Eis o primeiro governo verdadeiramente paritário: metade dos ministros são irrelevâncias, metade são calamidades. Todos prestam vassalagem ao dr. Costa, cujas escolhas humilham deliberadamente um eleitorado que não se dá mal com humilhações. O governo é mau? Mau é favor. O governo é uma prova de que pior é sempre possível. Por sorte, desta vez não faz grande diferença. Vinte e cinco anos de socialismo quase ininterrupto lançaram-nos para uma penúria sem grandes hipóteses de redenção. As alucinadas brincadeiras em volta da Covid e as vigentes insinuações de guerra mundial reduziram a redenção a uma anedota.
Em suma, estamos tão desgraçados que já nem o PS poderá desgraçar-nos muito mais. O PS, de resto, resumirá a legislatura à distribuição dos milhões que chegam da Europa, enquanto chegarem. Lamentar que o governo não seja, cito, “reformista” é igual a criticar um calabouço cubano por não ter jacuzzi. O governo é o que é: uma caderneta de figurinhas repetidas, raspadas pelo dr. Costa do fundo da gaveta, e que apenas por desfastio a imprensa teima em apresentar individualmente. Vamos a isso.
Ana Abrunhosa, ministra da Coesão Territorial. O território está coeso, pelo que a senhora deve estar a trabalhar bem. Em 2017, durante os incêndios de Pedrógão e Leiria, a dra. Ana presidia, por nomeação do governo PSD-CDS, à CDCR do Centro, pelo que a competência não nasceu ontem.
Ana Catarina Mendes, ministra adjunta e dos Assuntos Parlamentares. Uma senhora que existe. Existe há anos, sem se perceber bem porquê ou para quê. Não será desta que ficaremos esclarecidos.
Ana Mendes Godinho, ministra do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social. O trabalho é espezinhado por leis e subserviência estatal. A segurança social tem os pés para a cova. E, tal como não o faria com a da Amizade ou a da Devoção, não comento “pastas” com sentimentos no nome.
António Costa Silva, ministro da Economia e do Mar. Poeta, no sentido em que alinha frases umas por baixo das outras de modo a formarem estrofes. Nas horas vagas, orientou os destinos do PRR: 99,99% para o PS, perdão, o Estado; 340 euros para a ralé. Ao contrário dos companheiros de governo, tem experiência no sector privado, infelizmente ao serviço da oligarquia angolana e de petrolíferas que acabaram falidas.
Catarina Sarmento e Castro, ministra da Justiça. Como quase tudo, a Justiça é hoje uma metástase do PS. Aposto que a senhora dona Catarina garantirá que assim continua.
Duarte Cordeiro. ministro do Ambiente e Acção Climática. Não sei quem é. Sei que a designação do ministério já inclui a respectiva finalidade: fingir que se salva o mundo de ameaças vagas enquanto, de forma menos vaga, estraçalhamos a economia, colocamo-nos na dependência energética de regimes totalitários e evoluímos rumo à Idade do Bronze.
Elvira Fortunato. ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Não conheço. Li que é cientista, sportinguista e, juro, aspirante ao Nobel, ignoro em qual das qualidades. Por mim está bem.
Fernando Medina, ministro das Finanças. Os méritos exibidos nas contas de uma simples autarquia, que deixou em farrapos, justificam a promoção do homem. O apoio escancarado a uma presidente de Junta que assaltava os munícipes atestam-lhe a seriedade. A delação de opositores do sr. Putin conferem-lhe a aura internacional indispensável ao actual contexto geo-político. Uma escolha sem mácula, e uma humilhação dos eleitores que os eleitores merecem.
Helena Carreiras. ministra da Defesa. Caipiras de várias inspirações acham fantástico, ou lastimável, que uma mulher ocupe o cargo. Meus caros, o sexo é secundário: a formação em sociologia que a senhora ostenta com orgulho é que não é. Os jornais dizem que os interesses dela versam a “integração de género nas Forças Armadas”. E não precisam dizer mais.
João Costa, ministro da Educação. Fui pesquisar. Descobri um artigo no “Público” em que o sujeito, então secretário de Estado do ramo, exaltava com empenho e péssimo português a disciplina de Cidadania, que confundia com a cidadania propriamente dita. Um ignorante mal educado, pois. Sobe ao lugar certo.
João Gomes Cravinho, ministro dos Negócios Estrangeiros. Na Defesa, vestia camuflado para uns números giros. Se arranjar um fato civil, talvez continue a passar despercebido entre a monumental insignificância da nossa diplomacia.
José Luís Carneiro, ministro da Administração Interna. A menos que desate a mutilar velhinhas na via pública para lhes roubar a bolsa, tem tudo para ser um progresso face ao antecessor.
Maria do Céu Antunes, ministra da Agricultura e da Alimentação. Há dois anos, saiu da obscuridade para anunciar que a Covid beneficiaria a exportação de carnes nacionais para a Ásia. Dez minutos depois, regressou à obscuridade. Das bifanas não há notícia.
Mariana Vieira da Silva, ministra da Presidência do Conselho de Ministros. É aquela senhora que aparece sempre a dormir, a rir ou a revirar os olhos em eventos públicos. Consta que às vezes diz umas coisas, que nunca ninguém ouviu porque tendemos a dormir, a rir ou a revirar os olhos quando ela fala. Vai coordenar o PRR, aliás já devidamente coordenado em prol do PS. Subiu a “número dois” do governo. Parabéns.
Marta Temido, ministra da Saúde. Há dois anos que espalha medo a pretexto da Covid, ajuda indispensável à nossa penúria presente e ruína futura. Gosta do hino da Intersindical e do SNS, sem gostar de música nem de médicos. Não cumprisse ordens de cima, seria responsável pelo adiamento ou cancelamento de incontáveis consultas e cirurgias. Num país que, após um rali, levaria ao pódio o condutor que atropelasse mais espectadores, a dra. Marta é muito popular.
Pedro Adão e Silva, ministro da Cultura. Depois de uma carreira a fazer recados ao Benfica e ao PS, tornou-se nomeação óbvia para organizar as comemorações do 25 de Abril. Agora, torna-se nomeação óbvia para a Cultura. Seria nomeação óbvia para qualquer cargo, contanto que pudesse obedecer à vontade.
Pedro Nuno Santos, ministro das Infraestruturas, Transportes e Habitação. É outro animal feroz produzido no Rato: morde as canelas de banqueiros alemães, calunia empresários irlandeses, assalta contribuintes portugueses, etc. Com semelhantes talentos, é natural que sonhe suceder ao dr. Costa para, em definitivo, transformar isto numa Venezuela sem trópicos. Mas o dr. Costa, o seu espantoso governo e a realidade são bem capazes de o conseguir sozinhos.