PS passou a recear o “mel”, na famosa expressão de João Soares, de Santana em eleições. A partir daí, toda a esquerda passou a atacar Santana, visto como um triunfo eleitoral do PSD. Em 2005 as esquerdas aproveitaram a falta de mandato eleitoral de Santana para o tentar destruir politicamente. Não tenho qualquer dúvida que depois do debate com Rui Rio, muitos socialistas voltaram a ficar com a dúvida: será que Santana ainda tem mel? O PS é um partido altamente profissional e uma máquina de poder. Não facilita nem brinca com coisas sérias. Por isso, já começou a atacar Santana e a proteger Rio.

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A opção de um bloco central daria a António Costa uma maior capacidade de negociação com o Bloco de Esquerda e com o PCP. As esquerdas radicais saberiam que o PS teria uma alternativa. Em política, o aumento da margem de manobra é um activo importante. Além disso, colocaria o PS no centro do sistema político, um objectivo histórico dos socialistas e ainda mais necessário depois da geringonça. Estou certo que não haverá um consenso no PS favorável a um bloco central, mas não tenho dúvidas que haverá socialistas influentes que queiram um entendimento com um PSD de Rio.

Um bloco central entre Costa e Rio seria ainda uma coligação destinada a enfraquecer Marcelo Rebelo de Sousa. Sabemos que Rio tem uma relação difícil com o Presidente da República e que Costa estará a ficar desagradado com o protagonismo de Marcelo. Um bloco central entre o PS e o PSD marginalizaria o Presidente da República para um plano político mais secundário.

A menos de uma semana das eleições no PSD, os seus militantes enfrentam agora uma escolha clara. De um lado, um candidato está preparado para fazer uma coligação como parceiro menor com o António Costa, o homem que recusou aceitar a vitória eleitoral de Passos Coelho. Ou seja, Rio reconheceria a Costa o que Costa não reconheceu a Passos. Do outro lado, Santana já recusou liminarmente entendimentos com o PS e um bloco central. Com a sua liderança, o PSD lutará para ganhar e não para substituir o PCP e o BE. Dito de um modo mais claro, no dia 13 os militantes do PSD vão decidir se querem que o seu partido seja uma alternativa de governo ao PS, ou se querem reduzi-lo a uma espécie de PS/B.