Acompanhei à distância o nascimento do Observador. Gostei da ideia desde o início e acreditei sempre que seria um sucesso. Há três razões que me fazem gostar de escrever no Observador. A primeira é o facto de ser um jornal online. Gosto da anarquia que isso possibilita. Podemos escrever e enviar textos a qualquer hora do dia, sem a rigidez habitual dos jornais, e rapidamente o artigo é colocado online. Esta anarquia é criativa e faz-nos sentir livres. Numa sociedade tão convencional como a portuguesa – onde até os antigos revolucionários se tornaram conservadores, senão mesmo reacionários – esta anarquia é saudável. Mais importante, prende os leitores. Os leitores do Observador são permanentes, e não apenas matinais.
A segunda razão tem a ver com o posicionamento ideológico e político do Observador. Os seus jornalistas e colaboradores não pensam certamente da mesma maneira sobre todos os assuntos. Já discordei de muitos artigos escritos no Observador. Também acho que muitos discordariam da definição do Observador como uma publicação de direita – ou pelo menos consideram que não é a sua característica essencial. Mas é certamente um jornal que vai contra a cultura política dominante em Portugal, defende valores liberais e conservadores, provoca e obriga a pensar. Acima de tudo, é um jornal onde a liberdade é o primeiro e mais importante valor. O único factor que me condiciona são as minhas ideias e os argumentos em que acredito.
Os comentários são a última razão que explica o meu gosto em escrever no Observador. Leio todo o tipo de comentários. Há os que gostam e concordam com os meus artigos. Muitos discordam ou julgam que estou errado. Alguns não gostam mesmo nada do que escrevo, e acham que sou superficial, simplista, que estou sistematicamente errado. Aceito todas as críticas (tal como gosto dos elogios). Mesmo que não concorde com elas, e mesmo quando me parece que alguns comentário têm apenas o objectivo de descredibilizar o Observador, penso que foi uma excelente decisão dos editores. Quem escreve em público tem que estar preparado para todo o tipo de escrutínio sobre as suas ideias e sobre os seus argumentos.
Faço apenas dois reparos às críticas que me fazem. Em primeiro lugar, seria desejável concentrarem-se mais nos argumentos do texto e menos em ataques pessoais que são completamente inúteis. Não conheço uma única pessoa que tenha feito comentários aos meus artigos (a não ser que escreva sob um nome falso, o que o torna absolutamente irrelevante). Por isso, ignoro os ataques pessoais. Pelo contrário, não ignoro as críticas aos artigos. Respeito-as e levo-as a sério.
O segundo reparo dirige-se às críticas que fazem a uma suposta instrumentalização dos meus argumentos. Não tenho qualquer problema em defender o governo; e no essencial concordo com o que este governo tem feito. Mas nunca discuti os meus artigos com alguém do governo. Nem nunca o farei. E devo dizer que nunca ninguém do governo tentou sequer discutir o que escrevo. Aliás, vivo fora de Portugal e quase não falo com quem está no governo. Também não aspiro a ocupar algum lugar político. Trabalhei seis anos com Durão Barroso na Comissão Europeia, com muito orgulho e onde aprendi muito. Fui convidado e aceitei. Quando achei que tinha chegado a hora de sair, saí. Nunca pedi nada a ninguém. Decidi que queria trabalhar no sector privado e fui para Londres para o fazer, de novo como resultado de um convite. Tenciono continuar a trabalhar no sector privado durante muitos anos.
Acredito profundamente no que escrevo. Estarei certo, ou errado, mas são as minhas ideias. Aceito todas as críticas, mas estou disposto a defendê-las. Pelos comentários, vejo que agrado a alguns e irrito outros. Como cronista, é o que devo fazer; e sinto-me bem com isso. Agradeço a todos os leitores que durante o último ano concordaram e discordaram de mim. Não há maior prazer do que viver numa sociedade aberta e livre.