Manhã de 26 de dezembro, oiço na Rádio Observador o Paulo Ferreira explicar que o Governo vai ver-se bastante aflito para gastar sete mil milhões de euros, metade do orçamento anual para a saúde, para que os portugueses não descubram que o Estado tem lucros excessivos enquanto eles empobrecem com a inflação.

Tendo em conta que 2022 foi o ano em que vários serviços públicos entraram em rotura, com a saúde e a educação à cabeça, custa a perceber que seja este o dilema que o Governo tem de resolver no final do ano. Gastar dinheiro à pressa e sem critério? Algo tem de estar muito errado para isto acontecer num país com quatro milhões de pobres, com uma economia bloqueada que não consegue crescer ou gerar oportunidades à geração mais qualificada de sempre.

Em qualquer família ou empresa, os lucros imprevistos servem para introduzir melhorias, fazer investimentos duradouros e resolver problemas antigos. A ninguém ocorre gastar o dinheiro à pressa e de qualquer maneira com o objetivo de que não se perceba que há ali dinheiro a mais. A tarefa de melhorar as condições de vida ou de negócio é uma tarefa em permanente evolução.

Os cofres do Estado estão cheios e essa circunstância devia servir para encarar alguns dos problemas que impedem o nosso desenvolvimento, aproveitando a oportunidade para mudar esse estado de coisas. Equilibrar as contas é importante, mas não é tudo. Até porque, num país com tantos desequilíbrios, o milagre das contas certas é sempre uma realidade fugaz.

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Baixar impostos é urgente e é precisamente pela excessiva cobrança de impostos que o Estado está com os cofres cheios. Ou seja, se o Governo tivesse abdicado de uma parte do imposto que cobrou a mais devolvendo esse dinheiro à sociedade, talvez não tivesse de dar esmolas de fim de ano a muitos portugueses, porque o país estaria melhor em vez de mais uma vez estar a descer degraus na escada dos países da União Europeia.

Lembram-se de como o PS acompanhou o país no clamor contra “o enorme aumento de impostos” de Vítor Gaspar? Saibam que em mais de sete anos de Governo socialista “o enorme aumento de impostos” não só não decresceu, como até aumentou.

Lembram-se das proclamações de António Costa sobre a ineficácia das políticas de austeridade para resolver as crises? Olhem bem para as vossas carteiras e perguntem-se se a austeridade foi embora.

Nos anos da Troika, os impostos eram para pagar o empréstimo que o Governo Sócrates nos obrigou a pedir para ultrapassar as consequências da sua governação negligente. Agora esse sacrifício serve para manter os portugueses agarrados à esmola que o Senhor Primeiro-ministro lhes quiser dar, fazendo-os assim reféns de um poder político que tem como único objetivo eternizar-se no poder. Ainda que para isso conduza o país à pobreza e à irrelevância.

Os campeões do Estado Social são afinal os que preferem dar esmola aos pobrezinhos. Perseguem as empresas que alegam terem lucros excessivos e escondem o mealheiro onde guardam o dinheiro que esmifraram à sociedade.

Viva o Socialismo.